Fernando de Noronha. Por José Horta Manzano
… as décadas passaram e os territórios se emanciparam e viraram estados. Quanto a Fernando de Noronha, ao perder o status de território, foi anexado ao estado de Pernambuco. Essa anexação foi mais simbólica que outra coisa…
O arquipélago de Fernando de Noronha sempre foi tratado como o que é: um posto avançado da nação, um retalhinho de Brasil espichado a quase 400 km da costa, um confete estratégico que nunca deixou de receber as devidas atenções por parte da autoridade federal. No passado, pelo menos, era assim.
Este blogueiro, nas aulas de Geografia tomadas décadas atrás, aprendeu que Fernando de Noronha era um território federal – ao lado de Acre, Amapá, Rio Branco e Guaporé, com governador nomeado diretamente pelo Poder central. Isso mostra a importância dessas regiões de fronteira.
As décadas passaram e os territórios se emanciparam e viraram estados. Quanto a Fernando de Noronha, ao perder o status de território, foi anexado ao estado de Pernambuco. Essa anexação foi mais simbólica que outra coisa. Geograficamente, o arquipélago continua onde sempre esteve, ocupando um posto avançado como se dissesse ao navegante de passagem: “Aqui começa o Brasil”.
Já faz alguns dias que a mídia publica com insistência a história de um jovem brasileiro com sobrenome de chef francês que, enricado da noite pro dia, ficou bilionário e agora vai se casar. Para isso, o rapaz, com seu ar de adolescente estudioso, decidiu “fechar” o antigo território federal. Requisitou todos os alojamentos para hospedar seus 600 convidados. “Ninguém mais entra na ilha” – parece dizer. “Pelo espaço de um fim de semana, ela é minha.”
Posso parecer implicante, mas esse tipo de comportamento me choca. Há alguns pontos que me incomodam. Acho um acinte, num país em que há gente passando fome, jogar dinheiro pela janela dando uma festa de arromba e ainda sair por aí anunciando de alto-falante. A discrição nunca fez mal a ninguém.
A decisão de “fechar” um antigo território federal também me surpreende. Nem sabia que fosse possível. Soa como se alguém se apossasse de um símbolo da República, digamos, do Palácio do Planalto ou do Museu Paulista, para dar uma festa particular. Fica esquisito.
Ao fim e ao cabo, presenciamos um xilique típico de nouveau riche, de alguém que subiu rápido demais. E cedo demais na vida. Lembra os caprichos de certos futebolistas cujo nome nem preciso citar.
Terão seus méritos, mas me parecem indivíduos um tanto quanto ocos.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Direito a fechar a ilha até tem, basta conseguir alugar todas as acomodações sem que tenha que remover quem o tenha feito anteriormente; coisa simples porque Fernando de Noronha tem limite de entrada de turistas como convêm aos ambientes com alta exigência de preservação ambiental.
Mas a falta de discrição fez mal ao jovem, pois alegado ex-sócio conseguiu enfim apresentar intimação justamente por a sua localização em território nacional, vive no exterior, ter sido anunciada a tempo de enviar oficial de justiça.