A pandemia no Brasil vai ficar por isso mesmo? Por Paulo Renato Coelho Netto
Até o momento há um silêncio gritante sobre a Covid-19 e inúmeras perguntas sem respostas. Como se nada tivesse acontecido, tripudiam sobre a memória dos mortos e a dor dos sobreviventes. A pandemia no Brasil vai ficar por isso mesmo?
Quarta-feira, 11 de março de 2020. A Covid-19, causada pelo novo coronavírus, é caracterizada como pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Naquele 11 de março havia 118 mil infectados em 114 países, com 4.291 mortes pela doença.
As primeiras estatísticas da OMS davam conta da rapidez de contaminação e letalidade que enfrentaríamos.
Ainda assim dificilmente alguém poderia imaginar que mais de sete milhões de pessoas fossem morrer infectadas entre os anos 2000 e 5 de maio de 2023, quando a OMS decretou o fim da Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) referente à Covid-19.
O caos tomou conta dos dias. No início, a Itália empilhou corpos em caminhões militares. Ali o coronavírus deixou claro a que veio.
Pânico, medo, mortes, sequelas, isolamento.
Como sobreviver?
Como explicar para as crianças que o mundo inteiro ficaria recluso em casa? Como não visitar os pais? Como sair de casa e não se infectar? Como passar por isso tudo sem enlouquecer?
Em meio ao caos e mortes por falta de oxigênio, o mundo respirou aliviado. Animais e aves foram vistos nas ruas das grandes cidades.
Canais de Veneza revelaram águas cristalinas.
Sem poluição, estrelas brilharam nas metrópoles. Praias límpidas. Silêncio no remanso dos rios.
A natureza tirou férias da humanidade e se refez enquanto seguíamos aterrorizados.
A pandemia foi uma janela de oportunidades que mantivemos fechada.
Sequer deixamos uma fresta entreaberta para que pudéssemos reconsiderar formas mais humanas de ver e viver a vida.
Somente no Brasil, a doença matou mais de setecentas mil pessoas, o que representa 10% das vítimas fatais da pandemia no mundo.
Nosso país tem aproximadamente 3% da população mundial.
No dia 20 de outubro de 2021 a CPI da Covid chegava ao fim, apresentando um relatório com 1.180 páginas recomendando o indiciamento de mais de 70 pessoas físicas e duas empresas.
Os indiciamentos estão relacionados com o negacionismo em relação ao vírus e as vacinas, que teria aumentado o número de mortes no Brasil, provocadas também pelo uso de remédios ineficazes e sem respaldo científico contra a doença.
Os indiciados vão responder por: 1 − Crimes contra a humanidade, nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos. 2 − Prevaricação. 3 − Charlatanismo. 4 − Epidemia com resultado de morte. 5 − Infração às medidas sanitárias preventivas. 6 − Emprego irregular de verba pública. 7 − Incitação ao crime. 8 − Falsificação de documentos particulares. 9 − Crimes de responsabilidade (violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo).
Até o momento há um silêncio gritante sobre a Covid-19 e inúmeras perguntas sem respostas.
Como se nada tivesse acontecido, tripudiam sobre a memória dos mortos e a dor dos sobreviventes.
A pandemia no Brasil vai ficar por isso mesmo?
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, VICE Brasil e Observatório da Imprensa. Foi repórter no jornal econômico Gazeta Mercantil e no Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais, “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”.