lapsus linguæ

O “lapsus linguæ” do Lula. Por José Horta Manzano

… a expressão latina lapsus linguæ, que, ao pé da letra quer dizer “escorregão da língua”, é usada para indicar o ato de tropeçar na língua, dizer uma coisa por outra, cometer um ato falho ao falar…

lapsus linguæ

Como todos os meus cultos leitores sabem, a expressão latina lapsus linguæ, que, ao pé da letra quer dizer “escorregão da língua”, é usada para indicar o ato de tropeçar na língua, dizer uma coisa por outra, cometer um ato falho ao falar. O próprio Houaiss informa que, por influência das ciências psicanalíticas, um lapsus linguæ costuma ser interpretado como a expressão de “pensamentos reprimidos”.

Ontem, no abafamento úmido da selva amazônica, Lula recebia um Macron meio pálido, mangas arregaçadas, rosto transpirado e ar cansado. Via-se que o visitante não está habituado aos trinta e tantos graus de calor.

Os dois personagens principais tocavam conversa amena, sentados formando uma roda com numerosos participantes, entre ministros e índios paramentados.

Era a vez de Lula, personagem que nunca rejeita um microfonezinho. De repente, ele olha para Macron e lança, em seu dialeto costumeiro: “Eu e o Sarkozy vamo viajá po Rio de Janeiro inda agora à noite”.

Passado um instante de estupor, a pequena assembleia se tumultua. Vozes se elevam para apontar o erro. Lula logo conserta: “Eu e o Macron…” E a fala continua. (Trechinho de 20 segundos disponível no youtube.)

 

O erro não passa de um errinho sem consequências. Volta e meia, um dirigente troca o nome de um par. Talvez Macron nem tenha se dado conta, dependendo da pirueta dada pelo intérprete.

O que me ficou foi mais uma demonstração de que o Lula versão 3.0 não passa de um Lula 1.0 recauchutado por fora, mas com o miolo (=cerne) intocado. É verdade que Lula se encontrou com Sarkozy em numerosas ocasiões, mas esse fato, sozinho, não seria suficiente pra fazê-lo trocar o nome do atual presidente da França.

Muita gente reclama dos erros de governança cometidos por Luiz Inácio, que tenta aplicar hoje soluções que já não deram certo ontem. A verdade é que nosso presidente não se desgrudou de seus primeiros tempos na Presidência. Pelo jeito, não se desprenderá nunca.

Será que ele chegaria a chamar seu amigo Maduro de Chávez?

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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