quem parte leva

Quem parte leva…Blog Mário Marinho

quem parte leva

Quem parte leva…

…saudades de alguém

Que fica chorando de dor…

Não estou aqui falando da saudade que fica daquela pessoa que parte eternamente.

Recorro à melodia de Henricão e Rubens Campos para falar da saudade daqueles que estão indo embora.

A música é de 1941 que a dupla acima compôs tendo como inspiração a mexicana “Cielito lindo”.

A bela e chorosa canção tornou-se grande sucesso no carnaval de 1942, quando eu ainda não era nascido. Provavelmente, nem você.

Recordo aqui outra situação.

Situação daquelas pessoas que, sem a menor cerimônia, entram em sua vida, passam a fazer parte dela no dia a dia, alimentam seus sonhos, suas esperanças, arrancam aplausos e lágrimas e depois, também na maior sem-cerimônia, vão embora.

Endrick está indo embora do Palmeiras.

Na semana passada, o ídolo gigante Cássio deixou o Corinthians e foi sentar praça em outras paragens. Lá na bela Belo Horizonte.

Paulinho, também egresso daquele time corintiano que foi campeão do mundo em 2012, também se despediu.

Quando Endrick começar a marcar seus gols na charmosa Champions League, o coração do torcedor palmeirense há de ficar um pouco apertado. Ou muito.

Houve um dia que até Pelé se despediu. Deixou saudades do Pelé em campo, mas continuou sendo exibido nas telas de televisão, nas páginas de revistas e jornais do mundo inteiro, o que serviu para segurar um pouco a saudade.

Até que ele se foi para não mais voltar.

Há quem defenda que rei morto, rei posto.

Mas não é bem assim.

Quem não sente saudades de Pelé? E não é preciso ser torcedor do Santos. Pelé foi universal.

Lembro-me aqui de uma passagem lá no começo dos anos 80, quando fui a Israel cobrir a Macabíada – uma olimpíada para atletas de origem judaica.

Moisés Rabinovici era, então, correspondente do Jornal da Tarde em Israel.

Amável e prestativo como sempre, resolveu nos levar – a mim e ao jornalista Luíz Carlos Ramos que também fazia cobertura do evento para o Estadão e mais três ou quatro amigos que não eram da imprensa –para jantar em um restaurante árabe de Tel Aviv.

Restaurante ao ar livre aproveitando o ar quente e seco daquelas paragens, céu limpo, lua cheia, a perspectiva de saborear a farta e saborosa comida árabe formavam a paisagem ideal para aquela noite.

Até que…

Até que resolvemos pedir um litro de vinho branco.

Os dois garçons árabes que nos atendiam, fecharam a cara em desaprovação e, se sentindo ofendidos, recusaram, com pouca delicadeza, nos servir.

Moisés Rabinovici que, entre outras línguas fala também o árabe, quis saber o motivo daquela mudança no atendimento até então muito cordial.

O garçom respondeu monossilábico:

– Ramadan.

Rabino virou-se para nós e disse:

– É Ramadan.

– E daí?, perguntamos.

Rabino explicou:

– Ramadan é o mês de jejum árabe. Eles só podem beber água o dia inteiro. Não comem nada. Bebida alcóolica nem pensar.

– Mas, e daí? Eles não vão beber, nós é que vamos beber.

Rabino argumentou com os garçons, mas eles permaneciam irredutíveis.

Pacientemente, Rabino explicou para os dois que nós éramos turistas e estávamos ali por causa da Macabíada. Tínhamos vindo do Brasil.

O garçom olhou assim admirado e perguntou para se certificar:

– Brasil? Brasil?

Diante da confirmação do Rabino, o garçom escancarou imenso sorriso e exclamou com alegria:

– Belé! Belé! Quase gritou trocando o “P” pelo “B” como fazem normalmente os árabes.

Rabino, rápido, entendeu que o campo estava aberto e apontou para mim e para o Luiz Carlos e chutou com rara eficiência:

– Os dois são jornalistas esportivos no Brasil. Eles entrevistam o Pelé todos os dias. Já são amigos, muito amigos.

Os dois garçons olharam pra gente com profunda admiração. Pensei até que eles iriam nos pedir autógrafos.

Disseram que iriam conversar com o patrão.

Minutos depois, voltaram com a solução salomônica que o Rabino nos explicou.

– Eles estão explicando que no Ramadan eles não podem ingerir bebida alcóolica e nem mesmo pegar num vasilhame, numa garrafa que contenha qualquer bebida alcóolica. Se nós não nos importarmos de pegar a garrafa de vinho na geladeira, abrir e a gente mesmo se servir, está tudo bem.

E foi assim que Pelé – ou melhor Belé – nos liberou o vinho branco que tornou muito mais agradável aquela nossa noite quente em Tel Aviv.

Aí, ouço a voz forte e bonita de Tim Maia:

E eu
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você…

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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi FOTO SOFIA MARINHOdurante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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