A armação do Moro. Por José Horta Manzano
… Eis que de repente, a espuma fria do ódio aflorou à boca de nosso velho presidente. Lula ofereceu a Moro o posto de melhor inimigo. Esta semana, em duas ocasiões declarou em público toda a raiva que ele guarda do homem que o julgou.
Sabe aquela do tiro que sai pela culatra? Vamos aos fatos.
Houve um momento, faz poucos anos, em que o juiz Sergio Moro era reverenciado por boa parte da população. Tirando petistas de raiz, descontentes com as investigações que mandavam companheiros para a Papuda, os brasileiros estavam animados com a Operação Lava Jato. Muita gente chegou a acreditar que a “limpa” ia erradicar a corrupção política no país. Moro estava prestes a entrar para o panteão nacional.
Deslumbrado com seu momento de ator, o juiz abandonou a toga e colou em Bolsonaro. Verdade seja dita, a vitória do capitão em 2018 se deve em parte à imagem do Xerife de Curitiba. Muita gente acreditou que Bolsonaro tivesse realmente intenção de enterrar a corrupção. Que nada, enterrou mesmo foi a Lava Jato.
Escanteado e desprestigiado, o ex-juiz saiu atirando e renunciou à companhia do capitão. Tornou-se ex-ministro. Sua travessia do deserto levou alguns anos. Sem muita esperança, candidatou-se ao Senado em 2022. Foi eleito. Mas o problema é que ele já estava numa espécie de limbo, brigado com Lula e com relação bamba com Bolsonaro.
Tomou posse de seu assento de senador. Não devia estar se sentindo confortável, dado que é hostilizado por lulistas e olhado com desconfiança por bolsonaristas. Estava destinado a passar os próximos anos atolado, uma ex-estrela, um astro apagado.
Eis que de repente, a espuma fria do ódio aflorou à boca de nosso velho presidente. Lula ofereceu a Moro o posto de melhor inimigo. Esta semana, em duas ocasiões declarou em público toda a raiva que ele guarda do homem que o julgou. Como resultado, o antigo astro de Curitiba – que já foi a coqueluche de meio Brasil mas que agora percorria as penumbras do Senado feito alma penada – voltou à ribalta.
Se o Lula continuar a dirigir os holofotes para Sergio Moro (e tudo indica que continuará), dará ao ex-juiz a grande oportunidade de sua vida: eclipsar Bolsonaro e apresentar-se como candidato à Presidência em 2026.
O distinto leitor já imaginou: elegemos o Lula pra tirar Bolsonaro e agora perigamos ter de eleger Moro pra tirar o Lula? Que dança de cadeiras mais extravagante!
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Caro Manzano,
Eleição vem, eleição vai e somos obrigados – mesmo que não votemos em nenhum – a engolir sempre os mesmos candidatos ou parente deles.
Ficamos sempre subjugados pela casta instalada a tempos no poder, sem chance de mudança mesmo a longo prazo.
É um movimento circular; sai um ruim, entra outro pior.
Não existe – nem para disfarçar um pouco – nenhum plano de governo decente.
Fica na base do “a gente assume e toca como convier” desde que sejamos atendidos no desfrute nosso e do nosso entorno.
O povo, ora o povo como dizia uma personagem da Escolinha do Professor Raimundo “ o povo é mero detalhe”.
Sim, tivemos esperança quando existiu a Lava Jato que alguma coisa mudasse, que os ladrões de dinheiro público fossem punidos e jogados no lixo da história.
Mas, mero sonho…. Hoje eles estão de volta, com mais ímpeto que nunca, sedentos de vingança e sabedores que daqui para a frente nada os impedirá.
Ressuscitados por uma penada de nosso tribunal maior nenhuma esperança resta de punição, mesmo por que leis esdrúxulas foram feitas para favorecer os meliantes.
Enfim, é o que temos…
Abraço, inté!
Há pouco tempo o que valia não era o fato, mas a versão do fato. Atualmente são “as narrativas “ das redes sociais e imprensa. Cancela-se o Outro ou o coloca no pedestal. A narrativa de Lula que Moro engendrou seu próprio sequestro e etc. atende aos seus milhões de eleitores e ele a usa também para ofuscar a ausência total de que um dia teremos política de Estado e não de um ajuntamento de partidos sempre a justificar as benesses auferidas para manter o “Estado Democrático de Direito “.
Têm razão tanto meu xará quanto Alda.
Diferentemente do que nos ensinaram na escola, o regime de capitanias hereditárias ainda não terminou. Quanto à economia, parece que empacamos no ciclo do ouro. Antes garimpava-se nas brenhas das Gerais, hoje é na região que conhecíamos como “Inferno Verde”.
Ainda há vagas para garimpeiros corajosos. Alguém se habilita?