Repeteco. Por José Horta Manzano
Repeteco… O tempo passou. Ontem, 13 anos depois da jactância de 2010, Lula reincidiu. Enviuvado e recasado, concedeu à atual esposa a mesma honraria com que tinha mimado dona Marisa. Janja da Silva acaba de ser agraciada com a Ordem de Rio Branco…
Luiz Inácio aprecia honrarias. Títulos de doutor “honoris causa” e condecorações estrangeiras, tem aos montes. Quando pode, estende também aos parentes as honras que recebe.
Todos ainda devem se lembrar que, em 31 de dezembro de 2010, último dia de seu segundo mandato, distribuiu passaporte diplomático a todos os membros de sua família – esposa, filhos e agregados. No dia seguinte, quando já não era presidente, criou uma situação de absoluta excepcionalidade: foi passar férias com a família no Forte Militar dos Andradas, litoral de São Paulo, à nossa custa. Ficou por isso mesmo.
Naquele mesmo 2010, aproveitando sua staliniana cota de popularidade, que roçava então os 80% de aprovação, fez uma bufonaria. Concedeu a Ordem de Rio Branco, mais alta honraria do Itamaraty, a Dona Marisa, sua esposa. E não deixou por menos: outorgou-lhe a ordem no mais alto grau, o de Grã-Cruz. A faixa com a medalha foi entregue pessoalmente por Lula em cerimônia oficial.
A imprensa se encarregou de difundir a notícia, que rodou o país e causou espanto. Proibido não é, mas é chocante por contrariar a ética e o decoro presidencial.
O tempo passou. Ontem, 13 anos depois da jactância de 2010, Lula reincidiu. Enviuvado e recasado, concedeu à atual esposa a mesma honraria com que tinha mimado dona Marisa. Janja da Silva acaba de ser agraciada com a Ordem de Rio Branco, no grau Grã-Cruz. Só que desta vez, pra fugir a eventuais reprimendas, Lula preferiu fazer a entrega numa cerimônia discreta, privada, sem imagens. Nem mesmo as fotos do Ricardo “Stuquinha” Stucker, fotógrafo pessoal do presidente, circularam.
Lula é malandro. Não corrigiu a agressão à ética, mas aprendeu a camuflá-la. Numa época em que tudo passa pelas redes sociais, imagem é crucial. Sem imagem, não há notícia. Ninguém mais lê informação de texto. Se a Globo não der (e como vai dar notícia sem imagem?), ninguém vai ficar sabendo.
Assim, fica o dito pelo não dito. E estamos entendidos.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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