paz

… Paz. As sociedades têm o dever de impor, sim, uma solução baseada em dois Estados, e deixar de assistir, de forma impassível, a carnificina que lá se instalou, praticada pelos dois lados. Por décadas se mantiveram distantes, até coniventes, mas esse problema se reflete em toda a comunidade mundial…

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(atualizado 2 de abril, 10h25)

O Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, sobrevoando a Cisjordânia, parte dos territórios ocupados por Israel, ficou impressionado com a quantidade de assentamentos lá existentes, motivo pelo qual muitos julgam difícil a formação do Estado da Palestina nessa região. É uma corrida contra o tempo, com a intenção de aumentar a população na região, por meio de desapropriações e expulsões coletivas. Esse primeiro capítulo do sonho sionista radical está se realizando, abrindo as portas para que o restante do projeto iniciasse sua efetivação, mesmo que isso fosse contrário aos direitos internacionais e ao respeito a um povo que lá se encontra há milhares de anos. Questões éticas e humanitárias não estão sendo consideradas. O “Eretz Israel”, ou seja, o “grande” Israel estaria a caminho, não importando os meios, relativizando o que deveríamos ter aprendido na segunda e outras guerras. Interessa à coletividade a sua realização, independentemente de custos humanos, éticos, políticos e materiais, demonstrando o quanto a opinião mundial pode se tornar irrelevante. Muitos entendem Israel como estando situado entre o Nilo e o Eufrates, conforme as determinações do Velho Testamento, ou Torah. Isso ilustra a razão pela qual os governos israelenses nunca manifestaram otimismo perante as inúmeras propostas de paz realizadas pela coletividade internacional.

Como exemplo, na década de oitenta, foi lhes oferecido um tratado de paz com todos os países árabes em troca da aceitação do Estado da Palestina, oferta essa rejeitada por Israel, ficando evidente que esse país não queria a paz, e sim a terra. É o pensamento dos radicais lá vigente desde sua fundação e, desde Ben Gurion não houve governo que não aprovasse tal intenção, com apoio financeiro e apelo religioso de extremo poder. Se o fizesse, acabaria como Rabin, assassinado por um fanático autorizado a matar em nome de sua religião, e aliado ideologicamente, na ocasião, do atual primeiro-ministro. Lá, nessa pretensa “democracia”, tornou-se muito perigoso discordar, lembrando os regimes totalitários que desencadearam a segunda guerra mundial. Cidadãos de segunda classe, como eram os judeus na Alemanha nazista, quase não podem se manifestar. A “democracia” israelense é, ainda uma democracia? Democracia é um conceito laico.

O atual primeiro-ministro, conhecido como Bibi, ocupando a cadeira há décadas por preencher as intenções e necessidades dos radicais, disse em alto e bom som que nunca haverá o Estado da Palestina na região, após longo período de boicote a todas as tentativas de se estabelecer conversações a respeito, que foram muitas. Certos dirigentes ocidentais dizem abertamente ser impossível o diálogo com esse indivíduo, que não titubeia, de forma extremamente arrogante, em dar tapas na face de seu maior protetor, os Estados Unidos da América. Como é voz corrente, é o maior obstáculo no caminho da paz. Paralelamente, vem aos poucos promovendo abertamente uma limpeza étnica e cultural na região, jogando hordas de fanáticos sobre vilas e aldeias, destruindo sítios históricos, queimando plantações e expulsando ou matando nativos que lá estão há milhares de anos, não respeitando tradições, culturas e a vida humana, em profundo desrespeito aos que não são “semelhantes”. Como exemplo atual, querem realizar uma transferência de toda a população de Rafah, uma cidade palestina, para o deserto. Trata-se de limpeza étnica da região?  Outros fizeram a proposta de criar uma ilha artificial no Mediterrâneo, e lá colocá-los.  Dizia um antigo Nobel da Paz que a pior forma de opressão é a cultural, além da física, afastando os que têm pensamentos diferentes. Enfim, afastando o “diferente”.

Após décadas dessas ações criminosas, condenadas inclusive por setores da coletividade   judaica, o Ocidente criou tardiamente um pouco de coragem para contestar esses grupos poderosos política e economicamente. É óbvio que o problema se tornou, e se torna cada vez mais difícil com o passar do tempo, mas ainda há formas de solução, apesar de todos os obstáculos, radicalismos e ódio, presentes em todos.  As sociedades têm o dever de impor, sim, impor uma solução baseada em dois estados, e deixar de assistir, de forma impassível, a carnificina que lá se instalou, praticada pelos dois lados. Por décadas se mantiveram distantes, até coniventes, mas esse problema se reflete em toda a comunidade mundial.

