Crise no Festival de Cinema de Berlim provocará boicotes? Por Rui Martins
… Ao provocar a crise, a ministra Roth se esqueceu de que a crise pode levar à perda de patrocinadores do Festival. E isso é perigoso, pois já existe dentro do evento um clima de redução de gastos…
Duas semanas depois da demissão do diretor-artístico do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Carlo Chatrian, provocada pela ministra alemã da Cultura e Mídia, Claudia Roth, a crise não terminou.
O número de produtores e realizadores internacionais signatários de uma carta aberta criticando severamente a ministra do Partido Verde, na coligação alemã vermelho-verde, aumentou e já ultrapassa as 400 pessoas, entre elas Martin Scorsese, Paul Schrader et Kristen Stewart, Ryusuke Hamaguchi, Radu Jude, Joanna Hogg et Tilda Swinton, Claire Denis, Olivier Assayas et Bertrand Bonello, Sergei Loznitsa, Jean-Pierre Dardenne, Apichatpong Weerasethakul, Angela Schanelec, Christoph Hochhauser, o diretor do Festival de Veneza, Alberto Barbera, e importantes nomes alemães como Margarethe von Trotta, Ulrike Ottinger, Maren Ade, Christian Petzold e Andreas Dresen.
O jornal norte-americano Global Happenings cita as últimas três crises envolvendo o ministério da Cultura, mostrando que, em 20 meses de mandato, Claudia Roth acumula manchetes negativas. As crises, segundo o jornal, são: o escândalo da exposição Documenta, acusada de antissemitismo, o atraso na reforma da Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano e a deterioração das melhorias do Museu de Arte. E o GH conclui: Roth já falhou?
O fato de haver intervenção política numa organização de arte como a Berlinale, ou Festival de Cinema de Berlim, é inédito e pode fragilizar a ministra Roth, criticada pelo mundo do cinema por sua política cultural. Em síntese, a ministra deveria criar condições de funcionamento do Festival, mas sem intervir na sua estrutura. No caso de crise financeira afetando o funcionamento do evento, como parece ser o caso, caberia à direção do festival efetuar os cortes necessários.
Ao provocar a crise, a ministra Roth se esqueceu de que a crise pode levar à perda de patrocinadores do Festival. E isso é perigoso, pois já existe dentro do evento um clima de redução de gastos. As notícias filtradas dizem que o Festival terá um terço a menos de filmes e que algumas mostras serão desativadas.
A demissão de Carlo Chatrian poderá ser interpretada como crise de qualidade e provocar uma espécie de boicote, com os produtores e realizadores decidindo levar seus novos filmes a outros festivais. Pior ainda, as pessoas capacitadas para a direção poderão rejeitar o convite para o cargo em apoio a Chatrian.
- Rui Martins também está em versão sonora no Youtube, em seu canal –
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Rui Martins – é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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