bifurcação

A bifurcação. Por Alexandre Henrique Santos

… Fazia parte do roteiro do golpe contra a democracia transformar o então juiz parcial Sergio Moro & seu comparsa do Powerpoint, Deltan Dallagnol, no que eles jamais foram: supostos paladinos da Justiça…

PLACA BIFURCAÇÃO EM Y

Para quem gosta de política é muito triste e chato ver o espaço reservado a ela ser tomado, como se natural fosse, por temas policiais. Em vez de nos ocuparmos das questões vitais e urgentes que o país e a população demandam, o que vemos é tempo e energia sendo consumidos com a podridão do esgoto bolsonarista que diariamente vem à tona. Inclusive pelo fato de a Polícia Federal estar livre de interferências criminosas e livre para realizar seu trabalho de forma republicana.

Nos últimos quatro anos os desmandos da quadrilha que dominou o Poder Executivo foram tantos e variados que, como se diz, se puxa uma pena e vem não uma galinha, mas todo um galinheiro. Pode até existir, mas é difícil, dificílimo mesmo, encontrar algo no desgoverno Bolsonaro que não seja medíocre, low-profile, sofrível. Pior, que não tenha, de modo próximo ou distante, direto ou indireto, algum vínculo com a corrupção, o crime e a ilegalidade. Essa percepção não está fundamentada no éter, mas em fatos e mais fatos e mais fatos.

Contudo, todos sabemos que nada nesse cenário policial-dantesco é exatamente fruto do acaso. Como disse com todas as letras o ministro Gilmar Mendes no programa Roda Viva do dia 8 de maio próximo passado: Curitiba gerou Bolsonaro. Quer dizer, os últimos quatro anos de barbárie foram resultado de um projeto de tomada do Poder Político arquitetado e conduzido pela extrema-direita tupiniquim – com direta assessoria norte-americana, of course.

Mas o juiz da Suprema Corte parece ter se lembrado apenas de 50% da verdade. É que se a mãe do malparido foi a Lava Jato – ou, melhor, a Vaza Jato; os pais foram os notórios porta-vozes dos poderosos das finanças, da indústria, do comércio e do agronegócio. Uns e outros, unidos pelo mesmo propósito, fizeram o que lhes tocava fazer: uma constante, agressiva e avassaladora campanha de desinformação contra Lula e o Partido dos Trabalhadores. Fazia parte do roteiro do golpe contra a democracia transformar o então juiz parcial Sergio Moro & seu comparsa do Powerpoint, Deltan Dallagnol, no que eles jamais foram: supostos paladinos da Justiça.

É uma pena que Gilmar Mendes, o queridinho do tucanato, não tenha aproveitado a entrevista no Roda Viva para refrescar a memória do povo brasileiro; pois ele próprio teve um relevante papel na sequência dos fatos que conduziram Jair Messias ao Palácio do Planalto – tudo antecipado, claro, pelo impeachment de Dilma e o consequente mandato-tampão de Michel Temer. Lembro que foi uma canetada do Ministro – com plena anuência do Supremo Tribunal Federal – que impediu, por exemplo, Luís Inácio Lula da Silva de assumir o cargo de Ministro da Casa Civil do Governo Dilma, e o que de certa forma mudaria o curso dessa História, como a prisão e os muitos aspectos que conhecemos.

O velho e sábio Aldous Huxley usava dizer que “experiência não é o que acontece com a gente. Experiência é o que a gente faz como o que acontece com a gente.” Pois bem, nós – brasileiras e brasileiros – estamos diante uma bifurcação. Podemos extrair desses tempos bicudos “mais do mesmo”; e isso resulta fácil e sabemos fazer bem.

A outra opção é pegar um caminho de maior dificuldade, mas que nos conduzirá a resultados consistentes, positivos e duradouros para o país e nossa população. Por grande que seja tal desafio, só a segunda escolha nos permitirá sair do círculo vicioso do nosso atraso estrutural. Mudar para melhor sempre exige determinação e trabalho, muito trabalho. Está claro e evidente que um movimento ambicioso dessa magnitude está além dos acanhados limites partidários. Só poderá ser realizado através da reunião de todas as nossas forças democráticas e progressistas. Algo como um gigantesco mutirão nacional. Uma espécie de generosa doação à posteridade, ao futuro dos nossos filhos e netos.

Uma sorte de missão existencial dos que ainda possuem um autêntico amor pelo Brasil.

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Foto: @catherinekrulik

*Alexandre Henrique Santos – Atua há mais de 30 anos na área do desenvolvimento humano como consultor, terapeuta e coach. Mora em Madri e realiza atendimentos e workshops presenciais e à distância. É meditante, vegano, ecologista. Publicou O Poder de uma Boa Conversa e Planejamento Pessoal, ambos editados pela Vozes..

Acesse: www.quereres.com

Contato: kari1954kari@gmail.com

 

2 thoughts on “A bifurcação. Por Alexandre Henrique Santos

  1. Você diz ” amor pelo Brasil” verdade, porém um amor que não pode ser relativo, preso simplesmente aos sentidos. Um amor digamos que esteja além do visto pela pitonisa Diotima.
    O povo brasileiro vive a mais 500 anos em um regime análogo a escravidão.
    Já não existe lágrimas para chorar por nós, até o Chico Buarque chorou até ficar com do dele mesmo.
    Abraço de girafa Artista.
    Saudade.

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