Não adiantam palavras, frases de efeito repetidas há décadas, que não surtiram efeito algum. Há necessidade de uma ação conjunta mundial que vá além das palavras, pois todos têm direito à terra, e à vida.

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–  Charles Mady,  Médico e Professor associado do Instituto do Coração (Incor) e da Faculdade de Medicina da USP

charles.mady@incor.usp.br

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2 thoughts on “A paz ainda é possível. Por Charles Mady

  1. O Dr. Charles Mady é um respeitado médico e professor de Medicina da USP. É, indubitavelmente, um humanista, uma pessoa que se preocupa com o bem estar da humanidade, o que se verifica dos artigos que escreve a respeito do conflito Israel-Palestina, não obstante as erronias, a desconsideração da História e, data venia, a falta de honestidade intelectual de muitos dos argumentos que utiliza, os quais não fazem jus a quem, na sua atividade profissional e, sobretudo, na posição acadêmica que ocupa, deve fazer uso do método científico, ou deveria fazer, seja no campo da Medicina, seja nas críticas político-históricas a Israel vis-a-vis grupos terroristas que lhe desejam a destruição. Esquece-se do princípio da causalidade e se deixa dominar pela emoção.. E nem os argumentos que utiliza fazem jus ao seu objetivo, que é o de ver a paz estabelecida na região.

    Com efeito, em artigo intitulado “Deixe a Palestina fora disso”, escrito há 11 meses, pretende que se esqueça do Mufti de Jerusalém, dizendo que “Repetir fatos históricos podem (sic) fomentar ódios, que aumentam diariamente. Colocar culpa no mufti de Jerusalém, que sabia dos planos antes da Segunda Guerra para executar o que viria a acontecer, que os palestinos chamam de Nakba, sem descrever a realidade da ocasião, é no mínimo um desrespeito à História”. Ora, como não esquecer do Mufti, se este era parceiro de Hitler na região, e, em acordo com este, se preparava para “atirar os judeus no mar”, como é público e notório? No afã de afastar qualquer culpa do Mufti, o Dr. Mady afirma que tem “exemplos de industriais, empresários, banqueiros judeus que se aliaram a Hitler para a obtenção de ganhos materiais”. Caso isso tenha ocorrido, ocorrido, qual seria a equivalência moral entre o Mufti, que se aliou a Hitler com o objetivo de exterminar os judeus, os ciganos, os comunistas, os desvalidos, com as pessoas que tenham financiado Hitler no início de sua carreira, imaginando que ele se oporia aos avanços do comunismo ? E o que isso retira a responsabilidade do Mufti ?

    Grande erro histórico é dizer que os árabes, que habitavam e habitam a Palestina (nome da região, nada tendo a ver com “povo palestino”, que não existe e nunca existiu, pois o povo, ali, é o árabe), “lá se encontra há milhares de anos”. Sabendo-se que os árabes começaram a penetrar na região a partir de 637 d.C., quando se iniciaram as invasões muçulmanas, ou seja, 500 anos após a região ter sido batizada de Palestina pelos romanos em 137 D.C., em que fonte se baseou o Dr. Mady para dizer que se trata de “um povo que lá se encontra há milhares de anos”? Repete o Prof. Mady essa afirmação numa pretensa crítica a um artigo do Prof. Denis Lerrer Rosenfield, indagando, retoricamente, se “…acredita mesmo ser ignorância ou mã fé querer criar o Estado da Palestina, onde há uma população milenar, diferentemente dos judeus provenientes dos quatro cantos do mundo”. Aliás, nessa mesma crítica, feita há 3 anos atrás, visando a defender o Hamas, o Prof. Mady não apenas se volta contra o artigo de Rosenfield intitulado “Hamas e o terror”, publicado no Estadão, como também ao de Jaime Spitzcovsky, sob o título “Hamas faz guerra contra acordos de paz de Israel com países árabes”. Nela, afirma o Prof. Mady que “O tema é muito delicado, por estar extremamente polarizado, com altas doses de paixão e sentimentos de ódio e vingança, que cegam a visão dos interessados na questão. Aí reside o perigo, pois de forma consciente, ou inconsciente, a razão é abandonada, dificultando sua solução”. Na realidade, ante a intensa emotividade do Prof. Mady, constata-se que o primeiro a cegar a visão, de forma consciente ou inconsciente, é ele próprio, com o consequente abandono da razão.

