A fuga maluca. Por Paulo Renato Coelho Netto
Fuga, pavor e comida grátis
… Para não causar animosidade com os fugitivos do Presídio Federal do Rio Grande do Norte, alguns moradores na rota de fuga têm colocado na fachada das casas alimentos aos foragidos…
O pavor tem razões que a própria razão desconhece
Para não causar animosidade com os fugitivos do Presídio Federal do Rio Grande do Norte, alguns moradores na rota de fuga têm colocado na fachada das casas alimentos aos foragidos. O pavor tem razões que a própria razão desconhece.
Agora, os 600 policiais que trabalham para capturá-los há praticamente duas semanas estão orientando a população a não alimentar os criminosos. Algo como nas placas nos zoológicos, “não alimentem os leões”. Nada de frutas de época, carne seca, farofa, escondidinho (opa!), baião de dois, cuscuz, caranguejada, tapioca, rapadura de cana, garapa, sarapatel e água, entre outras doações.
Com isso, acreditam as potenciais vítimas, cria-se um pacto entre fugitivos barra pesada e os pacatos moradores. Ninguém invade a casa de ninguém, incomoda ninguém, atrapalha a vida de ninguém. E o mais importante: ninguém morre ou é espancado. Exemplo claro de acordo tácito.
Pragmatismo é isso.
No filme Tropa de Elite, um sargento militar, pouco afeito aos ditames éticos da corporação, informa para um soldado que pedia férias há um ano, sem sucesso:
– “Eu quero te ajudar. Aliás, eu vou te ajudar, mas para te ajudar você tem que me ajudar. Soldado Paulo, quem quer rir tem que fazer rir, entendeu?”, esclarece com uma sonora gargalhada enquanto abre uma gaveta cheia de dinheiro. O soldado, surpreso e decepcionado, bate continência e pede permissão para se retirar.
Pragmatismo é isso. Eu ofereço a comida e vocês nos deixam em paz. Compartilhe parte do dinheiro das férias e terá férias. Finge que trabalha no meu gabinete, me repassa em dinheiro 70% do salário que o emprego é seu. Rachadinha. Afinal, quem quer rir tem que fazer rir.
A arte é incapaz de imitar a vida neste país. Ainda não nasceu roteirista capaz de imaginar nenhum absurdo que nos chega diariamente. O inacreditável de hoje tem vida curta por aqui.
Amanhã vem mais.
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Autor do livro “2020 O Ano Que Não Existiu – A pandemia de verde e amarelo”.