Cultura invisível e sob ataque. Por Adilson Roberto Gonçalves
Os ataques são constantes e plurilocalizados. Sempre. A cultura é o local de resistência social, ainda que grupos de extrema direita consigam ocupar espaços de cultura…
Os ataques são constantes e plurilocalizados. Sempre. A cultura é o local de resistência social, ainda que grupos de extrema direita consigam ocupar espaços de cultura. Incompatibilidade de princípios, feito o agente da ditadura, torturador, que, em casa, era pai e marido exemplar, amoroso. A índole não muda, pois o local privilegiado de vivência permite atuar na cultura passivamente, usufruindo e deleitando-se com o que é apresentado, sem o esforço da criação militante, questionadora. Vai a espetáculos enquanto a atividade cultural não ameaça seu status quo.
A manifestação cultural dos invisíveis é resistente, mas, no momento, no estado de São Paulo, é a TV Cultura que volta a ser explicitamente atacada. Ao menos seus defensores vêm a público, em artigos importantes nos jornais da capital paulista.
No que pese o desconhecimento ou preconceito que o ex-presidente da Fundação Padre Anchieta – a mantenedora da TV Cultura –, Roberto Muylaert, tem em relação a outras empresas estatais, como a Embrapa, seu artigo “TV estatal não funciona” (Folha de S. Paulo, 21/4) é um robusto alerta com o que pode acontecer na TV Cultura.
O desmonte da Cultura como um todo em São Paulo era esperado, pois é cópia do que foi feito no âmbito federal pelo presidente anterior, mentor do governador fluminense que habita o Palácio dos Bandeirantes. Medidas que são pura cópia carbono, talvez criadas pelo ChatGPT.
A TV Cultura sobreviveu a tantos governos e retrocessos, mas não condiz com a lógica da extrema direita. E essa nem é a parte invisível das manifestações culturais.
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– Adilson Roberto Gonçalves – pesquisador da Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista. Vive em Campinas.