Fiasco do 1° de Maio. Por José Horta Manzano
… Fiasco…O comício que Lula da Silva convocou para o 1° de maio foi um furo n’água. Você assistiu? Nem eu. Comparando com os sucessos de bilheteria do capitão, dá pena ver o grupo magrinho de admiradores que foram ouvir o Lula…
O comício que Lula da Silva convocou para o 1° de maio foi um furo n’água. Você assistiu? Nem eu. Comparando com os sucessos de bilheteria do capitão, dá pena ver o grupo magrinho de admiradores que foram ouvir o Lula. Qualquer cantor(a) de renome atrairia mais gente que o velho guerreiro de Garanhuns. Como é possível que o antigo torneiro mecânico, que eletrizava multidões até algum tempo atrás, tenha perdido o charme? Qual é a razão, afinal, do fiasco de público?
A maioria dos analistas explicam, com razâo, que a esquerda murchou e que o mundo que Lula deixou ao sair da Presidência mudou muito sem que ele perceba. É verdade, mas não pode ser só isso. O mundo mudou, sim, mas, dede o ano de 2010, a Terra não passou a girar ao contrário. Mudanças houve, mas não a ponto de cortar a conexão entre o Lula e o povo.
A meu ver, o buraco é um pouco mais embaixo. Mudou o mundo e Lula, que insiste em não aceitar isso, continua a fazer de conta. Mas acredito que, nessa explicação, está faltando um ingrediente.
Acredito que o grande fator que elegeu Lula em 2022 foi o desejo de milhões de eleitores de se livrarem do capitão. Se o adversário de Luiz Inácio fosse qualquer outro, Lula muito provavelmente teria fracassado. Ele só foi eleito, repito, para derrubar Bolsonaro e desalojá-lo do Planalto.
O fato de ter sido eleito praticamente sem um esboço de programa de governo é forte indício de que, para os eleitores, isso era mero detalhe. Votaram nele assim mesmo.
A última eleição foi diferente das anteriores. Enorme contingente de brasileiros estavam fartos de Bolsonaro e queriam se livrar dele. Acredito que qualquer adversário que não fosse o Lula teria vencido por margem até mais ampla do que os magros 50,9% do antigo metalúrgico. É que, para um número considerável de eleitores, Lula era tão repulsivo que votar nele era impensável.
A meu ver, o ingrediente que está faltando nas análises que li é o fator cansaço. O Brasil está cansado de Lula. Veja só, a candidatura de Lula à presidenciais equivale, guardadas as proporções, à candidatura de um Collor de Mello. Há diversos pontos comuns entre eles. Ambos foram presidentes. Ambos deram boa contribuição ao país, Collor com a abertura do Brasil ao mundo e Lula com um olhar compassivo em direção aos desvalidos. Ambos saíram chamuscados de problemas com a justiça: um foi destituído e outro acabou na cadeia.
Por que razão uma candidatura de Collor de Mello hoje em dia é inconcebível? Porque é figura do passado. Já deu o que tinha que dar, e passou. A página está virada. O homem, que é senador da República, ainda circula pelos palácios de Brasília feito um zumbi, mas seu tempo passou.
E o Lula? Pois está nas mesmas condições: é figura do passado, já deu o que tinha pra dar, já passou, é página virada. Para alguns, deixou saudade, mas não se faz um país com saudade. Ele quis candidatar-se à Presidência num momento crucial da vida da nação.
Venceu, mas venceu por um fio. No dia seguinte, já tinha esquecido das condições da vitória. Está governando como se tivesse sido eleito com cem porcento dos votos. Na parte internacional, envergonha o país a cada ocasião que se apresenta. Na parte nacional, está sempre atrasado, correndo atrás da realidade, que lhe escapa.
Sem Bolsonaro, Lula jamais teria sido eleito. Ele deve sua estreita vitória ao forte antibolsonarismo. Nosso país não tem demonstrado especial preferência por um governo gerontocrático. À porta dos 80 anos, Lula já está fazendo hora extra.
Seria bom não ceder à vaidade que o impele a solicitar mais um mandato. Seu oponente não será o inelegível Jair Bolsonaro. Dependendo de quem for o candidato, Lula periga ser derrotado, o que seria um desastre para sua carreira.
Que solte as cartas, passe a mão, levante-se e vá preparar sanduichinhos. Sem ele, a partida continuará do mesmo jeito. Talvez até melhor do que com ele.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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