Liz e Jane. Por Antonio Contente
A explosão de Jane Russell quando Liz ainda era meio menina (havia entre as duas uma década de diferença), foi, realmente, big-bang de muitos megatons…
No tsunami do enorme noticiário sobre a morte de Elizabeth Taylor, em 2011, de repente lembrei de outra famosa atriz, Jane Russell, que foi para o céu no mesmo ano. Claro que a intérprete de “Cleópatra” ocupou e ocupará lugar muito maior na história do cinema. Para isso, afinal, contou com enorme talento dramático que lhe rendeu dois Oscars, beleza absolutamente deslumbrante, olhos de profundo azul-violeta e vida animadíssima, crivada de maridos, amantes, doenças monumentais, bebedeiras homéricas etc. O que torna ainda mais curioso o fato de Jane, mesmo com talento exíguo, sem beleza de tirar o fôlego ou vida pregressa borbulhante, ter marcado também de forma razoavelmente luminosa sua presença no cenário da chamada Sétima Arte. Por apenas um simples e bom motivo: ao estrelar “O Proscrito”, de 1941, seu filme mais cultuado, explodiu nas telas a exibir, através das aberturas de decotes, aqueles que foram considerados os seios mais bonitos, mais perfeitos, de quantos, então e até hoje, provocaram suspiros nas salas de exibições e também fora delas.
A explosão de Jane Russell quando Liz ainda era meio menina (havia entre as duas uma década de diferença), foi, realmente, big-bang de muitos megatons. Primeiro que o produtor/diretor da obra que a lançou, o milionário Howard Hughes, descobriu a beldade nos dias em que ela era atendente de um dentista; ao resvalar, claro, seus olhos de lince pelo colo incandescente da moçoila. Segundo que o filme com o qual o ricaço a catapultou para a fama esteve envolvido em algumas polêmicas. A principal, naturalmente, girando em torno das protuberâncias mamárias da morena. Que a censura americana, de cara, vetou, o que fez tardar o lançamento nos EUA. Aqui no Brasil, só pintou no pós-guerra, ali por 1946. Entretanto, o assunto Jane Russell já havia tomado conta do mundo. As fotos com destaque para o exuberante colo passaram a enfeitar paredes e portas de armários nos quatro cantos da terra. E até as duas montanhas mais importantes do Alaska, gelado Estado Americano, receberam o abrasador nome de Jane Russell’s Peaks. E para provar que a febre pela peituda atriz atingiu também o Brasil, lembro que o mais popular poeta nacional da época, equivalente a Vinicius de Moraes anos depois, chamado J.G. de Araújo Jorge, dedicou derramado poema aos mamilos da estrela, afirmando, em certo trecho: “Florações róseas de uma carne em flor/ Que se ostenta a tremer em dois botões”…
O que me passa, então, pela cabeça, é que se, além dos lindos seios Jane também tivesse o talento de Liz, teria sido o apocalipse. Agora, com o tema em pauta, queria dizer que o filme da Taylor que mais gosto é “Um Lugar ao Sol”, de 1951, ano em que Jane só resistia ainda graças à beleza das glândulas mamárias responsáveis, adiante, em 1953, por sua participação no badalado “Os Homens Preferem as Louras”, ao lado de Marilyn Monroe. Sobre “A Place In The Sun”, pego carona num comentário que li faz alguns anos no “Harper’s Bazaar”. O resenhista recordou que no romance que inspirou a citada produção, “Uma Tragédia Americana”, de Thedore Dreiser, o personagem George Eastman, vivido espetacularmente no celuloide por Montgomery Clift, realmente mata Alice Tripp, vivida por Shelley Winters.
Na adaptação cinematográfica o diretor George Stevens colocou o episódio de forma meio ambígua, abrindo a possibilidade de que a morte da criatura poderia ter acontecido por acidente. E isso foi muito bom para a saga filmada, pelo ar de dúvida que implantou. Aliás, Stevens também mexeu na história original de outro grande trabalho seu, o clássico “Os Brutos Também Amam”. Na novela de Jack Schaefer transformada no filmaço, a atração entre Shane (Alan Ladd) e Marian (Jean Arthur), a esposa do dono da fazenda, é não apenas insinuada, aparecendo como algo, digamos, explícito. O gênio de Stevens, porém, ao lidar com o delicado tema na tela fez com que fluísse de forma singela, porém a não deixar dúvidas. Exposta, por exemplo, na cena em que Marian, filmada a passar pela janela da sua casa que dava para o terreiro onde se encontrava Shane, lança a ele um olhar. Tão delicadamente tórrido, que explicitou intercurso de cinco horas seguidas no lusco-fusco de um escondido quartinho, com vasta cama de casal, no âmago das pradarias do velho Oeste.
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ANTONIO CONTENTE –
Jornalista, cronista, escritor, várias obras publicadas. Entre elas, O Lobisomem Cantador, Um Doido no Quarteirão. Natural de Belém do Pará, vive em Campinas, SP, onde colabora com o Correio Popular, entre outros veículos.
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