    Ora, como demonstrado, os árabes muçulmanos ali se encontram há 1.387 anos, enquanto que os judeus, a maioria dos quais teve que se espalhar pelos “quatro cantos do mundo” em 137 d.C (diáspora judaica, sendo que muitos judeus continuaram na Judeia, mesmo após Roma ter destruído Jerusalém), lá se encontravam há 1.200 anos antes da destruição da Judeia, quando foram libertados da escravidão no Egito e a ela retornaram, isso sem falar do tempo em que lá residiram antes de ir ao Egito. Portanto, somando-se apenas os tempos em que ali viveram desde que retornaram do Egito (1.200 anos) com o tempo da diáspora forçada pela violência romana da maior parte (1.811 anos), dá 3.011. E é fundamental ressaltar que durante esses 1.811, os judeus sempre deixaram claro, em suas rezas, que retornariam a Jerusalém. Logo, desse modo, sempre foi interrompida a prescrição aquisitiva e quem adentrou lá durante esse período logicamente o fez por sua conta e risco.

    Mais um erro histórico é omitir o fato de que o próprio Corão reconhece a Terra Prometida aos judeus como uma terra sagrada. No Islã, a Terra Prometida é reconhecida como divina e destinada ao povo escolhido por Deus. Corão, embora as interpretações e abordagens em relação a esse tema podem variar entre as diferentes tradições islâmicas.

    Outro erro histórico é a omissão em relatar que o Hamas não aceita a existência de Israel, o que é expressamente declarado no seu Estatuto. Basta lê-lo. Não só não aceita Israel, como não aceita judeus. Por conseguinte, o problema não reside em criar-se um estado palestino ao lado de Israel, mas no fato de que o Hamas de que ele não traria a paz à região.

    Israel pode ter muitos erros, e os têm, não há negar. Todavia, não há a menor garantia de que, criado o estado palestino, ao lado de Israel, haverá paz e Israel não continuará a sofrer agressões do Hamas, do Hezbollah ou de qualquer outro grupo terrorista teleguiado do Irã. Aí, sim, é que reside o “x” do problema e não com os árabes seculares da Palestina.

    Qual a fonte na qual se baseia o Dr. Mady para dizer que ali há uma carnificina? No “Ministério da Saúde do Hamas”? Ah, bom ! Até hoje a mídia não exibe nenhuma pessoa morta, apenas pacotes mumifortes são exibidos. O Dr. Mady precisaria examinar as Convenções de Genebra para certificar-se de que os efeitos colaterais de suas atividades bélicas decorrem do fato de o Hamas transformar escolas, hospitais e outras instituições em locais de ataque aos soldados israelenses, o que, por força de disposição legal da Convenção, lhes retira a imunidade, isso sem falar da utilização de civis árabes, mulheres e crianças principalmente, como escudos humanos. Por que o Hamas não liberta os reféns e se rende? Com isso, a guerra acabaria. Portanto, o único e exclusivo responsável pelas mortes de civis árabes é o Hamas e não Israel. Por outro lado, se Israel celebrar um cessar-fogo indefinido, ele estará preparando a sua futura destruição. E isso ele não irá fazer, como é óbvio e evidente.

    Diz, ainda, o Prof. Mady, num artigo de um ano atrás, que “O que aprendemos com a história de Al-Andalus, ou Sefarad, está sendo esquecido, em nome de elitismos, sectarismos, racismos, que lembram muito bem períodos obscuros da história da humanidade, com a conivência de todos. Deixam de lado uma cultura humanística maravilhosa, para viver dentro de um fanatismo doentio”. Ora, essa “maravilha” de Al-Andalus não passa de mito, pois ali, embora não houvesse guerra dos árabes contra cristãos e judeus, estes — cristãos e judeus — sempre foram considerados “dhimmis”, ou seja, súditos de segunda classe dos sultões, e que, por isso mesmo, tinham que pagar impostos altíssimos para ter o “direito” de ali residirem.

    Bem, vamos parando por aqui, pois é o suficiente para demonstrar que a argumentação do Prof. Mady, com a devida licença, não se alicerça em fatos históricos reais e comprovados. Todos queremos a paz, mas isso implica em mudar a educação dos árabes nas madrassas, em conter o Irã, em desarmar os terroristas, em, em, em, em ! Salam/Shalom !

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