Novelas e preconceito. Por Meraldo Zisman
Toda e qualquer atividade humana possui um lado bom e um maléfico. Desejando ou não, as novelas televisivas passaram a ser parte do imaginário dos brasileiros. Elas invadem os lares, ocupam horários nobres da televisão, assistidas em favelas, mocambos, palafitas, casas e moradas luxuosas.
Antenas são visíveis na maioria dos telhados das moradias. E algumas delas, inclusive, se dão ao luxo de evidenciar uma antena parabólica, bem como a TV a cabo por assinatura. Seja pelo rádio ou televisão, é narrativa seriada, com fins de entretenimento, difundida por meios antigos ou novos neste mundo que designo de “depois do computador” (D.C.), sem analogias religiosas. O grande desafio é fazer das novelas algo de positivo, que exerçam um papel importante na formação das pessoas, já que o Brasil ainda não se encontra devidamente estruturado, do ponto de vista cultural. Que sejam um gênero literário, consistindo numa narrativa breve, entre o conto e o romance, sobre um acontecimento em torno do qual gira o enredo.
As novelas, apesar de geralmente possuírem enredos —politicamente corretos (que têm por objetivo tornar a linguagem mais neutra e menos preconceituosa), são bastante avançadas em temas ligados às minorias: homossexuais, idosos, deficientes físicos, negros, judeus, nordestinos… desde que não atrapalhe a audiência medida pelos institutos de opinião pública.
Passeando pela internet encontrei este trecho que podem conferir: “É uma cultura de décadas essa noção de que nós nordestinos somos cidadãos de segunda categoria. O som do nosso sotaque é bem inferiorizado fora do Nordeste. É bem humilhante”, assumiu. Conferir em:
Lembrei-me de uma estória ocorrida comigo quando cheguei ao Rio de Janeiro para cursar a residência médica no então Hospital dos Servidores do Estado (H.S.E.). Minhas primas, que naquela época (1959) eram crianças, olharam para mim e exclamaram:
“Engraçado, ele é galego e tem olhos azuis e fala igualzinho ao porteiro cearense da portaria do edifício”.
Explico ou esclareço: na antiga capital federal o que melhor se adequava ao nordestino retirante era ser porteiro de um edifício, o que lhe garantia emprego e moradia no pequeno apartamento de portaria do Edifício. Como se transformou Casa Grande e Senzala.
Será que nada mudou?
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
Acaba de relançar “Nordeste Pigmeu”. Pela Amazon: paradoxum.org/nordestepigmeu
Muito boa as matérias de Meraldo!