Apagão da privatização. Por Adilson Roberto Gonçalves
… Esse apagão após o temporal no estado de São Paulo, em especial na capital, é um alerta para as consequências da privatização dos serviços públicos. A empresa tem por princípio o lucro…
Se de um lado as mudanças antrópicas no ambiente já se mostram irreversíveis para o aquecimento global e aumento da frequência dos eventos climáticos extremos, de outro, a ciência da análise da informação múltipla tem se desenvolvido para lidar com volume enorme de dados e fazer previsões cada vez mais precisas.
Assim, a formação dos ciclones extratropicais é acompanhada desde os primeiros sinais de condensação de água que geram nuvens específicas, verificadas por dados e imagens de satélites. A dinâmica inicial desses eventos junto ao conhecimento que tem sido acumulado permite prever as principais áreas que serão afetadas por ventos e tempestades, como foi o que devastou boa parte do estado de São Paulo após o feriado de Finados deste ano.
Se as equipes que tratam de calamidades públicas estivessem de prontidão, junto com as empresas que têm seu principal serviço nas ruas e sujeito a chuvas e trovoadas, talvez não teríamos vivido o retorno à idade pré-industrial em que a região metropolitana de São Paulo ficou mais de três dias na escuridão total, sem luz e sem energia elétrica. O que faltou? Faltou gente, o principal ativo que foi cortado quando da privatização do sistema elétrico nacional.
Esse apagão após o temporal no estado de São Paulo, em especial na capital, é um alerta para as consequências da privatização dos serviços públicos. A empresa tem por princípio o lucro, ao invés do bem estar social que teria se fosse uma extensão de um órgão público. Se houvesse planejamento adequado, após a notícia de possibilidade de fortes ventos, repito, as equipes já deveriam estar mobilizadas, pois sempre acontece a queda de árvores com danos à fiação elétrica.
Alguma vez foi diferente? Reclamam de inchaço no funcionalismo público – empresas públicas aí incluídas -, mas é de gente que se precisa numa hora dessas. No privado, a lógica é diminuir custos cortando principalmente pessoal. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) é a próxima da lista e não precisa ser vidente para saber o que vai acontecer em relação ao abastecimento de água e tratamento de esgoto no estado.
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– Adilson Roberto Gonçalves – pesquisador da Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista. Mantém o Blog dos Três Parágrafos. Vive em Campinas.