O mercado de saúde e os preços dos planos médicos. Por Meraldo Zisman
A saúde tornou-se um produto de consumo e muitos esquecem que a Medicina não deve seguir essa tendência. A contabilidade do trabalho médico não pode ser baseada exclusivamente no ganho monetário. Isso não foi o que aprendi na faculdade. No entanto, ao longo dos meus sessenta anos de vida profissional, tenho visto muitos profissionais de saúde se afastarem do compromisso vocacional, além dos preços exorbitantes dos planos de saúde que ultrapassaram o razoável e castigam os idosos, como se estes tivessem de pagar mais por viverem um pouco mais.
Com o encolhimento do governo no setor da saúde, vemos um aumento de hospitais luxuosos que atendem apenas uma minoria que pode pagar por um plano de saúde caro. Isso resultou no sucateamento da medicina estatal, da previdência social e das ações do Ministério da Saúde. Modelos de gestão completamente diferentes da nossa tradição médica foram importados.
Explicações como aumento de gastos, tecnologias novas e caras e aumento da expectativa de vida do brasileiro não são suficientes para explicar o caos na saúde. Métodos de gestão e tecnologias foram importadas de países com histórias muito diferentes das nossas. Os novos hospitais particulares parecem mais com bancos ou hotéis cinco estrelas do que com instituições médicas. Enquanto isso, os pobres continuam enfrentando filas vergonhosas em busca de atendimento médico. Pior: com a super valorização da tecnologia, os médicos tornaram-se meros manipuladores de máquinas. Outro fato preocupante é o investimento em aparelhagens médicas que parecem mais adequadas a shoppings, bancos ou cassinos. Tenho observado jovens médicos maltratados, mal pagos, insatisfeitos e desumanizados, ou então ganhando muito dinheiro quando dominam alguma tecnologia de ponta ou têm habilidades empresariais. Em países mais ricos, não vejo tantos gastos com exames complementares nem a mesma crueldade em manter pacientes irrecuperáveis em UTIs, quando eles poderiam ser mais bem assistidos em casa, por suas famílias.
Para os empresários do setor de medicina o que importa é o aumento do faturamento e não o bem-estar das pessoas. Isso leva à exploração dos jovens médicos e pacientes, vulneráveis. Não sou contra o sistema ou a capacidade empresarial para o lucro, mas quando se trata de vidas humanas, tem de ser diferente. As leis de mercado não devem ter precedência no caso da saúde.
Isso é uma vergonha._____________________________
Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
Acaba de relançar “Nordeste Pigmeu”. Pela Amazon: paradoxum.org/nordestepigmeu