Roland Garros

Roland Garros no Brasil. Por Laurete Godoy

ROLAND GARROS –  Um herói nos céus do Brasil

Roland Garros

O nome do francês Roland Garros foi festejado no Brasil, muito antes de transformar os brasileiros Maria Esther Bueno, Guga e Bia Haddad em figuras de destaque do Tênis internacional.

No início do século XX, o mundo extasiava-se com os balões dirigíveis. Alberto Santos-Dumont conquistou Paris aos poucos, vendo glória e imortalidade chegarem a bordo dos aparelhos que inventara e que enfeitavam o céu daquele lindo pedaço da França. Lá no alto, uma pequena bandeira verde-amarela tremulava a informar que ali estava um cidadão brasileiro. Esse jovem talentoso e perseverante, passando de balões livres a dirigíveis, em 23 de outubro de 1906, com recursos do próprio aparelho, colocou no espaço aéreo o mais pesado que o ar. A partir daí, os céus deixaram de ser apenas dos pássaros.

A febre de voar tomou conta dos apaixonados e a aeronáutica transformou-se em esporte de elite, com prêmios e disputas internacionais. Considerada o “verdadeiro ninho da Aeronáutica”, Paris fervilhava de emoção e expectativa. Para lá, em 1911, foi o paulista Eduardo Pacheco Chaves, conhecido como Edu Chaves, para aprender a pilotar. Na época, fez amizade com o francês Roland Garros, outro aviador.

Paralelamente, parques e jardins públicos projetados nos moldes europeus começavam a surgir na cidade de São Paulo. Instalado no distrito da Água Branca estava o “Parque Antárctica – Grande Recreio Paulista” onde, em vinte alqueires de terra, os frequentadores deliciavam-se nos piqueniques realizados em meio às árvores frondosas, divertiam-se ao redor dos lagos artificiais, passeavam nos bosques e vibravam com importantes acontecimentos esportivos.

Em 1912 um grupo de aviadores estrangeiros efetuava demonstrações pelo Brasil. Entre eles estava Roland Garros, que realizara seus primeiros voos no Demoiselle de Santos-Dumont. Famoso e destemido, candidatou-se ao prêmio financeiro que o governo paulista oferecera a quem realizasse o reide aéreo São Paulo–Santos–São Paulo. Garros teve problemas com o avião e não conseguiu consertar uma peça danificada. Mandou confeccionar uma réplica que não deu certo. Desmontou e remontou o motor quatro vezes e perdeu três semanas tentando colocar o avião em ordem. Edu Chaves, então, ofereceu ao piloto francês uma peça original, que acabara de adquirir na França. Graças a essa atitude, manifestação cristalina de fair play, Garros consertou o avião e, em carta que enviou para um amigo, elogiou o “gesto elegante e raro do cavalheiro Edu Chaves”.

Enquanto Roland Garros ultimava os preparativos para o reide, Edu foi a Santos esperar o navio que transportava um Blèriot recém-adquirido na França. Em 7 de março de 1912, retirou o aparelho das caixas, montou-o na praia, decolou e causou sensação. Pela primeira vez um piloto brasileiro, devidamente brevetado, voou nos céus do Brasil.

De São Paulo, Roland Garros iniciava a inédita aventura. Levantou voo do campo do Parque Antárctica, acompanhou a estrada de ferro, transpôs a Serra do Mar, avistou o oceano e estranhou ao ouvir o ronco de outro motor. Era Edu Chaves, lá em cima, surpreendendo e saudando o amigo francês.

Juntos sobrevoaram a cidade de Santos, foram festejados, participaram de banquete, entrevistas, recepções oficiais, comemorações. Em 9 de março de 1912, efetuaram o primeiro voo Santos–São Paulo. Decolaram da praia e, graças à bússola que Edu Chaves possuía, conseguiram enfrentar a neblina, passar sobre densas nuvens, montanhas e, finalmente, aterrissar sãos e salvos no Parque Antárctica. Após embolsar os trinta mil réis oferecidos pelo governo paulista, Roland Garros fez exibições em outros países da América do Sul e retornou à França.

Algum tempo mais tarde disse Santos-Dumont: “Entramos na época da vulgarização da aviação e, nessa empresa, brilha sobre todos, o nome de Garros. Esse rapaz personificou a Audácia. Até então, só se voava em dias calmos, sem vento. Roland Garros foi o primeiro a voar em plena tempestade. Logo depois, atravessou o Mediterrâneo”.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), Roland Garros teve atuação extraordinária e foi considerado um dos maiores ases daquele conflito bélico. Em 19 de abril de 1915, os alemães atingiram o avião pilotado por Roland Garros e ele foi feito prisioneiro.  Faleceu em 1918, estava com apenas 30 anos de idade e foi muito pranteada a morte do piloto cujo epíteto era “audácia”.

Com o nome de Roland Garros foi batizado um elegante e moderno complexo esportivo de Paris, que se transformou em um dos templos do tênis internacional. Lá, há mais de sessenta anos atuou Maria Esther Bueno, a estrela brasileira que primeiro brilhou, intensamente, em Roland Garros.  Em 1997, o brasileiro Gustavo Küerten, o Guga, surpreendendo os especialistas, venceu o torneio Roland Garros, ficou conhecido internacionalmente e virou ídolo esportivo no Brasil. Repetiu a façanha por mais duas vezes. Em 2023, foi a vez de Beatriz Haddad Maia, a Bia Haddad, brilhar em Roland Garros.

Portanto, muito antes de ter o nome ligado ao de Maria Esther, Guga e Bia, Roland Garros brilhou em céus do Brasil e escreveu uma bonita página da história da aviação brasileira.

                                São Paulo, 08 de junho de 2023.

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Laurete Godoy

Laurete Godoy  Escritora e pesquisadora. Autora de Brasileiros voadores – 300 anos pelos céus do mundo.

 

                                

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