O combate às milícias

O combate às milícias. Por José Horta Manzano

…até os mosaicos de pedra portuguesa de Copacabana sabem que será impossível “erradicar” as milícias enquanto elas estiverem contaminadas (e protegidas) por políticos politiqueiros e policiais indignos do uniforme que vestem…

O combate às milícias

Não sou grande conhecedor do mundo das milícias. Pelo que tenho lido, são organizações paramilitares especializadas em negócios escusos, como por exemplo achaque à população civil a fim de extorquir dinheiro de cidadãos indefesos, extorsão feita sob ameaça de retaliações. Entendo também que são muitos e que estão especialmente presentes na cidade e no estado do Rio de Janeiro.

Às vezes chego a acreditar que jornalistas também possam estar enfronhados nesses assuntos, tal é a familiaridade com que falam do “Abelha”, do “Zinho”, do “Faustão” e de outros milicianos de alto coturno. Como é que se faz pra conhecer o nome dos integrantes de um bando de elementos fora da lei?

Há suspeitas de que nosso ex-presidente Bolsonaro e seus filhos tenham ligações bastante chegadas com milicianos. Nada foi ainda provado, mas a desconfiança permanece. Talvez nunca se venha a saber. Quando figurões estão envolvidos, mais vale uma bela mentira que a feia verdade.

Há mais do que suspeitas da existência de ligações promíscuas entre milicianos, políticos e até militares. Testemunhos reforçam essas conexões. Volta e meia, os próprios fatos se encarregam de corroborar esse convívio – contra a natureza, diga-se – entre delinquentes e os que, em tese, deveriam dar-lhes voz de prisão.

Estes dias, após o assassinato pela milícia de um grupo de médicos que visitavam o Rio para um congresso profissional, a população sentiu o tranco. Enquanto as vítimas são pobretões de quem se extorque uma “comissão” pelo direito de usar água ou eletricidade, a boa sociedade olha para o outro lado e faz que não viu. No dia em que quatro doutores são abatidos com rajadas de metralhadora na porta de um hotel estrelado, a coisa muda.

O governo Lula estuda enviar a tropa para “erradicar” milicianos da paisagem carioca. É permitido, desde já, apostar todas as fichas no fracasso da missão. Não faz sentido.

Em primeiro lugar, tropa não é polícia. Militares são formados para defender nossas fronteiras e para operar na selva, longe do habitado. Resolver crises urbanas não é especialidade deles.

Em segundo lugar, até os mosaicos de pedra portuguesa de Copacabana sabem que será impossível “erradicar” as milícias enquanto elas estiverem contaminadas (e protegidas) por políticos politiqueiros e policiais indignos do uniforme que vestem.

O melhor caminho para a erradicação de grupos milicianos começa pelo combate à promiscuidade que os envolve com políticos de baixa extração e policiais sem caráter. É menos vistoso e bem mais complicado que mandar recrutas, mas é esse o caminho. Sem isso, o envio da tropa será apenas inócua ação de fachada para impressionar a galera.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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