Dengue no país dos canalhas. Por Paulo Renato Coelho Netto
A primeira vez que escutei a palavra dengue foi em 1989. Recebi uma pauta para escrever sobre uma epidemia da doença em Itaquaquecetuba, Zona Leste de São Paulo. À época, uma cidade dormitório de ambulantes, fazedores de bico, empregadas e trabalhadores que, com sorte, recebiam um salário mínimo por mês, mais a refeição e a passagem de trem Itaqua-São Paulo-Itaqua. O esgoto era a céu aberto. Nunca mais voltei lá.
Em 1989 não sabia como escrever Aedes aegypti. Morreu muita gente de dengue naquele ano. Algo na linha mundo-cão. Pobreza, descaso, corrupção, postos de saúde lotados, falta de assistência, leitos, enfermeiras, médicos… em excesso só o Aedes aegypti.
Hoje, 35 anos depois!, leio e vejo a história vitoriosa do mosquito espalhada pelo Brasil todo. E tudo (apenas) que precisa ser feito para acabar com o Aedes aegypti é manter a própria casa limpa, da calha ao chão. Só isso. Nem precisa vacina. Não fazer de lixão terreno desocupado também.
No fim do livro “2020 O Ano Que Não Existiu – A pandemia de verde e amarelo” eu escrevo sobre isso. Que mesmo com a vacina contra a Covid a gente continuaria morrendo de dengue e Covid, entre outras doenças que precisam de consciência social e educação para combater.
Sem chance.
O que mata no Brasil é a falta de educação. Lá se foram 35 anos de dengue e as coisas só pioraram. Muito provavelmente daqui a 35 anos as pautas serão as mesmas.
Aliás, também escrevi neste livro, no capítulo sobre corrupção, que “o Brasil é o paraíso dos canalhas”, pelo dinheiro roubado do combate à pandemia de Covid.
Se eu pudesse escolher uma frase que escrevi para ser lembrado no futuro seria esta:
“O Brasil é o paraíso dos canalhas”.
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em marketing e autor, entre outros, do livro “2020 O Ano Que Não Existiu – A pandemia de verde e amarelo”.
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