Vanitas. Por José Horta Manzano
Vanitas… A característica que une todos esses que hoje continuam sendo colhidos pela PF – em casa, ao despertar – é uma só: o excesso de vaidade. A vaidade é característica de toda a humanidade. Quem é que não gosta de ver apreciadas suas qualidades e seus méritos? Em excesso, porém, é perdição…
“Esperteza, quando é muita, come o dono” é bordão atribuído a Tancredo Neves. O velho político mineiro tinha razão de sobra. Toda característica humana, pra ser útil ao dono, tem de ter medida. Qualidade em excesso, ainda que não chegue a “comer o dono”, acaba dando prejuízo a ele. Até traços de personalidade de menor potencial agressivo, quando são excessivos, deixam de ser qualidade para tornar-se defeito.
Penso nos desvairados que engrossaram aquela turba do 8 de Janeiro em Brasília. Como milhares de conterrâneos, assisti ao vivo àquela desmoralizante demonstração de primitivismo. Imantado, segui até o fim, até repórteres cederem lugar a comentaristas.
Vi aquele mundaréu de gente – quantos milhares?. Vi também uma fila de algemados sendo levados a algum centro de triagem. Pensei: “Com essa meia dúzia de policiais, nunca vão conseguir fichar toda a multidão!”. Depois fiquei sabendo que, assim mesmo, tinham conseguido pegar uns mil abilolados. Com o passar dos meses, a maioria foi liberada.
O que eu não imaginava é que, quase um ano mais tarde, ainda estariam buscando, encontrando e prendendo invasores. São pessoas que, embora tendo conseguido escapar ao flagrante no dia do golpe fracassado, deixaram todos os elementos de uma autoincriminação voluntária.
Estou falando das “selfies” que todos fizeram questão de fazer. Houve até quem tenha feito transmissão ao vivo sentado na poltrona de ministro do STF! No meu tempo, além de bandido, a gente diria “folgado”.
Ô gente de pouca inteligência! Depois de passar anos vivendo dentro de uma bolha e se informando por grupos de uótisápi, taí o resultado: acreditando na babozeira que circulava entre os devotos, estavam convencidos de ter vencido a parada. Pra você ver o mal que essa gente que vive à margem da sociedade real faz a si mesma. Acabam se tornando marginais, pessoas que vivem na marginalidade.
A característica que une todos esses que hoje continuam sendo colhidos pela PF – em casa, ao despertar – é uma só: o excesso de vaidade. A vaidade é característica de toda a humanidade. Quem é que não gosta de ver apreciadas suas qualidades e seus méritos? Em excesso, porém, é perdição.
Não fossem os “selfies “ e as “laives”, os que não foram colhidos na rampa de saída no dia das invasões dificilmente seriam identificados e presos. Foram alcançados pela enorme vaidade e pela inacreditável bobeada.
Vaidade (do latim vanitas, vanitatis) é a qualidade do que é vazio, vão. Vão é um espaço onde não há nada. A vaidade é vazia e, como todo saco vazio, não pára em pé.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Caro Manzano,
A soberba é um dos grandes defeitos do ser humano; alguns a praticam mais, outros menos, mas em algum momento ela aparece.
As pessoas que se envolveram no episódio de 8 de janeiro, assim fizeram por livre e espontânea vontade e, com um pouco de inteligência saberiam das consequências.
Quando a soberba se apossou de alguns – grande maioria – não bastou estar, mas precisavam mostrar que estiveram e onde.
Resultado: facilitaram a tarefa de quem os procurava por puni-los.
Hoje, talvez pensando com mais tranquilidade, estejam se lamentando…
Pena, deveriam primeiro ter pensado se valia a pena estar em tal momento e, se mostrar sua participação não foi um ato de burrice, movido pela soberba.
Abraço.
Inté!
SP 28/09/2023
Pois é, caro Xará, se arrependimento matasse, era pra muito caixão estar saindo da Papuda todos os dias.