guerra na paz

Guerra na paz. Por Adilson Roberto Gonçalves

… dizia que paz nunca houve: guerra na paz! Os rótulos podem ser vários: fria, cibernética, religiosa, racial, etc, mas por trás de uma guerra está sempre a dinâmica econômica do mundo….

guerra na paz

O presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky deu uma longa entrevista à Globo em que se posicionou quanto a vários aspectos ainda obscuros da guerra entre seu país e a Rússia. Analistas já fizeram várias abordagens, mas é interessante o quanto a cultura de novelas brasileiras tem marcado aquele país. É claro que falta uma abordagem mais detalhada para saber a extensão do fato e o quanto é uma mesura do presidente de lá para nós brasileiros, uma vez que o Brasil pode ter um papel relevante na mediação do conflito, como o próprio entrevistado deixou claro em sua fala.

Nessa questão, resgato um artigo escrito por Andrii Iermakk, representante do governo ucraniano no Brasil, para a Folha de S. Paulo (“É chegada a hora de Brasil e Ucrânia se unirem”, 13/6). Ele, como sói acontecer a todo ente beligerante, omite a parte podre própria. Não queremos guerra, isso é ponto pacífico, mas o passado recente nazista do atual presidente da Ucrânia impede uma avaliação rasa e direta da invasão da Rússia àquele território. O Brasil precisa tomar uma posição sim, como o presidente Lula vem fazendo, mas não pode colocar essa questão no mesmo patamar de outras, econômicas e geopolíticas, que nos são mais afeitas. No mais, soa irônico o autor se referir a marcas brasileiras enaltecidas em tempos de paz, não apenas as telenovelas, como se nos tempos da União Soviética a Guerra Fria fosse de mentira.

Assim, é perigoso se deleitar com personagens específicos. Um exemplo atual é Oppenheimer, um dos artífices da construção da bomba atômica na Segunda Guerra Mundial, que dá nome ao filme em cartaz. Porém, não se pode basear somente em um filme de ficção para traçar o perfil completo do físico. Há sempre o risco de vilanizar ou glamourizar demais alguém que talvez estivesse apenas realizando um trabalho encomendado. O filme parece ser bom, mas o tomemos pelo que é: um obra de arte, não um documentário. A entrevista de Zelensky é acerca de um fato real, mas os condicionantes ficcionais podem estar presentes. Na guerra, a primeira vítima é a verdade, não nos esqueçamos.

Isso lembra uma propaganda antiga na televisão,  de uma série de livros, e que dizia que paz nunca houve: guerra na paz! Os rótulos podem ser vários: fria, cibernética, religiosa, racial, etc, mas por trás de uma guerra está sempre a dinâmica econômica do mundo.

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Perfil ambiental e político – Adilson Roberto Gonçalves –  pesquisador da  Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista. Mantém o Blog dos Três Parágrafos. Vive em Campinas.

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