FAXINA

A hora da faxina. Por Alexandre Henrique Santos

A HORA DA FAXINA

ou

MILITARES CRIMINOSOS E O SALÁRIO QUE VOCÊ PAGA A ELES

FAXINA

“A obra mestra da injustiça é parecer justa sem ser.”
Platão

Creio piamente que a imensa maioria da nossa gente é trabalhadora, solidária e do bem. Contudo, também acredito que os exemplos de maus brasileiros são muitos, variados e existem em todo e qualquer lugar e instituição; tanto faz se pública ou privada. Daí ser gigantesca a probabilidade de que nesse exato momento crimes estejam acontecendo no intestino dos Três Poderes da República e das Forças Armadas.

A avidez, o alpinismo social, a ganância e o nepotismo são apenas alguns dos espinhos que afligem a alma humana. Pouco importa se dita alma nasceu aqui ou na Noruega. Hoje dominam os principais noticiários do país crimes supostamente cometidos por alguns membros da intocável casta dos militares de alta patente, tanto da ativa quanto da reserva. Em minha opinião, os fatos abrem para a Sociedade Civil um excelente espaço de oportunidade: fazer uma boa e exemplar faxina nas Forças Armadas; quero dizer, expulsar delas quaisquer membros julgados culpados nos seus respectivos inquéritos. Mais, que os fardados criminosos sejam encaminhados para presídios comuns, como qualquer civil seria; sem o luxo dos presídios militares.

Outro aspecto fundamental é que os militares condenados percam suas astronômicas aposentadorias – que, embora legais, costumam ser imorais e vergonhosas. O exemplo gritante nos jornais de hoje expõe o caso do agora preso Ailton Gonçalves Moraes Barros. Enquanto foi militar da ativa, Ailton – chamado de “segundo irmão” pelo ex-presidente Bolsonaro – respondeu na Justiça Militar variados processos que vão desde tentativa de abuso sexual de civis em acampamentos militares, desacato de superiores, violência e humilhação a soldados de patente inferior até mentiras em depoimentos. Foi expulso do exército por desonra; e nesses casos as Forças Armadas consideram que o fulano morreu! E prepare-se para a pérola do corporativismo fardado: embora o “segundo irmão” de Bolsonaro siga vivinho da Silva, sua mulher é considerada “viúva” – é como se Barros tivesse morrido em combate defendendo o solo pátrio. Acredite. A “viúva” recebe mensalmente uma pensão de mais de R$ 22.000,00. Você não leu errado: mais de vinte e dois mil reais por mês!

O argumento dos fardados para manter tal aberração não se sustenta de pé. Dizem que a família do militar desonrado não deve sofrer a pena do culpado. Isso tem um quê de poesia e até pareceria razoável. Mas então vejamos: como fazer com os milhares de presidiários civis que, sem condições de trabalhar, deixam suas respectivas famílias à mingua? A resposta é curta e grossa: para as famílias dos ex-militares, tudo. Para as famílias dos civis, a fome e a miséria.

A Sociedade Civil também tem aqui e agora outra oportunidade de ouro: acabar com a tutela dos militares sobre nossa cidadania. Desde 1889, mas sobretudo após o Golpe de Estado de 1964, o óbvio tem sido escamoteado de modo tão ululante que quase nenhum civil se dá conta: as Forças Armadas constituem um órgão a serviço do Estado Democrático Republicano, ponto. Não são e não podem ser sequestradas por governos ou governantes. Tal como as datas cívicas e a nossa bandeira, o 7 de Setembro e o Verde e Amarelo pertencem a todo o povo brasileiro; não são propriedade dos membros da seita bolsonarista ou qualquer outra.

Esse ponto é nevrálgico e de enorme relevância. Irá exigir coragem e protagonismo das nossas lideranças nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – além da constante e maciça mobilização popular: a formação dos nossos militares precisa se oxigenar com dramática urgência. Para tanto se faz necessário uma reforma radical nas escolas e academias que formam nossos futuros militares. Esses centros de formação estão dominados por conceitos anacrônicos e maniqueístas. Ainda reproduzem uma visão da sociedade civil completamente ancorada em conceito ultrapassados. Não há espaço pedagógico para o exercício do pensamento crítico, a saudável e democrática troca de ideias, o respeitoso acolhimento do contraditório e a aceitação do multiverso da sociedade civil. Sem tal mudança, como diz o humorista Gregório Duvivier, a AMAN – Academia Militar das Agulhas Negras – seguirá sendo uma “Fábrica de Bolsonaros”.

Quem acompanha as notícias do dia a dia sabe que caminhamos para um momento decisivo. A quase absoluta paralisia que dominou a Procuradoria Geral da República nos últimos anos tem levado alguns juízes a assumir um “excesso de trabalho” que, em dias normais, seria de todo indesejado. Contudo, é justamente esse trabalho extra do Poder Judiciário – e o empenho da Polícia Federal – que tem alentado a esperança de justiça no coração de milhões de brasileiras e brasileiros.

Que muitos civis comuns, desconhecidos, irão ver o Sol nascer quadrado, disso ninguém tem dúvidas. A novidade mesmo será a Justiça penalizar com o rigor da lei os criminosos importantes e poderosos – sejam esses civis ou militares; sejam banqueiros, grandes empresários ou generais de quatro-estrelas.

__________________

Foto: @catherinekrulik

*Alexandre Henrique Santos – Atua há mais de 30 anos na área do desenvolvimento humano como consultor, terapeuta e coach. Mora em Madri e realiza atendimentos e workshops presenciais e à distância. É meditante, vegano, ecologista. Publicou O Poder de uma Boa Conversa e Planejamento Pessoal, ambos editados pela Vozes..

Acesse: www.quereres.com

Contato: kari1954kari@gmail.com

 

1 thought on “A hora da faxina. Por Alexandre Henrique Santos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter