peito estufado

… Essa “pontinha de orgulho” ressurge sempre em momentos que não nos trazem nenhum benefício além da satisfação. Hoje vi manchetes por toda parte, todas de peito estufado, apregoando que “o Brasil volta ao grupo das maiores economias do mundo”.

 

peito estufado
Chamada do G1 –  2/3/24

Sensação de pertencer à nação brasileira só costuma aparecer em ocasiões que não nos dizem respeito pessoalmente. Me explico. Quando o Congresso aprova uma lei que beneficia sua categoria, o cidadão não costuma sentir orgulho dos parlamentares. Afinal, estão lá exatamente pra isso, ou não?

Esse orgulho que some nos momentos em que somos beneficiários aparece nas horas em que somos meros espectadores. Brasil, campeão do mundo? É de sair de verde-amarelo buzinando pelas ruas e abraçando desconhecidos. Brasil, maior exportador de soja ou de suco de laranja? É de sentir uma pontinha de orgulho.

Essa “pontinha de orgulho” ressurge sempre em momentos que não nos trazem nenhum benefício além da satisfação. Hoje vi manchetes por toda parte, todas de peito estufado, apregoando que “o Brasil volta ao grupo das maiores economias do mundo”.

No meu tempo, se perguntava “O que é que Maria leva?”, que significava “Quanto é que eu ganho nisso?”. Analisando bem, ninguém ganha. Fica só no orgulho mesmo.

Manchete boa para todos seria “Subida espetacular do PIB brasileiro per capita”. Que nossa economia ultrapasse Canadá e Rússia, como se ufana a manchete acima, me parece algo natural. Afinal, são países com população inferior à nossa. Seria vergonhoso ficar atrás deles.

O que conta é o que ajeita a vida de todos: que a repartição do bolo acabe dando uma fatia maior a cada habitante.

A lista dos países por ordem de PIB total é enganosa. A China aparece lá em cima, à frente de quase todos, junto aos Estados Unidos. No entanto, os bens e serviços à disposição do cidadão chinês médio são infinitamente inferiores ao que ocorre nos EUA. Países cujos cidadãos têm qualidade de vida superior são aqueles onde o PIB per capita é mais elevado.

No levantamento de PIB per capita feito pelo Banco Mundial para o ano 2022, os EUA aparecem em 9° lugar, com PIB per capita de 64.700 dólares. A China só vem em 73° lugar, com 18.200 dólares por habitante. O Brasil, em 84° lugar, engatinha atrás da China e do Irã, com magros 15.100 dólares.

Isso significa que a China, apesar do poderio comercial que lhe confere seu PIB total impressionante, está longe de dar a seus cidadãos a qualidade de vida dos 83 países e territórios que têm PIB per capita mais elevado que o dela.

Quanto ao Brasil, vale o que foi dito para a China, só que alguns degraus mais abaixo.

Ainda não é hora de estufar o peito pra falar em “pibão”. Por enquanto, o que chega ao bolso de todos nós, não passa de pibúnculo. E assim vai continuar por muito tempo.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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