TERRA FRÁGIL

A Terra é redonda, frágil e poderosa. Por Paulo Renato Coelho Netto

… Os idiotas não podem acabar com a raça humana.  A Terra é redonda, frágil e poderosa.

TERRA FRÁGIL

Chuvas torrenciais nunca registradas no Rio Grande do Sul. O Rio Paraguai, por sua vez, no Pantanal, atingiu o pior valor histórico observado em algumas estações de monitoramento ao longo de sua calha principal.

A distância que separa esses dois extremos climáticos é de pouco mais de 1.500 quilômetros, entre Aquidauana, em Mato Grosso do Sul, e Porto Alegre (RS).

Tudo acontece ao mesmo tempo e agora.

Os dados apurados pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul são apenas para ilustrar, para quem não vive na região, o tamanho da calamidade. O levantamento é do dia 30 de maio, às 18 horas.

São 473 municípios afetados, 45.126 pessoas estão em abrigos: 581.638 desalojados;  Mais de 2,3 milhões de afetados: 806 feridos: 44 Desaparecidos; 169 óbitos confirmados: 77.729 pessoas resgatadas: Mais de 12,5 mil animais retirados do que restou das casas. O efetivo de profissionais mobilizados para trabalhar em resgates, salvamentos e atendimentos médicos ultrapassa 28 mil pessoas.

A Declaração de Situação Crítica de Escassez Quantitativa dos Recursos Hídricos da Região Hidrográfica do Paraguai foi aprovada no dia 13 de maio pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

A se manter a estiagem no pantanal até outubro deste ano, quando se inicia o período de chuvas, o bioma pode sofrer a maior seca histórica já registrada.

Além dos danos causados diretamente pela falta de água, aumenta o potencial de incêndios na região, com prejuízos incalculáveis para a fauna, a flora e o homem pantaneiro.

A chuva acumulada em maio de 2024 em Porto Alegre chega a inimagináveis 513,6 mm, segundo levantamento da agência meteorológica MetSul.  A média de precipitação mensal é de 112,8 mm.

É o mês mais chuvoso na região desde que a análise passou a ser feita, em 1910.

Em 2023 o Pantanal registrou um aumento de 59,2% no desmatamento em relação a 2022. A quase totalidade (99%) aconteceu dentro das áreas privadas na cidade de Corumbá (MS).

Os eventos extremos de seca no bioma são apontados como uma das consequências do desmatamento.

Vizinho da parte alta do pantanal, o Cerrado foi o bioma mais desmatado do Brasil em 2023, ultrapassando a Amazônia, revela o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD), elaborado pelos pesquisadores do MapBiomas. O desmatamento aumentou em 67% nos últimos 12 meses.

A destruição, de acordo com o RAD, avança pelo Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, a fronteira agrícola em expansão que responde por quase metade 47% de perda de vegetação.

Em nome da preservação do meio ambiente, estão destruindo o que resta da natureza. Na Caatinga, o desmatamento subiu 43,3% em 2023 em relação ao ano anterior. Cerca de 4 mil campos de futebol foram desmatados no bioma para a implantação de usinas de energias renováveis – eólica ou solar.

Nos últimos 30 anos, o pantanal perdeu 60% da cobertura de água. De acordo com o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD), as  terras do Pantanal têm sido convertidas em pasto plantado.

O pantanal é – ou era – a maior planície alagada do mundo. O bioma vive há milhares de anos da alternância natural entre períodos de seca e chuva. Há anos não ocorrem cheias.

Olhando para fora da casa brasileira, a vizinhança não vive seus melhores dias.

Para cientistas, há algo de anormal até no período normal de tornados nos Estados Unidos. Somente no domingo, 26 de maio, 14 tornados ocorreram em três estados, atingindo 120 milhões de moradores. Casas inteiras indo pelos ares.

2024 já é o pior ano da história americana com registros de tornados. Até 26 de maio foram duas semanas seguidas com o fenômeno todos os dias.

Os tornados ocorrem quando o ar quente do solo se choca com o ar mais frio que está na parte alta. O que é comum nesta época do ano está se tornando excepcional devido ao aquecimento global.

