Zagallo

Morre Zagallo, nasce a lenda. Blog Mário Marinho

Zagallo

Mário Jorge Lobo Zagallo, 92 anos, deixa esse nosso vasto mundo e passa para um plano onde só os grandes sobrevivem – o mundo da lenda.

Eu torci para o Zagallo desde 1951, quando esse alagoano de 20 anos chegou ao Flamengo.

Na época, eu morava no Rio de Janeiro, onde o meu pai trabalhava na construção das bases da Cidade Universitária do Rio de Janeiro, na Ilha do Fundão.

Eu tinha oito anos de idade e acompanhava o futebol nas ondas potentes de um aparelho de rádio Invictus, que me traziam as vozes fortes dos locutores da também muito forte rádio Nacional.

Zagalo ficou no Flamengo até 1958 quando foi para o Botafogo. Fez parte do time que até hoje sei de cor: Garcia, Tomires e Pavão; Jadir, Dequinha e Jordan; Joel, Henrique Dida e Zagalo.

Na época, o nome dele era escrito com um L só.

Esse foi o time-base do Mengo no tricampeonato de 1953, 54 e 55. Desse time ainda fizeram parte o goleiro Chamorro, os atacantes índio, Paulinho e Babá, um ponta-esquerda de apenas 1,54 de altura.

Em 1958, Zagalo se transferiu para o Botafogo onde também fez história ao lado de craques como o goleiro Manga, Garrincha, Nilton Santos, Didi, Quarentinha.

Na Seleção Brasileira de 1958, Zagallo foi o “Formiguinha”, um ponta-esquerda que jogava em quase todas as posições, principalmente no meio-campo, ajudando Zito e Didi na armação daquele time histórico, campeão do Mundo na Suécia:

Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo.

O time da histórica final: Brasil 5, Suécia 2.

Zagallo
Zagallo ( 9 de agosto de 1931, Maceió, Alagoas/ 5 de janeiro de 2024, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro)

Zagallo assumiu a Seleção Brasileira, como técnico, em 1970, três meses antes do início da Copa do Mundo de 1958, substituindo João Saldanha.

Pouco depois da conquista do tricampeonato Mundial, no México, li um depoimento do craque Tostão falando sobre Zagallo.

Não lembro de todo o texto, mas, a síntese era um elogio a Zagallo, numa época em que muita gente dizia que havia sido João Saldanha que montara aquele time:

Zagallo foi fundamental, disse ele. O esquema de jogo que ele montou, tornou o time mais forte, mais compacto, mas eficiente. Zagallo é um dos maiores técnicos do Brasil.

Eu conheci Zagallo pessoalmente e convivi com ele durante os três anos em que ele trabalhou na Portuguesa de Desportos, de 1998 a 2001.

Conheci um profissional excelente, caráter íntegro, sério, bem-humorado – enfim, pessoa ótima para se trabalhar.

Em uma de nossas viagens com a Lusa, eu estava tomando café no hotel quando ele desceu e sentou-se à minha mesa.

Começamos a conversar e eu fiz a pergunta que me fustigava havia tempos:

– Zagalo, em 1998, na França, o Ronaldo realmente tinha condições de jogo?

E ele me respondeu calmamente.

– Eu fiquei sabendo da convulsão do Ronaldo depois que ele foi levado para o hospital. Era coisa séria, preocupante. Esperei até o último momento, quando fiz a preleção final para os jogadores. Aí, escalei o Edmundo para o lugar dele. Nos vestiários, faltando poucos minutos para entrar em campo, eis que aparece o Ronaldo, acompanhado do médico Lídio Toledo. Aí, como está? Perguntei. Ele respondeu: Pronto pra jogar chefe. Consultei o Lídio Toledo e ele deu o sinal de positivo. Então, veja você eu tinha à minha frente o melhor jogador do mundo, que me diz que está tudo bem e tenho o aval do médico. Só se eu fosse louco em não escalá-lo.

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Só para lembrar, Ronaldo foi eleito o melhor jogador do mundo Fifa em três ocasiões: 1996, 1997 e 2002.

Zagallo era, como já disse, muito bem-humorado e também muito sensível.

Certa vez chegamos, no hotel Ouro Minas, em Belo Horizonte, onde a Lusa jogaria pelo Brasileirão.

Era um começo de noite e quando entramos no hall de hotel, ele ouviu os acordes da música “Tema de Lara”. Deixou todo mundo e se dirigiu apressado rumo ao pianista que executava os últimos acordes.

Eu o acompanhei.

Com o celular na mão, ele se dirigiu ao pianista:

– Será que dá pra Você tocar outra vez? Essa é a música minha e da minha mulher.

O pianista, claro, começou os acordes da bela e apaixonante “Tema de Lara” que o Zagallo transmitia para sua amada Alcina.

E eu ao lado, também de celular em punho, transmitia para a Primeira Dama desse blog, Vera Marinho,  porque essa é também nossa música.

Vá em Paz Zagalo – coincidentemente, 13 letras como você gostava.

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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi FOTO SOFIA MARINHOdurante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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