BAÍA DE GUANABARA

Lado a lado, IRIS Dena e IRIS Makran navios de guerra iranianos atracados no Rio de Janeiro

… O almirante da miniesquadra iraniana deve estar muito feliz. Afinal, embora não seja a mesma coisa que Nova York ou Rotterdam, o Rio de Janeiro é uma cidade grande, importante, belíssima e conhecida no planeta inteiro. Atracar na Baía de Guanabara não é pra qualquer plebeu…

BAÍA DE GUANABARA
Lado a lado, IRIS Dena e IRIS Makran navios de guerra iranianos atracados no Rio de Janeiro

 Dias atrás, contei a história dos dois navios de guerra iranianos que percorriam os oceanos à cata de algum porto de certa importância onde lançar âncora e pavonear-se do poderio bélico da república islâmica.

Na Europa, América do Norte, Austrália ou Japão, nem pensar – a porta está trancada. A Rússia e a China, embora mantenham algum tipo de diálogo com Teerã, preferiram que os barcos fossem se exibir em outras plagas. Países pequenos e de pouca reverberação não servem à finalidade a que a marinha iraniana se propõe.

Sobraram as potências médias. A Indonésia permitiu a atracação dos dois navios. Depois disso, o Irã solicitou autorização para entrar em algum porto da América Latina. O Chile recusou. Afim de não criar ruídos com os EUA, o governo brasileiro não quis resolver antes da volta de Lula de Washington. Os Estados Unidos pediram que o Brasil não acolhesse os navios, que não têm nada que fazer por aqui.

Aqui entra em ação uma incrustada tendência do socialismo latino-americano, há tempos incorporada pelo lulopetismo: convém rejeitar tudo o que vem dos Estados Unidos. A diretiva é clara e não deixa margem a interpretação. Apesar de estarmos em plena reconstrução da relação Brasil-EUA, esgarçada por Bolsonaro, Lula não resistiu. Preferiu deixar uzamericânu falando sozinhos. Deu autorização aos barcos.

O almirante da miniesquadra iraniana deve estar muito feliz. Afinal, embora não seja a mesma coisa que Nova York ou Rotterdam, o Rio de Janeiro é uma cidade grande, importante, belíssima e conhecida no planeta inteiro. Atracar na Baía de Guanabara não é pra qualquer plebeu.

Os navios já lançaram âncora no Rio ontem, domingo, logo de manhã cedinho. A estadia prevista é de sete dias, até sábado 4 de março. Os barcos, que tinham passado as últimas semanas feito zumbis, vagando por águas internacionais enquanto aguardavam resposta do Brasil, finalmente encontraram um porto de prestígio para atracar. Lula da Silva preferiu alfinetar Biden enquanto dava palco e holofotes à teocracia islâmica, aquela terra simpática em que mulher que não usar direito o véu obrigatório vai p’ra cadeia.

Não há de haver grandes consequências, mas é legítimo perguntar se não teria sido mais razoável alfinetar Teerã em vez de Washington.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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6 thoughts on “Baía de Guanabara. Por José Horta Manzano

  1. Caro Manzano
    Tiramos o capitão e reencontramos o “capetão”.
    O atual presidente tem falado tanta bobagem – aliás sempre foi assim, mas parece que a coisa desandou de vez – sobre tudo que causa a chamada “vergonha alheia”, onde quem fica rubro é quem ouve tanta besteira.
    Já se ofereceu para resolver o problema da guerra Rússia x Ucrânia numa mesa de bar, já atacou o presidente do nosso BC, já prometeu abrir os cofres do BNDES aos governos que o procurarem… e por aí vai.
    Como um personagem de Nelson Rodrigues em Engraçadinha oferece para apaniguados! … dinheiro há…”, enquanto libera perdigotos e, oferece R$ 18,00 de aumento no salário mínimo, como um grande feito.
    Assim, a frota iraniana é insignificante…
    Plano de governo que é bom, nada!
    É um tal de falar de problemas sociais, de fome – dos outros – chorar em público, discursando com sua fala difícil de entender sobre tudo e, acrescentando nada de lógico.
    Pena, pois ficamos eternamente amarrados ao passado, na expectativa de um futuro que se mostra cada vez mais distante.
    Inté!

    1. Tem plena razão, prezado Xará.

      A Guerra da Ucrânia é coisa muito séria e complexa, bem acima da capacidade de entendimento do Lula (e de muita gente fina).

      Assim mesmo, apesar da complexidade do assunto, o nó da questão é fácil de captar: um país soberano e, ainda por cima, potência nuclear, invade outro país soberano, numa guerra de conquista. Não é possível relativizar. Aos olhos do Direito Internacional, não há pretexto que justifique essa agressão.

      Não se pode dizer, como diz o Lula, que “os dois têm parte da culpa”. Não é assim. Não estamos falando de uma discussão de boteco. É invasão que mata gente, derruba prédios de apartamentos, bombardeia escolas e hospitais, destrói maternidades, estraçalha a infraestrutura de uma nação, deixa campos de minas que ainda vão matar gente daqui a meio século.

      Ninguém pode ficar indiferente nem em cima do muro. Ou se apoia Kiev ou se apoia Moscou. O Lula não quer (ou não consegue) entender.

      Abraço.

  2. Gostei, você sempre alfinetando o período 2019-2022. Lula já se comparou a Jesus Cristo, já foi melhor do que Getulio Vargas em realizações Agora me parece não se furtar a D. João VI: os portos brasileiros abertos a todas às nações amigas. O pouco que José Alves comentou é apenas um pedaço do pesadelo que nos espreita.

    1. Alfineto com gosto o que me parece errado nos altos círculos do poder. É verdade que o período 2019-2022 foi uma fábrica de alfinetes. O capitão nunca nos deixou na mão: todos os dias havia motivo para uma picada.

      Mas quem me conhece sabe que, nos anos anteriores a 2019, fui crítico ferrenho dos governos petistas. Pra comprovar, dê uma olhada no meu blogue [BrasildeLonge ponto com] e passeie pelos anos temeristas e petistas.

  3. “Se você acha que educação é cara, experimente a ignorância”.
    (Robert Orben). Temos dois doutores com Ph.D. . O primeiro, Luiz Inácio Lula da Silva, agora no terceiro pós-doutorado, e Jair Messias Bolsonaro, em início de um segundo pós. Por herança histórica, quiçá, sabemos oferecer os melhores cursos na área.

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