Tá tenso. Tá, sim, senhoras e senhores. Por Marli Gonçalves
Tá tenso aí? Tem até rolado uns medos mais esquisitos? Anda olhando para os lados, já não atende celular na rua nem por decreto? Anda de carro com os vidros fechados ou, se tem recursos, mandou fazer blindagem dupla? Se arrepia só pela aproximação de uma moto ou uma bicicleta?
Está tenso. A impressão não é só minha ou sua, parece ter mesmo a ver com o clima geral. Pior, clima local, nacional, mundial. Parece que estamos todos dentro de um barril de pólvora e que se alguém riscar um fósforo pode explodir, e ainda bem que não estamos perto de rebanhos bovinos e seus puns inflamáveis que mandam tudo aos ares.
Mas vamos falar de Brasil. E, ainda, mais perto, também de São Paulo que acaba representando o que deve estar ocorrendo em outras centros urbanos, embora em outra escala. Parece que alguma coisa está sempre sendo urdida em algum lugar – isso aqui me referindo à política, a aquele pessoal horroroso que nos infernizou durante quatro anos e que não queria largar o osso e agora pretendem não nos deixar esquecê-los de vez. A gente respira um incrível e silencioso ar de conspiração, que nos impede até de curtir um pouco mais o ar pacífico, alegre e leve que sentimos quando os tiramos do poder. Eles insistem em infernizar e o ar chega a ficar fétido quando o atual governo federal não faz ou faz/ fala/ inventa sandices, infelizmente ocasiões que ainda são numerosas. Imediatamente qualquer assunto, por mais bobo que seja, é ampliado pelos agentes do mal nas redes, fermentado, acrescido ainda de fake news e outras provocações. Eles estão aí, vivos, que não nos distraiamos.
A economia não vai bem no mundo inteiro, mas claro que o que a gente sente mesmo de verdade na pele é a nossa, a que está perto, a que nos impede de comprar, planejar. E não tem nada bom, os índices mostram que um rolo compressor aparenta estar aquecendo motores atrás de algum poste, empresários mal humorados, demissões assustadoras, previsões de tempo ruim. Tudo isso também dimensionado e alimentado pela ideia do quanto pior melhor, da direita, da esquerda, do centro – assim se fatura em cima, vocês sabem que essa é a comida da política ruim.
Vou fechar o foco mais aqui em São Paulo e aí vamos falar de Segurança Pública, do Centro da cidade, dos moradores de rua, dos viciados da Cracolândia, das ondas altas de volta, com sequestros, roubos, assaltos, golpes de tudo quanto é tipo, gangues, da pedrada, da cotovelada. Tudo coisa pra a gente até ter saudade dos tempos que falávamos apenas de trombadinhas. Agora são trombadões sem qualquer poesia que nos lembre os meninos do trapiche de Jorge Amado em “Capitães da Areia”.
É preciso também, no entanto, que se ressalte: o número de ideias de jerico que está saindo da cabeça das autoridades responsáveis parece que vem de contusões de tanto eles próximos baterem cabeça entre si. Essa semana foi pródiga. A começar pelo projeto de levar moradores de rua para trabalhar em propriedades rurais de pequenos agricultores, com o governo se comprometendo a comprar deles parte da produção. Não parece uma ideia linda, fofa?
Pois, pelo menos a mim, parece a implantação de um projeto de nova forma de escravidão, porque obviamente a fiscalização do funcionamento é praticamente impossível.
Todo dia uma coletiva anuncia algo: então, já cercaram de grades a icônica Praça da Sé; a bela Catedral está com a sua frente adornada por viaturas. Como espalharam a Cracolândia, boa parte dos efetivos se ocupa em passar o dia correndo atrás dos montinhos de viciados e traficantes que se agrupam, correndo e voltando sempre ao mesmo local quando eles viram as costas. Sobre os moradores de rua, enquanto um secretário dá entrevista falando em tratamento humanizado, poucos quilômetros adiante as câmeras das tevê mostram barracas e itens do povo da rua sendo jogados violentamente em caminhões. Têm sido frequentes os relatos de truculência policial.
Tá tenso, bem tenso, porque tudo isso junto está piorando nos últimos dias quanto até o comércio já bem prejudicado tem baixado portas para evitar arrastões que já ocorreram na região central. O medo, o temor e o terror se espalham. Mas fiquem espertos. A diferença é que agora tudo parece muito organizado, comandado de cima por poderosas forças e organizações criminosas que se fortaleceram cada vez mais justamente nos últimos anos enquanto quem devia agir continua pensando em soluções que nunca chegam. Ou quando são tentadas são só mais ideias de jerico.
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MARLI GONÇALVES – Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano – Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon).
marligo@uol.com.br / marli@brickmann.com.br
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Marli Gonçalves, será que um sofá forrado com legítimo couro italiano resolveria ?
??? nossa, foi longe hein?
Tem argumento melhor, amigo! E aqui vc bem sabe do que estou tratando
Cara Marli,
Já passei dos 70 anos e, quem passa dos 70 pode-se dar ao luxo de palpitar sobre tudo, pois no mínimo seremos solenemente ignorados.
Sobre o governo atual não tinha nenhuma dúvida que seria tão desastroso e corrupto quanto os anteriores do atual presidente.
Com o agravante que agora ele está visivelmente com sede de vingança pelo tempo que passou na prisão – prisão justa, na minha opinião – e de onde foi tirado por contorcionismos jurídicos perpetrados pela suprema corte.
Quer uma última: Lula acha que a guerra acaba no dia que os países pararem de mandar apoio e armas para a Ucrânia; concordo com ele, pois sem o suporte de outros, o povo ucraniano logo será esmagado pelos russos e, que felicidade !!! O mundo não terá mais essa guerra, embora outras menos comentadas sigam acontecendo.
Nosso presidente não é um gênio?!!!
Fazer o que?
Insegurança na capital é um assunto que vem de muito tempo, com soluções mirabolantes, mas que na prática nada se mostra absolutamente impraticável.
Entra governo, sai governo e o problema só cresce.
Fazer o que com os moradores de rua?
Deixá-los tomar ruas, calçadas, praças e tudo o mais?
Aliás, hoje se confundem os dois problemas: já está difícil distinguir morador de rua – hoje politicamente correto chamado de morador em situação de rua (muda a denominação, mas …) – e morador do viciado, à espreita para roubar, espancar e humilhar quem dignamente é obrigado a simplesmente passar pelo local onde ficam.
O que dizer de quem é residente de tão nefasto local?
Então, fazer o quê?
Leva-los para um local onde possam voltar a se relacionar com respeito com a sociedade correta ou deixá-los onde estão, fingindo ser solidário, mas mantendo distância?
Difícil…
Quem pode se refugia em condomínios cada vez mais fechados, andam com segurança ou carros blindados.
Quem não pode fica à mercê do perigo e na fé, pois a autoridade ainda não tem nada a oferecer, a não estatísticas e planos, que ou são atacados pela dureza da imposição ou não são praticáveis.
Enquanto isso, vamos sobrevivendo na esperança de não sermos os próximos assuntos dos telejornais sensacionalistas.
Inté