Elite poderosa financia ilusões. Por Aylê-Salassié Quintão
Elite…Lula, com a sua explosão retórica, estaria sendo usado por estranhas forças no campo da política e da economia. Tudo, no Brasil e em outros lugares no mundo, parece estar sendo desconstruído. As novas narrativas apagam vozes de políticos, jornalistas e juízes, que reinterpretam casuisticamente as leis e até a Constituição…
O Lula convidou Putin para visitar o Brasil, e garantiu que, aqui…, ele não será preso. O atual presidente brasileiro é dado a atitudes retóricas extravagantes, convicto de que fala em nome de 220 milhões de cidadãos. Eis aí o pingo nos “is“! Em seu giro pelo mundo, acompanhado de Janja e Celso Amorim, tem desafiado a ordem e a justiça na pretensão de “retomar o tal protagonismo do Brasil” na política mundial: “Nada fora do multilateralismo”, adverte a secretária-geral do Itamarati, Maria Laura, ex-chefe de Gabinete de Amorim.
Nosso Presidente parece se ver suficientemente empoderado no cenário. No caso do líder russo, ignorou que Putin foi condenado pelo sequestro de 200 crianças, e por mantê-las em cativeiro. Não entrou na acusação a invasão gratuita da Ucrânia, com a morte de milhares de civis, e até de Prigozin, seu amigo, acusado de traição. Ele teve um fim igual ao de Camilo Cienfuegos, em Cuba. O companheiro de Fidel, com um pequeno grupo guerrilheiro, foi quem tomou Havana (1959). Fidel desembarcou lá quase dez dias depois. Tinha ciúme da popularidade do amigo. Resultado: morreu na queda de um avião.
Esses personagens da política tem quase sempre comportamentos inusitados e escatológicos. Ajustam-se ideologicamente para encobrir promessas, contradições, tramoias de que participaram, e até assassinatos. A pergunta que incomoda é que mundo as ideologias estão pretendendo construir, particularmente, no Brasil. Não parece ter nada a ver com a democracia que pregam, e desrespeitam. Quem financia as ilusões
Nosso “globetrotter”, com declarações espetaculosas e acordos de conteúdos e sentidos duvidosos, quer, agora, da Organização das Nações Unidas (ONU), um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança, com direito a voz e veto, prerrogativa que se transformou, de fato, em privilégio de somente cinco Estados, dos 15 de seus membros do Conselho: Rússia, China, Estados Unidos, França e Inglaterra. Vetam a si mesmos.
Com suas teses voláteis e um alto grau de autoconfiança, Lula parece ter caído na malha de uma conspiração mundial, fantasiada com a ideia da união dos países do hemisfério Sul contra o Norte, representada pelo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). É sofismático, porque a Rússia e a China estão nos hemisférios Norte, o Brasil e a Índia localizam-se em ambos, que chamam de margem equatorial. Assim, de manobra em manobra, o Presidente brasileiro encontra soluções próprias nos discursos alheios, como a cultivada para preservação da Amazônia.
A médio prazo, é uma espécie de contrato de arrendamento, sob forma de quotas, por tempo determinado, de parcelas do bioma amazônico, para governos e empresas nacionais e estrangeiras, equivalentes ao volume de produção de gases tóxicos e os impactos na biodiversidade. São os “créditos de carbono” que chancelam a continuidade da produção desses gases ou dos desmatamentos em outros lugares no Brasil ou no mundo. Uma metodologia polêmica. Precedente perigoso para o futuro da região, sob o controle, ainda do Brasil. Apropriou-se também da ideia da “transição energética” que consiste na substituição dos combustíveis fósseis (petróleo, gás, carvão, urânio) pelos biocombustíveis. Lembra Garrincha: “O senhor já combinou com os russos?“. E com os árabes?
São temas que estão em todos os discursos do Presidente brasileiro, aos quais deverá retornar ainda este mês na abertura da Assembleia Geral da ONU, quando em sua fala poderá defender ainda a suspensão de sanções a países belicistas e a adoção, pela ONU, do português como língua oficial da Organização, sonho do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, um advogado e acadêmico reconhecido na comunidade de língua portuguesa.
Dispensando a sabedoria da História e os conselhos de alguns de alguns ministros, o Presidente brasileiro está embaralhando a política externa e também a política interna, com ideias de consistência duvidosa, bem como a administração do Estado no Brasil. Internamente, adotou, sem meias línguas, um modelo de gestão da máquina do Governo com a troca de favores pessoais com políticos, até com inimigos…, com o dinheiro público; e sinalizou para os membros mais inseguros do Judiciário e do Parlamento com a inspiração de uma mudança radical nas linhas discursivas e na interpretação das leis. Só nesse ano já consumiu 12 bilhões de reais no pagamento das chamadas – até pejorativamente – de “emendas parlamentares”, que, no governo anterior, era prática conhecida como “orçamento sigiloso” e, um pouco antes, de “mensalão”.
Com o Presidente viajando todo tempo para o exterior, levando consigo sempre um ministro ou outro para servir de “papagaio de pirata”, o Governo parece totalmente embaralhado nos casuísmos internos e convicções externas, ao inspirar-se nos ordenamentos políticos – e não jurídicos – de Ji Jinping, de Vladimir Putin, Maduro, Ortega, da Kirchner e outros – com a ajuda dos sussurros de Amorim . A própria democracia no mundo é, para o brasileiro, “relativa”: repetição do conceito usado pelo militar Ernesto Geisel, o penúltimo ditador brasileiro, que era visto como “general bonzinho, e assassino consciente” (Veja).
Nesse ritmo desenfreado, aparentemente ensandecido, depois de ter recebido com honras no Palácio do Planalto o ditador sanguinário da Venezuela, Nicolás Maduro, não é de se estranhar que com sua nova lista de amizades, inaugure, na contra mão, um Brasil com ligações estreitas com regimes autoritários, ditaduras mesmo, procurando encaminhar ideias de desqualificação das instituições , entre as quais a Corte Internacional de Justiça , organização da qual o Brasil faz parte desde Rui Barbosa. Como país soberano, o Brasil estaria acima disso. Sem meias palavras, age como se fosse porta voz de regimes autoritários (de esquerda?!…) ou expressa-se coniventemente com as atitudes anti-humanista de Vladimir Putin. Aviso: É outra cultura!
Aparentemente, Lula, com a sua explosão retórica, estaria sendo usado por estranhas forças no campo da política e da economia. Tudo, no Brasil e em outros lugares no mundo, parece estar sendo desconstruído. As novas narrativas apagam vozes de políticos, jornalistas e juízes, que reinterpretam casuisticamente as leis e até a Constituição. Os brasileiros estão condenados a ouvir novos disparates daqui a uma semana na abertura da Assembleia Geral da ONU. Só Nestor Kirchner, ex da Argentina, entendeu Lula; “Ele quer tudo, até um papa brasileiro“.
Deu o argentino Francisco.
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Aylê-Salassié F. Quintão – Jornalista, professor, doutor em História Cultural. Vive em Brasília. Autor de “Pinguela: a maldição do Vice”. Brasília: Otimismo, 2018
E autor de Lanternas Flutuantes: