O Capital Humano que o Brasil desperdiça. Por Dagoberto A. de Almeida
O Índice de Capital Humano, ICH, é entendido como uma métrica que expressa o conjunto de habilidades dos indivíduos em uma geração e que determinam o nível de renda e as oportunidades de trabalho com potencial de impactar futuramente a produtividade, a renda pessoal, o tamanho do PIB e a capacidade de geração de prosperidade para o país.
Não há maior desperdício para uma nação do que renunciar ao talento de sua gente. De acordo com o Índice de Capital Humano (ICH) compilado pelo Banco Mundial, a próxima geração de brasileiros está com seu desenvolvimento comprometido devido à dramática situação socioeconômica de nosso país.
O ICH é entendido como uma métrica que expressa o conjunto de habilidades dos indivíduos em uma geração e que determinam o nível de renda e as oportunidades de trabalho com potencial de impactar futuramente a produtividade, a renda pessoal, o tamanho do PIB e a capacidade de geração de prosperidade para o país. Assim, o ICH funciona como um alerta quanto à maneira como as crianças são amparadas pelas políticas públicas; mais do que isso, os reflexos das políticas de saúde e educação em uma geração caso não sejam alteradas. Nesse contexto, o ICH expressa a desigualdade que impede o ser humano de atingir todo seu potencial pela ausência das condições mínimas necessárias para uma vida plena.
A confecção do ICH depende de 5 aspectos: a taxa de mortalidade, o déficit de crescimento infantil em função de saúde e alimentação, o acesso à educação, os anos esperados de escolaridade e a qualidade da educação em termos dos resultados de aprendizagem. Com estes parâmetros o ICH estima quão produtiva será a próxima geração segundo as condições atuais.
No que tange ao Brasil, os dados do relatório de 2020 do Banco Mundial são alarmantes, visto que o país pontuou apenas 0,55 em uma escala de 0 a 1, abaixo da média da América Latina e Caribe. Isso significa que 45% das crianças brasileiras nascidas em 2019 não conseguirão atingir todo o seu potencial quando se tornarem adultas.
Pra vocês terem ideia do que isso significa, nasceram cerca de 2.868.479 pessoas no Brasil em 2019. Então, segundo o ICH cerca de 45% de brasileiros, ou seja, 1.290.815 pessoas vão se perder antes de atingirem a maioridade, vítimas de fome e da violência, sem condições de usufruir uma educação que lhes permita fazer escolhas para uma vida digna e plena. E isso a cada ano, caso a situação não se reverta.
O que se assiste, então, é um trágico processo de destruição de vidas e talentos em que potenciais cientistas, artistas, estadistas, educadores e humanistas que o país tanto precisa se perderão anualmente porque os governos, sucessivamente, falham em prover condições mínimas de educação, saúde, trabalho e renda.
Escandalosamente, a desigualdade no Brasil é tamanha que enquanto alguns municípios das regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste têm ICH semelhante aos países desenvolvidos, outros nas regiões Norte e Nordeste se aproximam dos países africanos mais pobres.
A questão da desigualdade afeta o acesso aos recursos e meios de produção e da riqueza resultante, a qual deve ser abordada no contexto do usufruto da riqueza, ou seja, na sua contribuição ao bem-estar da humanidade e não apenas para uma pequena parcela que dela usufrui com desperdício e desleixo.
O saudoso cartunista Millôr Fernández do alto da sua sagacidade bem-humorada dizia que “o aumento da canalhice é o resultado da má distribuição de renda”.
A falta de trabalho e, consequentemente, de renda, compromete a saúde e a educação. Um dos resultados mais flagrantes acaba sendo o de uma parcela significativa da população sujeita a negacionismos científicos em prol de crenças como o criacionismo e terraplanismo, com reflexos na polarização ideológica. Vítimas de líderes autocráticos e populistas que prosperam em meio à ignorância e à miséria. Nesse quadro de subdesenvolvimento perde a geração atual de brasileiros e aquela que está se formando pela arrecadação injusta e pela aplicação incompetente de tributos, assim como pelas malversações recorrentes dos recursos públicos.
A única saída é investimento público em prol da educação e da saúde para uma população carente que representa 31,6% da população brasileira segundo o IBGE; um pais ignorante e miserável do tamanho da França.
Com uma educação humanista e inclusiva é possível refletir sobre a realidade existente e daí escolher melhor os representantes que garantirão democracia e cidadania. Pode parecer algo utópico e mesmo ingênuo, mas foi assim que nações saíram da miséria para usufruírem os melhores índices de qualidade de vida, como o Índice de Capital Humano.
Vai levar tempo, mas as gerações que farão mais e melhor por esta nação estão nascendo e crescendo e precisam de toda nossa empatia e apoio.
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Relatório do ICH Brasil 2022
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– Professor Dagoberto Alves de Almeida – ex-reitor da Universidade Federal de Itajubá -UNIFEI – mandatos 2013/16 – 2017-20
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