Fila da fome. Por José Horta Manzano
A proposta da ministra foi tomada ao pé da letra. Ontem, segunda-feira, os sem-dinheiro formaram a chamada “Fila da fome”. Foram milhares de participantes. A fila começava na porta do ministério e continuava por 30 quarteirões, visão impressionante…
Quinta-feira passada, os deputados argentinos debatiam a aprovação de um pacote de reformas apresentadas pelo presidente Javier Milei. O angustiante contexto é um país com inflação anual de 211% (pelos dados oficiais, nem sempre confiáveis). Como consequência direta, 45% dos habitantes estão abaixo da linha de pobreza.
Enquanto os parlamentares negociavam, um grupo de pessoas se dirigiu ao Ministério de Capital Humano para reclamar do corte de verba destinada a restaurantes comunitários.
A ministra veio em pessoa atender aos reclamantes. Vendo que não passava de um grupinho pequeno, pensou num jeito de resolver o problema. Perguntou: “Gente, vocês estão com fome?”. Sem lhes dar tempo de responder, emendou: “Venham um por um que vou anotar o n° do documento de identidade, o nome, de onde vem, e vão receber ajuda individualmente.”
A ministra não imaginou em que arapuca estava se metendo. O fato é que sua proposição extravazou do grupinho de reclamantes. A voz correu e logo todos os pobres de Buenos Aires (teoricamente 45% da população) já ficaram a par.
A proposta da ministra foi tomada ao pé da letra. Ontem, segunda-feira, os sem-dinheiro formaram a chamada “Fila da fome”. Foram milhares de participantes. A fila começava na porta do ministério e continuava por 30 quarteirões, visão impressionante.
Cartazes reclamavam: “Comer mal adoece”, “Emergência alimentar já!”, “Com a fome do povo não se negocia”, “No restaurante comunitário falta comida para as crianças”. E assim por diante.
Todos esperavam ser atendidos pela ministra, que não recebeu ninguém, com a desculpa de que “nenhum deles tinha agendado encontro comigo”.
Nossos políticos têm sorte de os brasileiros serem menos enfezados e reativos do que os hermanos. Por aqui, um ou outro é incomodado no avião ou no restaurante – coisa feia, rebotalho dos tempos do capitão, mas sempre menos visível que uma fila de três quilômetros de gente sacudindo cartazes.
De qualquer maneira, nem fila nem agressão verbal a políticos resolve problema nenhum. O único instrumento que tem o poder de mudar as coisas é o voto. Não adianta votar mal e, em seguida, xingar político ou fazer fila na rua portando cartaz com rima.
Mas que ninguém se preocupe. Votar mal e reclamar em seguida não é exclusividade destes países – no mundo inteiro é igual.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Argentina em 1974 era um país industrializado e com o melhor ensino médio da América Latina. Agricultura pujante.
Meio século depois com Zumbis nas ruas, praças e avenidas. E Pindorama? Já teve PIB maior que a China 🇨🇳 ao término da Ditadura Militar. Diferença? China 🇨🇳 investiu em sistema educacional, enquanto que o populismo do Peronismo e do Petismo nos assombram com as ideologias de non far niente pq todos são abrigados com os LOAS, pensão para presidiários, voto aos 16 anos e ensino médio com carência de professores graduados nas ciências básicas: Matemática, Física, Biologia e Química. E milhares de faculdades de Direito e Pedagogia. Cursos de cuspe e giz e com alta inculcação ideológica. Fui professora 42 anos, inclusive de Pedagogia e demais licenciaturas. Apenas o colírio que nos assaltam com o crime organizado altamente pujante.