Aquecimento global no Brasil. Por Caio Y. Tanaka e Pedro H. Mendes
Aquecimento global no Brasil: algumas expressões e a urgência de enfrentamento ao capitalismo
O mês de novembro de 2023 entra para história por registrar o dia mais quente do planeta nos últimos 125 mil anos. No Brasil, em cidades como Rio de Janeiro – RJ, os termômetros marcaram, em plena primavera, temperaturas acima de 45ºC. No mês de setembro, o Estado de São Paulo registrou um aumento de 102% do casos de atendimento médico em função das elevadas temperaturas, segundo Secretaria de Saúde do Estado de SP; no dia 17 de novembro de 2023, uma jovem carioca morreu por parada cardiorrespiratória, também ocasionada pelo calor. Nesse caso, chama a atenção o fato dessa jovem, no momento em que morreu, estar em um show de grande porte no qual, mesmo com a sensação térmica chegando a 60ºC, o público foi proibido de entrar no espaço com água e alimentos.
Não é por acaso que o planeta está cada vez mais quente, isso se deve ao modo de produção capitalista, que, no seu atual estágio de desenvolvimento, se caracteriza pelo ecocídio.
Destacamos que, ao passo em que a biosfera está cada vez mais destruída, as respostas institucionais propostas pelos Estados são cada vez mais insuficientes, o que aponta, como já é sabido pela comunidade científica internacional, para um cenário sem volta rumo à extinção da vida humana. Pode-se entender que eventos climáticos extremos são expressão da desigualdade socialmente produzida que sustenta o capitalismo, uma vez que prejudicam prioritariamente famílias que não conseguem se proteger – o agravamento dos desastres ambientais é balizado pelas condições materiais de vida, como por exemplo o tipo de habitação e o acesso a bens e serviços básicos.
A insidiosa face da falsa sustentabilidade – que se manifesta desde a Agenda 2030 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, até políticas neoliberais de privatização – permite evidenciar como a lógica de acumulação capitalista é perene, de modo que, a garantia da lucratividade ocorre em detrimento da manutenção da qualidade de vida da população mundial.
No que diz respeito ao Brasil, há um histórico de superexploração da natureza que tem marco na ainda não superada colonialidade do poder, cuja a perversa metamorfose pela qual vem passando, chega ao século XXI expressa na preponderância do agronegócio conjugada à proeminência da financeirização das políticas sociais
Do ponto dos movimentos sociais, luta-se contra a privatização da SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), um setor estratégico para mitigação dos efeitos do aquecimento global, sobretudo quanto às populações mais empobrecidas que sofrem com a falta de saneamento básico e a não distribuição de água potável. A privatização expressa a barbárie produzida pelo capitalismo, uma vez que o acesso à água que deveria ser universal, com a privatização, se tornará mais uma mercadoria de desigual possibilidade de consumo.
Tendo em vista o exposto, compreende-se que a manutenção das relações sociais capitalistas conformam um paradigma a ser superado se quisermos garantir a possibilidade de reprodução da vida humana, urge a necessidade de uma revolução do modo de produção e reprodução da vida. No Brasil existem exemplos de organização coletiva capazes de produzir experiências substantivamente distintas da produzida na lógica do capital – vide o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e Povos Originários, como grupamentos indígenas e quilombolas – as quais devem ser enaltecidas, alimentadas e protegidas como forma de enfrentamento ao capitalismo.
Por fim, além de fortalecer outras formas de organização políticas contrapostas ao capitalismo, faz-se necessário defender o acesso universal à água potável e ao saneamento básico, o que implica na negação da prática privatista referente a esse setor.
- Caio Y. Tanaka*: Ex-presidente da UEE-SP, jornalista, estudante de Serviço Social na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e militante da Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO).
- Pedro H. Mendes**: Educador popular, pesquisador do Observatório das Metrópoles – núcleo Baixada Santista, psicanalista, estudante de Serviço Social na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e militante da Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO).