Porque somos tantos, então estamos certos? Por Dagoberto Alves de Almeida
Tantos…Para o meu distinto remetente resolvi trocar figurinhas e postei como resposta a imagem icônica da recusa de August Landmesser, um operário alemão, em fazer a saudação nazista, ainda que em meio à imensa multidão. Afinal, não é porque muitos tem uma determinada crença que ela, por si só, se transforma em verdade, em algo nobre e digno.
Recebi há pouco uma réplica à postagem de meu Facebook em que eu externava meu desgosto por mais uma maldade do Jair Messias Bolsonaro: a de ameaçar uma Jubarte com seu fogoso jet-ski. A réplica consistia em uma única imagem, sem nenhum comentário, uma fotinha dos 185 mil que se prestaram a ir à Avenida Paulista ouvir as “explicações” do “pintou-um-clima”. Segundo levantamento da USP essa quantidade equivale a 2,3 estádios do Maracanã. Uma quantidade grande embora, eu pense cá comigo, como bom mineiro, que tamanho não é documento, uai. Como responder ao significado abismal dessa enigmática imagem? Para o meu distinto remetente resolvi trocar figurinhas e postei como resposta a imagem icônica da recusa de August Landmesser, um operário alemão, em fazer a saudação nazista, ainda que em meio à imensa multidão. Afinal, não é porque muitos tem uma determinada crença que ela, por si só, se transforma em verdade, em algo nobre e digno. Pelo contrário, exemplos como esse demostram como muitos podem ser acometidos por estupidez sem limites.
A multidão literalmente arrebanhada pelo “eu-não-sou-coveiro” de fato não se dá conta das barbaridades que foram lá proferidas, cujas consequências ainda trarão muito sofrimento ao país. Dando um tiro no pé o “só-não-estupro-porque-é -feia” admitiu a minuta do golpe e aproveitou, também, pra tentar livrar a própria cara ao, humanitariamente, pedir anistia para os “pobres coitados” que invadiram as sedes dos três poderes no famigerado 8 de janeiro. Mas é preciso admitir que o valentão até que se conteve. O imbrochável preferiu terceirizar os xingamentos para o tolerante e contido Pastor Silas Malafaia que garante que Deus está do lado do Jair Messias e que o responsável pelo 8/1 foi o atual presidente. Como todo ato traz consequências aguarda-se a responsabilização por tanta valentia. Aliás, ouvir o tom de voz esganiçado desse péssimo ator e ver os seus trejeitos não é tarefa fácil. Resisti a tentação de virar o rosto pra pouco depois assistir a chorosa ex-primeira-dama doutrinando os fiéis — ops, patriotas — pra sandice de que é preciso que política e religião se misturem. Vá lá, pra não afirmar que é má-fé admite-se que falte à Michelle Bolsonaro um mínimo de conhecimento de história sobre o que ocorre quando um Estado deixa de ser laico.
Em teocracias a intolerância traz violência a todos que não professam a mesma crença. O resultado são atrocidades ao longo da história que mostram como o ser humano pode ser cruel, especialmente quando se apresenta como religioso, caso em que sua capacidade de perversidades é escalonada. O fanatismo religioso aliado ao político é uma das forças mais destrutivas na história do ser humano neste sofrido planeta. Crueldades como as Cruzadas e a Inquisição e atualmente presentes em exemplos como a da mortandade de mulheres iranianas na ditadura dos Aiatolás. Na teocracia nenhuma religião é permitida além da oficial, ao passo que na democracia todas as religiões são toleradas. A separação do estado e da religião é conquista civilizatória da democracia, que essa gente absurda insiste, por todos os meios, acabar. É esse o princípio civilizatório que essa gente busca eliminar.
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– Professor Dagoberto Alves de Almeida – ex-reitor da Universidade Federal de Itajubá -UNIFEI – mandatos 2013/16 – 2017-20
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Parabéns Dagoberto, pensamos da mesma maneira. Onde chegaremos? Não sei, mas ainda tenho esperança que esse pesadelo vai passar. Abraços
Oi Vera. O fanatismo religioso cresce exponencialmente. Misturado com a política é uma força que expressa a vontade dis eleitores. A democracia é delicada, daí porque está sempre sujeita ao assalto da estupidez.