Pandeiro e bandolim. Por José Horta Manzano
… o que tem o pandeiro a ver com isso? Joan Corominas, o mais conceituado etimologista das línguas ibéricas (castelhano, português e catalão), dá nosso pandeiro como descendente do pandero castelhano, que, por sua vez, vem do latim pandura. E o círculo se fecha…
Você sabia?
O que é que pandeiro e bandolim têm em comum? São instrumentos que tocam juntos em certos conjuntos regionais. É verdade, mas não é só. A intimidade entre os dois é mais antiga e mais profunda. Vamos ver.
Você já ouviu falar em Assurbanípal ou em Semíramis? Se não ouviu, não tem a menor importância. O nome deles só aparece aqui pra impressionar. São personagens históricos que viveram no Império Assírio, civilização que começou a se desenvolver 5 mil anos atrás, no tempo em que os bichos falavam. No auge de sua expansão, a nação assíria cobria partes do território do Iraque, da Turquia, da Síria e do Irã atuais. O povo falava uma língua do grupo semítico, família representada hoje pelo hebreu e pelo árabe.
Num trabalho de paciência, os linguistas conseguem identificar aqui e ali, nas línguas que falamos atualmente, palavras de origem assíria. Dado que não subsistiram documentos escritos, nem sempre é possível afirmar com certeza.
Estudiosos acreditam que a palavra latina pandura, tomada emprestada do grego, vem da língua assíria. Na antiguidade, designava um instrumento de corda, espécie de alaúde, antepassado do violino e do violão atuais. Tanto o instrumento como a palavra evoluíram.
De pandura, o nome passou por pandore e mandore pra desembocar em mandóla. Na Itália, uma mandóla pequena chamava-se mandolino. A mandóla, instrumento pouco sonoro, desapareceu faz tempo. Mas o mandolino ficou e seu nome deu origem – vocês já adivinharam – ao nosso bandolim.
Como curiosidade, note-se que nossos dicionários ainda hoje trazem a palavra bandurra, a significar antigo instrumento de cordas espanhol. Na origem desse nome, não é difícil identificar a pandura grega.
E o que tem o pandeiro a ver com isso? Joan Corominas, o mais conceituado etimologista das línguas ibéricas (castelhano, português e catalão), dá nosso pandeiro como descendente do pandero castelhano, que, por sua vez, vem do latim pandura. E o círculo se fecha.
O distinto leitor há de se perguntar como é possível que a mesma palavra (pandura) tenha se bifurcado para designar ao mesmo tempo dois instrumentos tão diferentes como o pandeiro e o bandolim. Eu também fico surpreso, mas assim é.
Como confirmação dessas voltas que a língua dá, o Houaiss ensina que a origem de nosso tambor é o étimo árabe at-tanbúr. Acontece que, no original, a expressão at-tanbúr significa guitarra.
Para nós, do século 21, é impossível confundir tambor com guitarra ou pandeiro com bandolim. Para os antigos, parece que a individualidade dos instrumentos não era assim tão importante. Todos eram válidos desde que tocassem.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Manzano esta doente, não falou do CAPITÃO.
Não perdes por esperar.