Nada como um dia após o outro. Por José Horta Manzano
… O presunçoso que ousa dar diretivas à nação sem estar capacitado acaba se estrepando. Nada como um dia depois do outro…
Estava pondo ordem numa gaveta quando encontrei uma manchete graciosa. Foi publicada pelo Estadão em agosto do pré-diluviano 2018, num momento em que Lava Jato, Moro e Dallagnol estavam na crista da onda. Era um tempo em que muita gente fina ainda acreditava que Bolsonaro, então em campanha, seria um presidente limpo, que acabaria de vez com a corrupção no mundo político.
Como um farol da nação, o xerife Dallagnol, hoje caído em desgraça, se permitia distribuir conselhos ao eleitorado nacional. Recomendava que “ninguém votasse em envolvidos em delações ou inquéritos”.
O mundo dá voltas. Cinco anos depois desse episódio, entalado até o pescoço sob o peso de inquéritos e condenações, Dallagnol abandonou a carreira, entrou para a política, foi eleito, acabou destituído. Continua esperneando, mas sabe-se que não terá sucesso em recobrar o mandato perdido.
Os conselhos que ele dava eram bons e continuam válidos. O chato é que o ex-procurador passou para o outro lado do espelho e agora também faz parte dos candidatos a serem evitados. Pisou no pé de muita gente e vai ser difícil se redimir.
O presunçoso que ousa dar diretivas à nação sem estar capacitado acaba se estrepando. Nada como um dia depois do outro.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Caro Manzano,
Incrível como há uma mudança de mudança de opinião dos “influenciadores, palpiteiros e entendidos (sem a conotação que tinha nos anos 70) ” sobre a Lava Jato.
Bastou o governo, judiciário e políticos em geral começarem a atacar a operação investigativa mais ousada e séria que houve no país, visto que ela aos poucos se aproximava de “intocáveis” para os antes falavam até em erguer estátua ao juiz Moro, se voltassem contra.
Com uso de “provas” obtidas de maneira espúria, que como aprendi como Bacharel em Direito, jamais poderiam ser utilizadas, armou-se todo um processo de desconstrução e como queria Romero Juca “ estancaram a sangria”.
Resumo: hoje tudo pode, pois jamais haverá – pelo menos na minha passagem pela terra – investigação séria e, os poderosos continuarão a roubar o erário, a rir do povo, a se locupletar bem ao estilo do personagem do Chico Anísio.
Falando o mais do mesmo: bandidos vencem novamente; mocinhos lutam para sobreviver aos ataques dos mais variados lados, dos furiosos por eles terem um dia a ousadia de desafia-los.
Outros já deram “conselhos” aos eleitores – vejo isso todo dia nas palavras das especialistas- e não são ridicularizados; mas Dallagnol, hoje em desgraça por obra e graça do sistema tem que ser, pois afinal é típico de quem pode, chutar “cachorro morto”, já que ele não oferece nenhum risco de morder.
Inté!
SP 28/09/2023