O Brasil está de volta

O Brasil está de volta. Por José Horta Manzano

… Ao assumir a Presidência, Lula da Silva proclamou ao mundo: “O Brasil está de volta!”. Depois da maré baixa bolsonárica, que tinha rebaixado nosso país ao status de pária, a fala do novo presidente soou como um bem-vindo tsunami.

O Brasil está de volta

Ao assumir a Presidência, Lula da Silva proclamou ao mundo: “O Brasil está de volta!”. Depois da maré baixa bolsonárica, que tinha rebaixado nosso país ao status de pária, a fala do novo presidente soou como um bem-vindo tsunami.

Países civilizados (e outros nem tanto) aplaudiram juntos, num coro de aprovação. Feliz, o planeta saudou um Brasil ressuscitado. Luiz Inácio foi convidado por inúmeros países para uma visita. Nesse aspecto, o governo Lula 3 começou com pé direito.

Só que tem uma coisa: embora Lula não pareça estar se dando conta, o mundo mudou muito desde seu primeiro mandato. No tabuleiro global, os atores principais já não ocupam a posição que ocupavam em 2002. A China cresceu incrivelmente e “se empoderou”. Os Estados Unidos continuam na dianteira, permanentemente ameaçados pela China.

A desastrosa invasão da Ucrânia pela Rússia – que Lula qualificou de simples “erro” – desestabilizou o coreto. A Alemanha, maior economia da Europa, abandonou 75 anos de pacifismo e está se rearmando a toque de caixa. Suécia e Finlândia, tradicionalmente neutras, pediram admissão na Otan, uma aliança militar. Os EUA, como haviam feito em guerras do passado, acudiram com forte apoio militar em favor do país invadido. A Rússia, sob pesadas sanções econômicas, dá sinais de estar sentindo o baque.

Até países neutros como a Suíça aderiram às sanções econômicas aplicadas pelos EUA, Canadá, União Europeia, Japão e Austrália. Em Berna, se diz que “neutralidade não rima com indiferença”. A situação é clara. A Ucrânia, um país livre e soberano, com fronteiras mundialmente reconhecidas, foi invadida por um outro país soberano, numa guerra de conquista. Isso contraria as bases da convivência entre nações. Fechar o olho para essa agressão é dar gás à Rússia para seguir invadindo seus demais vizinhos. Quem será o próximo?

Lula não dá mostra de estar entendendo a gravidade da situação. Com sua peculiar visão de política internacional, ele tem mostrado certa incapacidade de entender o mecanismo. Lula consegue distinguir conflitos localizados, como a questão da Palestina, o embargo americano a Cuba, a guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia. No entanto, nosso presidente não parece entender que nem todos os conflitos são brigas de rua, que se resolvem com uma boa conversa ou com um jogo de futebol.

O mundo parece estar se dando conta dessa lacuna de Lula. Esta semana, tivemos dois exemplos que convergem para esse ponto.

IRIS DENA, fragata da marinha de guerra iraniana

Tomemos o caso do par de navios de guerra iranianos alegremente amarrados no cais do Rio de Janeiro. Sob o pretexto de que “o Brasil conversa com todas as partes”, o governo autorizou a estadia das embarcações em porto brasileiro. Os EUA já tinham solicitado que o Planalto não permitisse que os barcos acostassem. O Brasil deu de ombros. Agora é Israel, país que os aiatolás declaram ter intenção de destruir, que se dirige a Brasília solicitando que a permissão de amarração seja retirada.

Realmente, fica esquisito um país como o Brasil, que se esforça de promover a igualdade entre todos os sexos, acolher navios de guerra do Irã, país onde mulheres não têm nem o direito de sair sozinhas de casa, e perigam ir parar na cadeia se ajeitarem mal o véu obrigatório. Além disso, o Irã é bom fornecedor de uma parte das armas com que os russos castigam os ucranianos.

Outro caso recente é a conferência de vídeo que se realizou entre Lula e Volodímir Zelenski, a pedido deste último. Vendo que Lula não dá sinais de haver percebido a importância de apoiar a Ucrânia nessa guerra calamitosa, Zelenski convidou seu homólogo de Brasília para fazer uma visita a Kiev. As dezenas de dirigentes estrangeiros que já desfilaram por lá não esperaram convite: foram por achar que era importante. Até Joe Biden foi.

Lula agora não tem desculpa. Até convite oficial já recebeu. Que vá à Ucrânia o mais rápido possível. E que escute com atenção o que o presidente ucraniano tem a lhe dizer e mostrar.

Embora meio atolado em ideologias do passado, Lula já declarou ser “uma metamorfose ambulante”. Chegou a hora de provar. Que escolha seu lado numa disputa em não é permitido ficar em cima do muro. Ou se apoia a democracia ou se apoia a barbárie.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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2 thoughts on “O Brasil está de volta. Por José Horta Manzano

  1. Caro Manzano,
    Creio conhecer “Os Trapalhões”, humorístico que tínhamos nos anos 70/80/90 onde Didi – Renato Aragão – sempre saía bem qualquer que fosse a situação…. Era o “isperto” o “safo”, o dono da verdade, etc.
    Vejo Lula como Didi, querendo sempre estar por cima, sem se preocupar com o que vai derrubando a sua volta.
    Tem sempre uma ideia genial, que na prática nem sempre é tão genial, mas serve para encher o vazio e, aos ouvidos de seus devotos soa como jogada de mestre.
    Aliás, devotos existem para os dois lados atualmente nas terras “brasilis”; infelizmente ainda somos um país dividido…
    Enquanto o outro que saiu era um vazio imenso do nada como governo, o atual é uma mente cheia de ideias, soluções sem qualquer senso de análise crítica, jogadas em palavras ao ritmo de metralhadora verbalizadas com erros grassos de português, onde plural sai como singular – ou vice-versa – mas, são males menores; o problema é como interferem na condução do país e sua conduta no mundo.
    Em comum têm o mesmo “jeitão”: criar um inimigo, para ser o bode expiatório no caso de fracasso de suas teorias.
    A guerra iniciada pela Rússia contra Ucrânia é um absurdo tão grande que é impossível comentar; aliás, a Ucrânia sempre sofreu nas mãos dos russos, principalmente no período Stalin, como a leitura de “A fome vermelha”, “Terras de sangue” e outros livros sobre o período bem detalham.
    Quando aparentemente se encontrava no crescimento e na paz como nação independente, a sanha de Putin causa esse caos novamente, a um povo tão sofrido.
    Mas, Lula tem a solução… que seja boa e não simples retórica de “ficar bem na fita”, como nosso Didi comediante.
    Inté!

  2. Lula tem o rei na barriga, como se diz. Ele dá impressão de acreditar sinceramente que, com o poder de sua força de persuasão, é capaz de aliviar os males do mundo. Mas o balanço de sua atuação nem sempre confirma.

    Muita gente acha que, ao término de seu segundo mandato, a fome no Brasil havia sido erradicada. Não tenho tanta certeza. O atual estado de penúria nacional é consequência do trabalho malfeito de Lula, adicionado ao desastre de Dilma. Bolsonaro completou a obra infernal.

    As patacoadas que Lula pronuncia em matéria de política estrangeira são+ consequência de sua absoluta ignorância em geopolítica. Pra piorar, ele é mal assessorado. Nos primeiros mandatos, os conselheiros eram o ressentido Aurélio “top-top” Garcia e o submisso Amorim. Este último continua na ativa. Com ‘coachs’ desse quilate, boa coisa não pode sair.

    Só conheci os Trapalhões de ouvir falar. Nos anos em que vivi no Brasil, não tinha televisão.

    Abraço.

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