De Miguel Urbano Rodrigues à cidade de Santos. Por Rui Martins
… Algum tempo depois da morte de meu pai, minha mãe decidiu deixar a cidade de Santos e retornar à sua cidade natal, no interior de São Paulo, e levou consigo, na mudança, meus livros que ficaram espalhados quando deixei o Brasil em 1969…
De volta ao Brasil por três meses, para compensar minha longa ausência durante a crise sanitária do Covid, foi por acaso que me deparei com o livro de Miguel Urbano Rodrigues, “Opções da Revolução na América Latina”, editado pela Paz & Terra.
Algum tempo depois da morte de meu pai, minha mãe decidiu deixar a cidade de Santos e retornar à sua cidade natal, no interior de São Paulo, e levou consigo, na mudança, meus livros que ficaram espalhados quando deixei o Brasil em 1969.
O livro me fez lembrar não só a figura do amigo editorialista principal do jornal Estadão, naqueles meus primeiros anos de jornalismo, mas sua influência, pois fazia parte do pequeno grupo existente dentro da Redação, ao qual me integrei, de oposicionistas à ditadura militar, jornalistas experientes, combativos com os quais muito aprendi.
Essas recordações se tornaram mais fortes com minha vinda, desta vez como simples turista, a Santos, cidade onde vivi desde meus dois anos até o fim do serviço militar.
O conhecimento da existência de uma outra maneira de pensar a realidade social me veio muito cedo, nesta cidade para onde meu pai nos trouxe em busca de trabalho. No Morro de São Bento, onde vivíamos, logo depois da queda da ditadura de Vargas, os comunistas eram ativos e promoviam festas populares com discursos de seus líderes.
Meu pai lia o jornal “Notícias de Hoje” e íamos ouvir os candidatos João Taibo Cadorniga e Zuleika Alambert para deputado estadual. Apesar de ter apenas 8 anos, lembro-me bem dessa época. A Câmara Municipal de Santos elegeu uma maioria de vereadores comunistas e a cidade chegou a ser chamada de Santos, a Vermelha!
Zuleika Alambert foi eleita primeira-suplente a deputada estadual e se tornou assim uma precursora das deputadas mulheres que surgiram mais tarde. Tanto João Taibo como Zuleika tiveram seus mandatos cassados, em 1948, oito meses depois do PCB ter sido colocado na ilegalidade. Foram também cassados todos os vereadores marxistas de Santos, inclusive nosso dentista, Antônio Moreira, em cujo consultório havia uma foto do Luís Carlos Prestes.
Lembranças que me chegam, neste reencontro com Santos, de minha precoce descoberta da política.
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