Notícias da Terrinha.

Notícias da Terrinha. Por José Paulo Cavalcanti Filho

Lisboa. Novas notícias dos jornais portugueses, para sentir diferenças entre as culturas da terrinha e de nosso Brasil.

Notícias da Terrinha.

ALIMENTOS. No hemisfério Norte, a primavera “está a chegar mais cedo” (primeira página de O Público‒OP). Em Almogia, na província espanhola de Málaga, as amendoeiras floriram mais cedo. O que vai ter grandes reflexos na agricultura. Em outra matéria no mesmo jornal, sobre o livro Eating Extinction, o jornalista Dan Saladino explica o desaparecimento de alguns alimentos, na face da terra. Logo pensei em nossa mangaba. Sobre ela, tenho até uma teoria. De que Deus começou o mundo fazendo a mangaba. Depois, já cansado com tanta perfeição, fez o homem. E deu no que deu. Se acabar mesmo, vai ser triste.

ALIMENTOS 2. Ainda nesse jornal, em outra edição, vemos projeto na Faculdade de Ciências do Porto, com financiamento europeu, de “editar grãos de arroz para suportar mais calor”. Deveríamos fazer o mesmo, aqui no Nordeste. Para “editar” grãos que produzissem milho, feijão e outras culturas nossas usando menos água. Os transgênicos, parece, vão ser o futuro dos alimentos.

BALEIAS. “Estudo liderado por economistas do FMI revela que se as baleias pudessem voltar aos números de antes, o planeta ganharia capacidade de fixação de CO2 equivalente à de quatro florestas como a Amazônia”. Seria bom dizer isso aos países que pescam esse mamífero e ainda reclamam de nós.

BRASIL. No Correio da Manhã–CM, o brasileiro Begoleã Fernandes foi preso, quando voltava a Belo Horizonte, por suspeita de canibalismo. E, na primeira página do Diário de Notícias‒DN, “PCC quer utilizar Portugal como porta de entrada de Cocaína na Europa”. O Brasil, triste Brasil, assim brilha na Europa.

CASAS. Governo pretende invadir casas vazias para alugar a quem precise. Isso não vai acabar bem.

CENTENÁRIOS. Em Portugal, o número de pessoas com mais de 100 anos duplicou na última década. Não só aqui, penso. Em toda parte estamos vivendo mais. Ainda bem. E, considerando meu caso, penso que 100 é ainda muito pouco.

CONTAS PÚBLICAS. Primeira página de OP diz que o “Conselho Estratégico de Defesa Nacional (CEDN)”, da Presidência da República, define que “para garantir a segurança nacional deve haver estabilidade nas contas públicas”. Vale para Portugal. Mas, parece, não para o Brasil. O que é pena.

CORRUPÇÃO. Primeira página de OP: “Número de condenados por corrupção é o mais baixo nos últimos 16 anos”. Não só em nosso Brasil. Roubar, para gente demais, vale muito a pena.

COVID. Surgem, agora, os primeiros estudos sobre as estratégias usadas, pelos países, para combater a pandemia. Com destaque, aqui, nas comparações entre Suécia e Portugal. Suécia, com “uma política sem confinamentos, por não serem sustentáveis a longo prazo”; e Portugal com um sistema que quase reproduz nosso modelo brasileiro. Os números mostram Portugal com 2.512 mortos por milhão de habitantes; enquanto Suécia, bem menos, apenas 2.069 mortes. Com a palavra, os cientistas.

EUTANÁSIA. O Tribunal Constitucional devolveu, à Assembleia Nacional, lei aprovada autorizando a morte piedosa. E vem, agora, a primeira pesquisa: “61% votam a favor da eutanásia no país”. No Brasil, qual seria o percentual?

HOSPITAIS. Primeira página do DN, “700 pessoas a viver em hospitais depois de alta”. Ficam boas das doenças e não tem para onde ir. Isso é que é tragédia.

LULA. Foi convidado pelo ministro João Gomes Cravinho, dos Negócios Estrangeiros do governo Costa, a discursar na Assembleia Nacional (o Congresso daqui, com apenas deputados, que Portugal não tem Senado) na sessão solene de 25 de abril. Só que a Assembleia não convidou ninguém. E não o queria receber, em respeito à separação de poderes. Com apoio, nessa recusa, do presidente da República, Marcelo Rebelo de Souza. Charge de Luis Afonso resume a situação: “1. Um amigo meu vai amanhã jantar em sua casa. 2. Um amigo seu? Mas eu não o convidei. 3. Ora, não vai me dizer que não”. Acabou tudo num jeitinho brasileiro. Vai falar, mas não na sessão comemorativa à Revolução dos Cravos. Em outro horário, menos nobre.

