Festa - temporada de festas e prêmios

Tempo de festa em Hollywood. Por Wladimir Weltman

Novembro chegou e com ele é tempo de eu me esquecer das mazelas do mundo, em especial do Oriente Médio e falar do meu assunto favorito – cinema.festa

Foi dada a partida para a temporada de prêmios de Hollywood. Domingo, dia 12 de novembro aconteceu em Nova York ao premiação dos Critics Choice Association aos melhores documentários do ano. O filme sobre o ator Michael J. Fox levou para casa cinco troféus ao todo, incluindo o de Melhor Documentário. E já começam a chegar via correio DVDs de filmes em busca de indicações e as revistas do ramo – The Hollywood Reporter, Variety e The Wrap — que recebemos de graça em casa. Mas a grande avalanche mesmo são os convites para projeções de filmes, seguidas de sessões de perguntas e respostas com algum ator ou diretor dos filmes, além de coquetéis e almoços. Em cinco dias vi 5 filmes e deixei de ver um montão de outros. Muitos coincidem em dia e horários, outros simplesmente não da tempo.

Entre os filmes e eventos que testemunhei quero dividir com vocês alguma informação, pois ainda vai levar um tempo pra vocês terem acesso a eles.

Comecei a semana indo à reinauguração do teatro The Egyptian, o primeiro grande cinema da Hollywood Boulevard, idealizado e construído pela mesma pessoa que criou o famoso Teatro Chinês – aquele com as pegadas e mãozadas de artistas na entrada. Eles foram obra do empresário Sid Graumman.

O cinema, que hoje pertence a cinemateca de Hollywood, foi totalmente restaurado no seu feitio original, pela Netflix. Ficou um brinco. Os jornalistas foram convidados a um coquetel no seu pátio de entrada, um tour do lugar com direito a historiador-guia e a projeção de um documentário sobre a restauração. O CEO da Netflix Ted Sarandos, fez discurso e se misturou aos jornalistas presentes. Para cinéfilos como eu, é sempre um prazer mergulhar no passado dourado de Hollywood.

Dias depois tive o prazer imenso de assistir RETRATOS FANTASMAS de Kleber Mendonça Filho numa sala privé de Beverly Hills, com direito a perguntas e respostas ao fim da projeção. Fiquei impressionado com a fluência de Kleber no inglês. Algo raro entre a maioria dos cineastas brasileiros. Fiquei mais impressionado ainda com o filme. Gostei muito. Belíssimo trabalho. Um filme que se localiza entre o documentário e a ficção. Um colega americano que havia visto um dia antes, falou maravilhas do filme. Fui esperançoso e não me decepcionei. Kleber sem dúvida é um dos melhores diretores de cinema do momento. E o seu RETRATOS FANTASMAS é um documento importante num país que, infelizmente, não tem memória.

Aí foi a vez de desfrutar outra projeção, desta vez na companhia do meu filho Francisco. Ele adora Anime e o filme THE BOY AND THE HERON é a mais recente realização do Studio Ghibli Japão. Segundo anunciado, é o último do mestre Hayao Miyazaki. Apesar de visualmente belíssimo, como tudo que o diretor japonês faz, tanto eu quanto meu filho concordamos que o roteiro deixa muito a desejar. Ainda assim recomendo assisti-lo.

Depois do filme fomos convidados a um coquetel no topo do edifício da agência de talento CAA em Century City e lá encontrei um dos brasileiros de maior sucesso no mundo do cinema hoje, Daniel Dreiffus, um dos produtores do premiadíssimo NADA DE NOVO NO FRONT. Daniel é um cara muito bacana e não se furtou a tirar foto com a gente.

Nessa maratona cinematográfica a parada seguinte foi o filme coreano CONCRET UTOPIA do director Um Tae-Hwa, com o ator de filmes de ação (RED 2, GI.JOE 1 & 2, THE MAGNIFICENT SEVEN) Lee Byung-Hun. Um filme de 18 milhões de dólares (como nos contou o produtor Seung Min Byun), mas que parece ter sido feito com 200 milhões. Trata-se de uma fantasia distópica de uma Seul totalmente destruída por um terremoto de proporções bíblicas. No meio dos escombros da cidade um único imenso edifício sobra. E seus moradores passam por um processo similar ao do livro “O Senhor das Moscas”. Realmente excelente como quase tudo que o cinema coreano tem produzido.

festaComemorando a projeção, o distribuidores do filme nos convidaram para um almoço a la Hollywood no chiquérrimo hotel Sunset Marquis onde anos atrás entrevistei Cortney Love. O Marquis fica próximo do Sunset Strip e é um dos preferidos dos rock stars. No almoço fiquei conhecendo o astro Lee Byung-Hun. Um cara simpaticíssimo. À noite, num coquetel do mesmo filme, ele veio direto falar comigo e meu amigo americano, o jornalista Steve Goldman e topou tirar uma selfie com a gente. Eu sempre desastrado acabei passando o aparelho pra ele, que foi quem bateu a foto.

Ontem foi a vez do cinema Frances nos prestigiar. Assisti ao filme TASTE OF THINGS do vietnamita/francês Tran Anh Hung, estrelado por Juliet Binoche e seu ex-companheiro Benoît Magimel. O filme é uma joia rara. Ele trata da relação desse chefe Dodin-Bouffant e sua cozinheira-amante Eugenie. Poucos diálogos, cenas lindíssimas numa França campestre do fim do século 19, e de uma  cozinha rústica onde se criam os pratos mais incríveis. Fiquei a sessão inteira com a boca cheia d’água e quando chegou a hora das ‘perguntas e respostas’, a boca transbordou. É que quem veio falar do filme foi a estrela Juliet Binoche. No coquetel, que se seguiu, tirei uma foto com ela, tomei vinho, comi queijos, pão francês, e crepe de doce de leite com morango. Uma noite perfeita.

Por favor, se você gosta de cinema francês e de comida, não pode perder esse filme. É de lamber os beiços.

E hoje de manhã, quando me sentei pra escrever estas maltraçadas linhas, participei de uma conferência-zoom com nada menos que Jodie Foster e Annette Bening a respeito de um filme que já está numa das streaming e que ninguém com mais de 50 anos pode perder. Trata-se de NYAD sobre a saga real da nadadora americana Diane Nyad e sua emocionante travessia a nado de Cuba à Florida aos 60 anos de idade. Uma inspiração para mim também na casa dos 60 e que há 4 meses resolvi voltar a universidade para obter o meu Mestrado em Roteiro de Cinema e TV.

Eu sei que vai ter gente invejosa que vai botar olho gordo na minha vida, pois devem achar que tudo aqui é luxo e riqueza. Adoraria que fosse. Não é. Vida de aposentado, mesmo nos EUA, não é um mar de rosas. Mas graças a meu longo e tortuoso caminho como jornalista, ganhando mal e porcamente, conquistei um lugar entre meus colegas de profissão americanos nessa maravilhosa instituição que é a Critics Choice Association, que me permite ter acesso a essas estrelas e suas obras em primeira mão, exatamente para reportar pra vocês. Curtam. Prometo mandar mais dicas e novidades de Hollywood nessa temporada de prêmios que se inicia.

Como dizia Ibrahim Sued – À demain!

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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo

________________________________________________________________________(DIRETO DE LOS ANGELES)

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