a cada 29 anos

O fato é que, a cada 29 anos, uma pedra aparece no destino do Brasil. Uma pedra, disse eu? Uma pedrada, isso sim! Vamos ver.

a cada 29 anos

Neste 29 de fevereiro, o mundo se agita em torno de explicações do como e do porquê esse dia surge no calendário, quase como um penetra. Apesar das aparências, este post não fala do dia bissexto. O assunto é outro.

Pode ser coincidência; pode até ser superstição; quem sabe são elucubrações de quem não tem muito que fazer. Ou vai ver que é um pouco de cada uma das anteriores. O fato é que, a cada 29 anos, uma pedra aparece no destino do Brasil. Uma pedra, disse eu? Uma pedrada, isso sim! Vamos ver.

A inquietante série começou em 1961. Em 31 de jan° daquele ano, a Presidência do Brasil foi assumida por Jânio da Silva Quadros. Homem esquisito, populista da gema, era daquele tipo de gente que não se sabia bem de onde tinha saído. Tinha uma fala cheia de mesóclises e outros preciosismos. Solitário e arisco, acabou tragado pelo ermo da Brasília daqueles tempos sem internet. Notícias do Planalto chegavam aos grandes centros com 24 horas de atraso, já diluídas pelo diz-que-diz. Um dia, Jânio demitiu a si mesmo antes que um Congresso assaz hostil o fizesse. E acabou ligando a incubadora do golpe militar que viria dois anos e meio mais tarde.

 Passaram-se 29 anos. Em 1° de março de 1990, assumiu a Presidência Collor de Mello, o “caçador de marajás”. Era um aprendiz de populista, fabricado em laboratório, desprovido da legitimidade que a poeira das estradas confere aos viajantes persistentes e calejados. Depois de belas escorregadelas, descobriu-se que o “marajá”… era o próprio presidente. Um Congresso assaz hostil tratou de expelir da Presidência aquele que se tinha apresentado como “antissistema”.

 Passaram-se mais 29 anos. Dia 1° de jan° de 2019, quem subiu a rampa foi Jair Bolsonaro. Abduzido pela extrema direita e imbuído de ideias estranhas, o capitão tratou de utilizar métodos populistas para firmar-se no trono. O problema é que, incapaz de controlar sua mente confusa, acabou mais afugentando que agregando em torno de si. Para aplacar a rejeição de um Parlamento descontente, abriu as burras do Estado e permitiu que Suas Excelências se lambuzassem à farta. Foi a única forma que ele encontrou de se aguentar na corda bamba até o fim do mandato.

 Adicionando 29 anos a 2019, chegamos ao ano da graça de 2048. Para quem já está entrado em anos, como este escriba, trata-se de um futuro inalcançável. Mas, para quem ainda tem sola de sapato pra gastar, é amanhã. Que anotem num caderninho a previsão deste Nostradamus de segunda. Um elemento novo deve entrar na vida de nossa República em 2048. Que será? Quando vai estourar o rojão? Difícil dizer. Minha bola de cristal anda meio embaçada.

De qualquer maneira, ainda que minha previsão esteja errada, não corro risco nenhum. Em geral, passado um ano, ninguém mais se lembra das previsões do ano anterior – imagine daqui a um quarto de século…

Ainda falta muito. Vamos ver se os incêndios, as secas e as inundações não acabam com nosso país antes.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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