Do trabalhador precário ao trabalhador supérfluo.Por Fernando Gabeira
…De modo geral, o trabalhador informal se sente um lutador solitário, um empreendedor. É difícil imaginá-lo contido em organizações sindicais, muitas delas surgidas no contexto do disciplinado trabalho fabril…
PUBLICADO ORIGINALMENTE EM O GLOBO E NO SITE DO AUTOR, www.gabeira.com.br, EDIÇÃO DE 25 DE SETEMBRO DE 2023
Digo isso porque, assim como na era digital, nosso campo de comunicações sente fortemente o impacto das mudanças. Com a chegada da IA, a situação não é diferente: ela faz o trabalho de redatores, tradutores, transforma textos em vídeos, desenha ilustrações, planeja um novo site em questão de minutos.
Na verdade, segundo alguns autores, a IA poderá não só roubar os empregos de homens comuns, como os dos próprios Lula e Biden. O pensador israelense Yuval Harari tem enfatizado a possibilidade de a IA assumir o controle de tudo o que seria potencialmente muito perigoso.
Todas essas nuvens no horizonte não podem deter a esperança. A ideia de dignidade do trabalho, exposta pelos dois grandes países da América, envolve também o combate à discriminação contra trabalhadores e trabalhadoras LGTBQIA+ e minorias étnicas.
O que pode fundamentar a esperança é a compreensão de que esse movimento precisa acontecer numa transição energética e econômica para fazer frente às mudanças climáticas. É uma tarefa gigantesca, que pode resgatar a dignidade do trabalho no contexto de uma economia com milhares de empregos verdes.
Somos simultaneamente ameaçados pela emergência climática, pela precariedade e até pela inutilidade do trabalho. A solução para esse conjunto de ameaças não é fácil, nem pode ser contida num simples manifesto. Mas a direção está dada. Coincidentemente, num outro artigo que publiquei na mesma semana, enfatizava a importância das mudanças climáticas e da transição econômica como pauta inescapável.
Assim como lembrei no artigo, pautas são subjetivas. Não há nenhuma possibilidade de imposição. Mas já era mais do que hora de o Brasil virar a chave, assumir sua riqueza natural e explorá-la de forma sustentável e humana.
Creio que vocalizava nos artigos uma preocupação que também está contida no documento dos dois países. Eles suscitam a esperança, e eu falava sobre a possibilidade de termos alguma coisa a que possamos chamar de futuro. Respeitadas todas as divergências, aí está uma concordância essencial.