A Experiência do Judeu Brasileiro. Por Meraldo Zisman
Marginalidade e Faixa de Gaza:…o judeu brasileiro marginalizado é aquele que, devido a fatores como migração, educação, casamento ou outras influências, se afasta de um grupo social ou cultural sem conseguir se ajustar completamente a outro…
Em meio aos tristes acontecimentos que marcaram o dia 7 de outubro de 2023 e as manifestações que erroneamente a esquerda brasileira classificou como antijudaicas, é fundamental refletir sobre o antijudaísmo estrutural que afeta profundamente a comunidade judaica no Brasil.
Esse fenômeno nos leva a explorar a questão da marginalidade intrínseca que muitos judeus brasileiros enfrentam, resultando em angústia e desafios significativos em suas vidas. O sociólogo americano Everett V. Stonequist (1901 – 1979), amplamente reconhecido por sua obra “O Homem Marginal,” publicada em 1937, oferece uma perspectiva valiosa ao afirmar que o indivíduo marginal se encontra em um estado de incerteza psicológica entre dois (ou mais) mundos sociais.
Essa incerteza reflete dissonâncias e harmonias, repulsões e atrações presentes em cada um desses mundos. Muitas vezes, a marginalidade social está ligada de forma implícita, se não explicitamente, ao nascimento ou ascendência do indivíduo, que resulta na sua retirada de um sistema de relações de grupo.
Nesse contexto, o judeu brasileiro marginalizado é aquele que, devido a fatores como migração, educação, casamento ou outras influências, se afasta de um grupo social ou cultural sem conseguir se ajustar completamente a outro. Como resultado, encontra-se à margem de ambos, não pertencendo plenamente a nenhum grupo. Barreiras culturais tornam difícil a integração no grupo majoritário e a identificação com a cultura judaica é, muitas vezes, o motivo da segregação. É importante salientar que a marginalidade não pode ser reduzida a termos como pobreza, normas, valores, conhecimentos e crenças. Esses elementos são componentes essenciais da identidade social, inclusive a judaica, mas as condições precárias de habitação, alimentação, saneamento e a falta de serviços urbanos podem criar desigualdades que afetam a comunidade judaica no Brasil.
O acesso limitado à educação de qualidade e à qualificação profissional pode acentuar essa marginalização. O judeu brasileiro marginalizado é, em muitos aspectos, uma figura híbrida, vivendo entre dois mundos e em duas sociedades simultaneamente. Essa dualidade resulta em memórias, valores e tradições distintas, levando a atitudes ambíguas e, não raramente, à falta de integridade moral e desafios à saúde mental.
É possível notar uma maior incidência de problemas de saúde, sobretudo mental, entre aqueles considerados “marginais”. É crucial compreender que, apesar das diferenças naturais entre grupos e sociedades, qualquer tipo de preconceito, inclusive o antijudaico, é uma ofensa à humanidade. Portanto, é imperativo repensar e reformular nossa sociedade, criando ambientes mais inclusivos e justos para os judeus brasileiros, respeitando sua rica herança cultural e eliminando barreiras que perpetuem a sua marginalização.
É importante salientar que a discriminação e a exclusão forçada de qualquer indivíduo de um grupo por conta de sua religião, etnia, raça ou origem são injustificáveis e prejudiciais à toda a sociedade.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
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