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Um engano de apenas R$ 10 trilhões. Por Aylê-Salassiê Quintão

Deve ter assustado muita gente. Foi um erro de apenas R$ 10 trilhões. No artigo anterior cometi esse “pequeno (!!!) deslize”, ao registrar o PIB – Produto Interno Bruto do Brasil projetado para 2024. Anunciei (só pode ser a idade, ou estas malditas teclas!)  – R$ 11 bilhões para o PIB brasileiro em 2024, quando o valor correto estimado seria R$ 11 trilhões. 

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Um erro com esse tamanho é para derrubar qualquer um, até meus editores. Imagine, se o Projeto de Lei do Orçamento (PLO) tivesse sido aprovado com uma vacilada dessas. É possível acontecer. Primeiro, porque o governo deixa o PLO para votar nos último dia da Sessão Legislativa junto com dezenas de outras projetos que também que ver aprovados: um pacote para confundir. No caso do Orçamento para 2024, inflado por emendas e excessivos gastos eleitorais, o governo reuniu diversos projetos de lei destinados a aumentar a arrecadação de impostos para serem aprovados na rodada.

De fato, isso confunde todo mundo, e os parlamentares são salvos pela competência da Assessoria Legislativa do Congresso. Mas, se depender deles exclusivamente, muitos absurdos passariam nessas leis aprovadas de última hora. A maioria vota com o partido, preocupando-se prioritariamente com seus “jabutis” – a inclusão clandestina, em algum lugar, de reinvindicações pessoais.

Mas, voltando ao PIB. Por que ele é importante, sobretudo, para os cálculos macroeconômicos? Ele corresponde à soma dos bens e serviços finais produzidos em um período específico, e globalmente contabilizados: o mais comum é ao longo de um exercício anual. Como um indicador maior dos rumos e da saúde da economia ele possibilita, ao  Governo, aos bancos, às empresas e aos credores,   análises prévias sobre indicadores setoriais, positivos ou negativos, que alimentado pela expansão dos gastos públicos e, consequentemente, dos endividamentos internos e externos,  mexerão com as taxas de juros, impactando os  negócios, a empregabilidade, e o desenvolvimento nacional.

No Brasil o PIB é calculado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que não está sozinho nessa empreitada. O Banco Central, Secretaria da Receita Federal, FGV- Fundação Getúlio Vargas e até o fluído ministério do Planejamento participam do seu delineamento.

Embora politicamente importante entre os pares e credores internacionais, o PIB não é uma medida perfeita de bem ou mal-estar econômico, pois, em geral, não leva em conta fatores como desigualdade de renda, qualidade de vida e impacto ambiental da produção econômica. Daí porque o governo evita explicitar seu valor final – PIB da Indústria, PIB do Agricultura, PIB dos serviços e os saldos das transações correntes internas e externas – procurando avaliar seu índice de expansão ou de redução plenos.

Por exemplo para 2024, o PIB brasileiro está projetado, internamente, para crescer 2,3%, o que alcançaria um valor próximo de R$ 11,5 trilhões. Atenção, por aqui conhecemos o PIB em reais. A nível mundial ele é medido em dólar por organismos como BIRD-Banco Mundial, FMI-Fundo Monetário Internacional, OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e outras instituições regionais merecedoras de credibilidade global.

Para chegar aos R$ 11,5 trilhões anunciados,  a economia brasileira terá de crescer 2,3% no ano, e a taxa média de câmbio, baseada no dólar, não pode ficar acima de R$ 5,3 por U$ 1,0;  o barril de petróleo – o Brasil ainda importa óleo cru: US$ 5 bilhões, em 2023  – não custar mais que US$ 78,10; a inflação (IPCA) , que eleva os custos no mercado interno, desgasta o valor da moeda e aumenta o endividamento público, não passar de 3,5%; e a Selic (taxa básica de juros) estabilizar-se em  11,1%.

 Se este cenário se confirmar então poder-se-á chegar a um PIB de US$ 2,1 trilhões ou um pouco mais. Embora no setor privado estime-se um crescimento de 1,6 %, dentro do Governo há projeções para atingir patamares superiores de até US$ 2,8 trilhões. Como isso o Brasil avançaria duas casas entre os maiores PIBs do mundo, deixando para trás o Canadá (US$ 2,2 trilhões), em 9º lugar e a Itália (U$ 2,13 trilhões), em 10º lugar.

O Brasil está hoje em 11º lugar. Subiria, segundo as autoridades brasileiras, para ocupar o 9º lugar (ultrapassando US$2,3 trilhões) entre as economias mais poderosas do mundo.  Acima do Brasil estariam   Alemanha US$ 4,4 tri, em quarto lugar; o Japão, US$ 4,2 tri; a Índia, US$ 3,7 tri; o Reino Unido, US$ 3,3 tri; e a França, US$ 3,1 tri.  É nesse espaço que a economia brasileira quer penetrar.

Não custa sonhar. Superar esses dois últimos é muito difícil, pois eles não estão parados no tempo. Têm também projeções de crescimento, e trabalham com indicadores menos manipuláveis. Está difícil, mas é isso que se propaga.  Logo abaixo do Brasil (Canadá e Itália), mesmo nas condições de hoje, vem essa desafiadora e agressiva Rússia, que já quebrou duas vezes, em12º lugar), com um PIB de U$1,9 trilhão; e o México (13º lugar), US$ 1,8 trilhão.

O PIB mundial está projetado para alcançar em 2024 US$ 96,6 trilhões, com os Estados Unidos detendo US$27 trilhões, e a China, 17,7 trilhões.  Ora, são números que, pelos menos nominalmente, estão sendo trabalhados pelas instituições acima citadas.

Desta vez, se os números não estiverem corretos, devemos atribuir às variações maiores ou menores às das organizações citadas acima. Fui lá checar. Os indicadores delas também variam muito, não à ponto de cometer engano como aquele do artigo anterior.

Minhas desculpas aos editores, meus respeitos ao leitor.

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Aylê-Salassié F. Quintão –  Jornalista, professor, doutor em História Cultural, ex-guarda florestal do Parque Nacional de Brasília Vive em Brasília. Autor de “Pinguela: a maldição do Vice”. Brasília: Otimismo, 2018

 E autor de Lanternas Flutuantes:
Português –   LANTERNA FLUTUANTES, habitando poeticamente o mundo
Alemão – Schwimmende-laternen-1508  (Ominia Scriptum, Alemanha)
Inglês – Floating Lanterns  
Polonês – Pływające latarnie  – poetycko zamieszkiwać świat  

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