Hábitos de leitura. Por Arnaldo Niskier
… Tenho uma lembrança inesquecível de “O Guarani”, de José de Alencar, leitura enriquecida pelas histórias em quadrinhos da Editora Brasil-América. A aventura amorosa de Ceci e Peri nunca saiu do meu pensamento…
Quando frequentei a primeira série primária da Escola 19-Canadá, no bairro de Riachuelo, no Rio de Janeiro, tive a oportunidade de aprender a ler e escrever. Foi uma conquista que soube valorizar.
Os meus três irmãos mais velhos, Sylvio, Odilon e Júlio, eram leitores assíduos da revista “Eu sei tudo”. Depois da leitura programada, deixavam a publicação à minha disposição, para os meus exercícios de leitura. Posso garantir que foi de extrema utilidade. Antes dos livros que viriam em seguida, habituei-me a ler os melhores artigos da revista, de grande valor cultural.
Completei o primário em São Paulo, no Grupo Escolar Rodrigues Alves, na Avenida Paulista. E aí, com orientação das professoras Irma e Rosa, começou a temporada dos livros. Tenho uma lembrança inesquecível de “O Guarani”, de José de Alencar, leitura enriquecida pelas histórias em quadrinhos da Editora Brasil-América. A aventura amorosa de Ceci e Peri nunca saiu do meu pensamento.
Numa fusão natural, envolvendo os ensinos primário e médio (feito no Colégio Vera Cruz, no Rio), aprendi a gostar de ler, a partir dos clássicos da nossa literatura, como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (Machado de Assis), “O Cortiço” (Aluísio Azevedo), “O triste fim de Policarpo Quaresma” (Lima Barreto), “A hora da estrela” (Clarice Lispector) e “Gabriela, Cravo e Canela” (Jorge Amado).
Sem dúvida, um timaço, que não fica nada a dever a escritores importantes de outras nacionalidades. Há algo de muito errado em nosso sistema escolar, como demonstra o Saeb. Dois em cada 10 estudantes do 5º ano do ensino fundamental afirmam que só lêem livros recomendados por seus professores. Nada espontâneo, o que nos parece um verdadeiro absurdo. É por isso mesmo que o nosso desempenho em Português, no exame internacional do Pisa, não passa de ridículo. Temos correções a fazer, como o fato de que mais da metade dos alunos do 2º ano do ensino fundamental é considerada não alfabetizada. Isso precisa ser corrigido.
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Arnaldo Niskier – Imortal. Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras. Professor, escritor, filósofo, historiador e pedagogo. Professor aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras e secretário estadual de Ciência e Tecnologia e de Educação e Cultura do Rio de Janeiro. Presidente Emérito do CIEE/RJ.