MÉDICOS. Duas curiosidades nas eleições para o Sindicato dos Médicos aqui de Portugal. Uma é nenhuma mulher ser candidata a Bastonário ou algum outro cargo de direção. A segunda é que todos os candidatos são contra o aumento de vagas nos cursos de medicina. Em um país com bem menos médicos do que deveria (ou poderia), é difícil entender.

MONÇÃO. Primeira página do JN fala em evento gastronômico que vai realizar-se na aldeia de Piais, de hoje até domingo, com essa manchete

‒ Monção quebra jejum de 3 anos e reedita Feira da Foda.

NOVO VIAGRA. Equipe liderada por Xuetao Smi, da Universidade de Cantão (China), descobriu tecido a partir de material conhecido como “Álcool Polivinílico”, que corrige a disfunção em porcos para reproduzir•. Com os animais logo voltando a ter ereções. O tecido, conhecido como “Túnica Albugínea”, também funciona em humanos. Se der mesmo certo, vai ser uma revolução.

PÂNCREAS. Já está sendo testado, com sucesso, um artificial. Nessa fase, em pacientes com diabetes. E funciona controlado por um celular. A notícia dá conta de experiências similares realizadas em Estados Unidos, Europa, Austrália e Nova Zelândia. Vamos rezar para que dê certo.

PÍLULAS PARA HOMENS. Depois da Pílula Feminina, surgida em 1960, desde então se estuda algo similar, para os homens. Experimentos agora, com a enzima SAC (aderilato cidose solúvel) são promissores. E já apresentam bons resultados em ratinhos. Se der certo mesmo, o mercado vai explodir.

ROBIN DOS BOSQUES.  OP dá a notícia, em primeira página, “Provedor convoca Robin dos Bosques e Madre Teresa de Calcutá”. Por vezes, é preciso traduzir os nomes para o leitor brasileiro. Esse “Robin dos Bosques” é Robin Hood. Já “Papai Noel”, aqui, é Pai Natal. “Mickey Mouse” é o Rato Mickey. “Os 3 Patetas” são Os 3 Estarolas. “O Gordo e o Magro”, Bucha e Estica. E “camisinha” é durex.

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P.S. Ontem, 16 de março, dona Maria Lia teria feito 97 anos. 
Para ela redigi, num Natal, esses versos:

                                                  – Me diga dona

Maria Lia

Luar da noite

Flor do meu dia

Se brilha ainda

A luz infinda

Que eu perseguia.

  • Quando completou 40 anos, mandei para ela esse bilhete

‒ Minha mãe, não é por nada não mas a IDA começa aos 40.

Sem resposta. Quando fez 80 seu motorista chegou bem cedo, em nossa casa, com bilhete dela

‒ Meu filho, esperei 40 anos para lhe responder. A IDA pode ser que comece aos 40. Mas a VIDA começa, mesmo, é aos 80.

  • Se assim for, nos deixou com só 13 anos. Pena, que lembro dela todos os dias. E como dói.

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José Paulo Cavalcanti FilhoÉ advogado, escritor,  e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade. Vive no Recife. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, cadeira 39.

jp@jpc.com.br

 

2 thoughts on “Notícias da Terrinha. Por José Paulo Cavalcanti Filho

  1. Não posso avaliar todos os fatores e sequer sou especialista em nenhum dos assuntos necessários par responder de forma definitiva a pergunta sobre a diferença de tratamento de mortes entre Portugal e Suécia. Entretanto, densidade populacional parece-me que afetou a velocidade de transmissão da doença, vide Nova York; assim sendo, mesmo desconhecendo a verdadeira densidade nas áreas populadas dos países, pesquisa rápida na internet aponta populações similares, mas a área da Suécia é 4,4 maior que a de Portugal, mas depende de como se condensa a população.
    Difícil responder com dados rápidos como os utilizados para a apresentação, mas sei que a caacidade de dispersão da doença está diretamente relacionada com a proximidade entre pessoas.

  2. Com relação ao convite para Lula discursar no último dia 25 de abril, data comemorativa da Revolução dos Cravos que pôs fim à ditadura de Salazar, tenho comigo que seria no mínimo ultrajante para Portugal e portugueses alguém de tal quilate – que faz questão de se dizer amigo de ditadores (assim mesmo, no plural) – discursar sobre liberdade.

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