vícios e crimes

Vícios e crimes. Por Adilson Roberto Gonçalves

… algumas novas e velhas considerações são feitas, acrescentando outros vícios menos físicos e mais mentais.

vicios e crimes

            Na sequência do artigo anterior “Cigarro eletrônico e outras drogas” (https://www.chumbogordo.com.br/439401-cigarro-eletronico-e-outras-drogas-por-adilson-roberto-goncalves/), algumas novas e velhas considerações são feitas, acrescentando outros vícios menos físicos e mais mentais.

            Foram pertinentes os alertas deixados pelo médico psiquiatra especialista em álcool e drogas Ronaldo Laranjeira como “a pandemia negligenciada do álcool”, em artigo para a Folha de S. Paulo (18/2), uma vez que o álcool é também a porta de entrada para drogas mais pesadas, como o crack e a cocaína, os quais alimentam o tráfico e o tráfego de influências no país, já dito e repetido inúmeras vezes. No artigo, é apresentado o número de pontos de comercialização de bebidas alcoólicas, que é assustador. Cruzando tais números com os recentes dados do IBGE acerca de igrejas e templos religiosos no país, vemos que são quase três estabelecimentos que vendem álcool para cada um que compra almas. Mistura de vícios e drogas também perigosa.

            Ruy Castro, quando foi falar sobre o alcoolismo, usou Garrincha como exemplo, não por não haver outros, mas porque pôde adentrar a fundo na vida do craque de futebol quando escreveu sua biografia (“Estrela solitária – um brasileiro chamado Garrincha”, de 1995 pela Companhia das Letras). Incompreendido, foi criticado por usar a imagem do falecido craque do futebol. Da mesma forma que o jornalão não publicou comentários quando se mesclaram outros vícios e drogas.

            Vícios sexuais podem ser incluídos nesse conjunto? Arrisco. Os defensores de práticas abusivas dizem que faz parte da natureza humana e não poderiam ser condenados por isso. Até colunistas de peso, como Hélio Schwartsman, daquela mesma Folha de S. Paulo, fazem – ainda que não explicitamente – a defesa da pedofilia, em absurda apologia, uma retórica criminosa, não muito diferente da defendida por fascistas, ao propor que deixaria de ser crime se a pornografia infantil fosse feita por inteligência artificial. O incômodo com a questão não permite maiores reflexões, restando a excelente resposta que Thiago Amparo no mesmo jornal, colocando os devidos pingos nos is da letra da lei e explicando que “pornografia infantil não é ficção”. É crime.

            O STF continua a discutir se a posse de pequenas quantidades das drogas consideradas ilícitas é crime ou não, com placar ainda indefinido. O Senado Federal inicia a votação em plenário de Projeto de Emenda à Constituição (PEC) em direção oposta, reafirmando a criminalização da posse e consumo de drogas em qualquer quantidade (as consideradas ilícitas – álcool está fora). Há um modelo equivocado de abordagem da questão, já tratado naquele mencionado artigo anterior.

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Perfil ambiental e político – Adilson Roberto Gonçalves –  pesquisador da  Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista. Mantém o Blog dos Três Parágrafos. Vive em Campinas.

 

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