Diariamente, assistimos notícias de enchentes pelo mundo todo. Cada vez mais fortes, com vítimas fatais, desalojados e desabrigados.

Ondas de calor no verão europeu matam principalmente os mais idosos.

De acordo com levantamentos da NASA, “observações de satélite revelam que a quantidade de neve primaveril no Hemisfério Norte diminuiu nas últimas cinco décadas e a neve está derretendo mais cedo. O número de eventos recordes de altas temperaturas nos Estados Unidos tem aumentado, enquanto o número de eventos recordes de baixas temperaturas diminuiu desde 1950. Os EUA também testemunharam um número crescente de eventos de chuvas fortes”.

O México tem sofrido com a cúpula de calor, um fenômeno climático de alta pressão que aprisiona o ar quente sobre boa parte do país. As temperaturas recordes ultrapassaram os 45 graus Celsius entre 12 e 21 de maio. Vinte e duas pessoas morreram.

A Índia, neste momento, também enfrenta uma onda de calor extremo jamais registrada. Na quarta-feira, 29 de maio, os termômetros marcaram 52,3 graus Celsius na capital, Nova Delhi. A cidade tem 30 milhões de habitantes.

Sob as mesmas condições, o vizinho Paquistão teve pico de temperatura estimado em 53°C na semana.

Uma das maiores geleiras do planeta está arriscada de colapsar em um futuro próximo. A geleira Thwaites, a maior da Antártida Ocidental, apelidada Geleira do Apocalipse, ou Geleira do Juízo Final, está em franco processo de derretimento devido ao aquecimento global.

Algo tem que ser feito antes que inunde milhares de cidades litorâneas mundo afora. A Thwaites tem cerca de 160 km de extensão.

Há menos de 30 anos tínhamos, no Brasil, estações do ano bem definidas. Primavera, verão, outono e inverno. Hoje, no mesmo dia, não raramente, vivemos as quatros estações.

A pandemia mundial de Covid-19 poderia, pelo menos, ter servido para que todos entendessem, definitivamente, que o que acontece do outro lado do mundo pode e vai afetar toda a humanidade.

Pensar, discutir, planejar e proteger o meio ambiente tornou-se vital para a sobrevivência da humanidade.

O que está acontecendo no Rio Grande do Sul é uma calamidade de proporções históricas e inimagináveis, que poderá acontecer com todos nós também em outras regiões do país.

De acordo com apontamentos da NASA, o aquecimento global está acontecendo em um ritmo nunca visto nos últimos dez mil anos.

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), “desde que as avaliações científicas sistemáticas começaram na década de 1970, a influência da atividade humana no aquecimento do sistema climático evoluiu da teoria para o estabelecimento de fatos”.

Ainda, de acordo com levantamentos de cientistas da NASA, “a temperatura média da superfície do planeta aumentou cerca de dois graus Fahrenheit – um grau Celsius – desde o final do século XIX, uma mudança impulsionada em grande parte pelo aumento das emissões de dióxido de carbono na atmosfera e outras atividades humanas. A maior parte do aquecimento ocorreu nos últimos 40 anos, sendo os sete anos mais recentes os mais quentes. Os anos de 2016 e 2020 estão empatados como os anos mais quentes já registrados”.

No livro Sapiens, obra-prima do escritor Yuval Noah Harari, o autor descreve que, desde que deixamos as cavernas, onde o ser humano chegou as espécies animais diminuíram ou exterminadas.

Nossa tendência é o extrativismo sem limites. Deu no que deu. Precisamos adotar formas sustentáveis de viver.

Assim como aconteceu com as recomendações de distanciamento social, uso de máscaras, higienização das mãos e, posteriormente, com a vacina contra o vírus da Covid-19, ouvir e seguir a ciência será determinante para nossa sobrevivência e da natureza.

Os idiotas não podem acabar com a raça humana.

A Terra é redonda, frágil e poderosa.

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paulo rena

Paulo Renato Coelho Netto –  é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”.

 

capa - livro Paulo Renato

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