ética e chororô

A ética e o chororô. Blog Mário Marinho

ética e chororô

Os jogadores do Santos partiram, em arrastão, para cima do atacante Renato Marques (foto acima), do América de Minas, que acabara de cumprir sua obrigação dentro de campo: fazer gol lícito para o seu time.

Exigiam, os santistas, em nome da ética, que o jogador do América tivesse parado o jogo para atender o goleiro santista, João Paulo, que, como se verificou depois, estava mesmo machucado.

Minutos depois, o atacante santista Wesley foi derrubado por um defensor americano e ficou estatelado em campo. O juiz observou a lei da vantagem e mandou o jogo prosseguir.

Os santistas não deram a menor bola para o companheiro caído e continuaram o jogo que só foi interrompido pelo juiz, depois de constatar que o jogador continuava caído.

Nesse segundo lance, onde estava a ética que os santistas reclamaram no lance do gol americano?

Vamos analisar friamente o lance.

Por que o juiz não parou o lance antes do gol?

O juiz só pode parar o jogo em caso de flagrante desrespeito à lei do jogo.

Houve desrespeito à lei?

– O atacante pegou a bola com a mão, o que seria uma infração?

Não. Nesse caso, não se pode cobrar ação do juiz ou do VAR.

O atacante do América cometeu alguma infração? Um empurrão no goleiro? Segurou pela camisa? Um pontapé? Tentou enganar o goleiro gritando “é minha”? Um tranco ilegal?

Não, não houve nada disso.

Então, não há por que exigir a paralisação do lance.

Ah! mas o goleiro estava caído, machucado.

Como o atacante não é médico, não há por que exigir dele um diagnóstico em lance – diagnóstico que, devido à rapidez do lance, seria difícil até para o médico que preside a Organização Mundial da Saúde.

Não encontrado nenhum dos gravames citados há ainda outro aspecto importante.

Quantas vezes assistimos, no decorrer de um jogo, a lances em que o jogador cai, rola, estrebucha, levanta a mão em sinal desesperado de socorro e no segundo seguinte está de pé, bate com a sola da chuteira no gramado e jogo que segue?

Quantas vezes? Quantas?

Você já viu o Neymar fazer isso?

O que aconteceu na exagerada e desmedida reação dos jogadores do Santos foi o que o jogador do América, Alê, declarou à TV Bandeirantes ao final do jogo.

– O futebol brasileiro precisa parar com essas hipocrisias. O Renato cumpriu o papel dele, fez o gol. Eu também faria. Não fazer o gol seria uma atitude impensada para um profissional.

Além disso, eu ainda acrescento: falta de respeito com o torcedor do time dele.

Pense nessa situação: ele não faz o gol, o Santos vai lá, marca e vence por 1 a 0. Qual o futuro desse jogador no seu time?

Não contentes, os jogadores do Santos partiram novamente pra cima do Renato após o jogo.

Absurdo.

Pense em outra situação. Final do Brasileirão na Neo Química. Jogam Corinthians, que precisa vencer, contra o Palmeiras que pode ser campeão com o empate.

Aos 49 minutos do segundo tempo, o Corinthians parte com tudo em busca do gol do título. Yuri Alberto recebe a bola na marca do pênalti, livre e sem impedimento. O goleiro Weverton vai ao seu encontro e cai.

Yuri Alberto, cavalheirescamente, chuta a bola para fora.

O jogo termina e o Palmeiras é campeão.

O que acontecerá com sir Yuri Alberto?

Como disse o Alê, chega de hipocrisia.

 Belo jogo,

bela solidariedade.

 Foi a bonita a festa de jogadores e artistas ontem no Maracanã, na festa de solidariedade para ajudar os irmãos do Sul.

Foi bonita nas arquibancadas com a presença de 33 mil torcedores, foi bonita dentro de campo com um espetáculo de rara beleza: muitos gols, jogadas bonitas.

Lembrou-me aquelas apresentações dos Globetrotters do basquete, um espetáculo que lotava os ginásios.

Parecia que nenhum dos dois times queria perder, embora não estivesse valendo nada.

Com muita saudade lembrou-me também dos jogos de truco lá em Belo Horizonte, nas tardes de domingo na casa de meus saudosos pais.

Eram tantos os gritos, tanto empenho, tanta paixão que vez por outra alguém perguntava:

– Tá valendo o quê?

E meu pai que não gostava de perder, explicava pacientemente:

– Tá valendo pau de fósforo riscado.

Acima de tudo, o prazer, a alegria, o passatempo, a diversão.

E, no caso do Maracanã, a solidariedade.

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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi FOTO SOFIA MARINHOdurante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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