LEVI-STRAUSS

LEVI-STRAUSS

Sem pacificadores o Brasil ilustra os tristes trópicos. Por Angelo C. Branco

… As perplexidades por ele denunciadas no clássico Tristes Trópicos provocam questionamentos e levam a constatar que vivemos num país conflagrado na origem de uma sociedade composta pela mistura de diferentes grupos étnicos e genéticas: povos indígenas, africanos, europeus e asiáticos…

Tristes Trópicos

Considerado um dos mais profundos pensadores da complexa estrutura sociocultural da nação brasileira, a obra do mestre francês Levi Strauss (que esteve no Brasil lá pelos anos 30 para trabalhar na fundação do centro de Filosofia da USP), deveria ser uma espécie de leitura admissional obrigatória aos que se candidatam a cargos eletivos em nossa República.

As perplexidades por ele denunciadas no clássico Tristes Trópicos provocam questionamentos e levam a constatar que vivemos num país conflagrado na origem de uma sociedade composta pela mistura de diferentes grupos étnicos e genéticas: povos indígenas, africanos, europeus e asiáticos. Temos sensibilidades e resistências fortemente impregnadas em inspirações e reivindicações por espaços representativos nos campos da política, economia, religiões, tradições orais e escritas e utopias pela organização de uma estrutura social adequada às visões de cada etnia.

As desigualdades e as tensões latentes desde a colonização alicerçada sobretudo na aliança do poder senhorial com a igreja, emergiram hoje como grande força política na medida da expansão tecnológica. O privilégio da informação, antes restrito aos poderosos, foi banido. Um minúsculo computador celular de 100 gramas de peso nivelou o cidadão anônimo aos poderosos enquanto a instantaneidade das notícias transformou o mundo numa aldeia global prevista nos anos 60 pelo canadense Marshall McLuhan (leitura obrigatória para quem na época estudava numa faculdade de Jornalismo). A índia e a China estão ali na esquina.

Legislar, governar e julgar no contexto desse mosaico efervescente e empoderado pela informação online não são tarefas simples. O que parece leve para uns grupos sociais pode causar desconforto e revolta em outros. A espécie de premonição acadêmica anunciada por Levi Strauss segundo o qual “o Brasil vai sair da barbárie sem conhecer a civilização” perdura enquanto advertência também aos ambientes do debate político. O Brasil precisa de líderes pacificadores sob pena de ver aprofundando o fosso da radicalização.  Assusta-nos predadores do espírito das leis agredindo o bom senso e fazendo sangrar um sentimento liberal nacional que vem ou vinha a ser o mais importante dos valores gerados pela miscigenação em busca da civilização. A fragilidade e submissão do poder legislativo perante os demais pilares republicanos aproxima-nos assustadoramente dos tristes trópicos. As decisões individuais do Judiciário humilham o contraditório. A perseguição ideológica e o patrulhamento promovidos por presidentes, governadores e ministros confirmam o primitivismo de uma nação órfã de estadistas.

Cabe à sociedade a gigantesca tarefa de construir esse país que apesar de 500 anos de existência ainda não conseguiu vencer a miséria e cujos mandatários sequer perceberam que a paternidade e a propaganda das bolsas famílias da vida simbolizam apenas atestados de retumbantes fracassos em seus governos.

_______________________________________________________Ângelo Castelo Branco

Angelo Castelo Branco –  Jornalista. Autor de O Artífice do Entendimento – biografia do ex-vice-presidente Marco Maciel. Recifense,  advogado formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Com passagens pelo Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Diário de Pernambuco, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, como editor, repórter e colunista de Política.

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