Chamada do jornal O Globo, 27 fev° 2023
Ultraprocessados: não se aproxime! Por José Horta Manzano
… Fiquei intrigado e preocupado com essa chamada do jornal O Globo. Eu sabia que produtos ultraprocessados eram nocivos, mas nunca imaginei que fossem perigosos a esse ponto. Quer dizer então que basta “residir em áreas repletas desses locais” para sofrer risco aumentado de sofrer um AVC? A doença entra em nosso corpo por osmose? Barbaridade!…
Fiquei intrigado e preocupado com essa chamada do jornal O Globo. Eu sabia que produtos ultraprocessados eram nocivos, mas nunca imaginei que fossem perigosos a esse ponto. Quer dizer então que basta “residir em áreas repletas desses locais” para sofrer risco aumentado de sofrer um AVC? A doença entra em nosso corpo por osmose? Barbaridade!
Naturalmente, estou brincando. Entendi o raciocínio por trás da chamada. Quem escreveu a chamada parte do princípio que todo cidadão é como rolha em alto-mar: vive ao sabor das ondas e ao capricho dos ventos, e vai para onde for levado.
Ninguém é capaz de controlar suas pulsões. O artigo sugere que, se resido num lugar rodeado de ofertas de refeições rápidas, adeus cozinha! Aposento panelas e frigideiras e passo a me alimentar unicamente de “junk food”.
Por essa lógica, vou viver de porcariada tipo cachorro-quente, quibe, pizza e hambúrguer. Sou apresentado como criatura incapaz de decidir com a própria cabeça, pronto a me deixar subjugar pela luz das barraquinhas e o colorido das vitrines.
Com toda naturalidade, o autor da chamada enxerga a vida em sociedade como um gigantesco efeito manada: disparou um, vão todos atrás.
Se assim é o mundo moderno, me sinto deslocado.
Pare o planeta, que eu quero descer!
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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Estive ausente por um tempo curtindo um experimento. Por 6 meses decidi praticamente ‘viver’ sozinho. Minha esposa e eu temos mais de uma casa e podemos fazer. Sem empregada doméstica, sem apoio para a maior parte das coisas, decidi experimentar a vida, ainda que em sociedade, mas dela afastada, para ‘experimentar’ o que significa sair da vida de seu cotidiano, e hibernar em um mundo longe de tudo aquilo que nos cerca. Valeu a pena? Sim. Foi difícil? Muito. Qual o efeito disso tudo? Durante 6 meses fiz anotações e agora vou analisa-las.
Mas um fato se destaca entre os outros. A alimentação. Não descobri nada novo, mas o novo foi a reeducação. A reeducação alimentar. Como não sou grande cozinheiro, fui obrigado a ser seletivo. Agora que voltei “à civilização”, entrar em supermercados adentro é tarefa feita com os olhos bem abertos. Com uma capacidade muito maior de ser seletivo para ser cuidadoso.
Meu corpo agradece!
Seis meses? Parabéns pela persistência. Pessoas dispostas a repetir essa experiência não se encontram em cada esquina. Mas deve ser gratificante descobrir, à custa da própria observação, que a vida pode ser vivida de outra maneira. Saúde!