Berlinale, Zelensky e comédia romântica. Por Rui Martins
Os primeiros dias em Berlim.
A presença de Zelensky no telão e um filme de abertura fora do esperado
A Berlinale política se afirmou mais uma vez com a presença do presidente ucraniano Zelensky, via streaming no telão da abertura do Festival Internacional de Cinema de Berlim.
Zelensky comparou o clima de hoje na Europa ao da época do Muro de Berlim e convocou o cinema e os cinéfilos a tomarem posição diante da invasão da Ucrânia pela Rússia, qualificada de confronto entre a tirania e a civilização.
E fez uma comparação: onde antes estava o Muro, agora está a Berlinale se posicionando em favor da Ucrânia, que há um ano resiste ao invasor russo.
Na Abertura, a coordenadora da Berlinale, Mariette Rissenbeek, leu uma declaração: “A Berlinale e todos os cineastas declaram sua solidariedade com o povo da Ucrânia em sua luta pela independência e condenam a guerra de agressão nos termos mais fortes possíveis”.
Carlo Chatrian, o outro diretor da Berlinale, já havia declarado a Berlinale solidária com a Ucrânia.
Filme de abertura – She came to me
O filme She came to me não correspondeu às expectativas – Anne Hathaway , atriz principal
Já o mesmo brilho talvez não se possa conferir ao filme de abertura do Festival, She came to me, dirigido pela atriz e roteirista Rebecca Miller, qualificado na apresentação como comédia romântica, tem um lado chavão, desencontrado, que acaba por lhe dar um lado um tanto cafona difícil de aceitar por quem não está acostumado com esse gênero frívolo norteamericano. Se bem que uma volta do romantismo se faz notar nos outros filmes que já vimos.
As figuras do compositor anão barbudo e da capitã de navio, ninfomaníaca, não convencem. O espectador precisa fazer um esforço para entrar e aceitar o filme, mesmo se Rebecca Miller, autora também do roteiro, é alguém de renome, filha de Arthur Miller e esposa de Daniel Day Lewis. Tem gente que gostou mas tem também quem achou cafona.
She came to me não era filme em competição, mas o filme especial de abertura.
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Rui Martins – é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.