O guarda-chuva do Zé Luís. Por Arnaldo Niskier
…Era mais do que um simples ministro. Quando Carlos Lacerda quis criar a Editora Nova Fronteira, contou com o apoio do guarda-chuva do Zé Luís, assim como aconteceu com diversos filmes do Cinema Novo, como “Terra em Transe”, “Deus e o diabo na terra do sol” e “O padre e a moça”…
Ele era sobrinho querido do dono do banco, mas se impôs na administração pela sua personalidade. José Luís Magalhães Lins foi diretor do Banco Nacional, mas exerceu uma atividade de apoio à cultura que transcendeu todas as expectativas. Era mais do que um simples ministro. Quando Carlos Lacerda quis criar a Editora Nova Fronteira, contou com o apoio do guarda-chuva do Zé Luís, assim como aconteceu com diversos filmes do Cinema Novo, como “Terra em Transe”, “Deus e o diabo na terra do sol” e “O padre e a moça”. Os seus empréstimos para fins culturais eram a perder de vista. Foi assim que também atendeu a Roberto Marinho, que se tornaria seu grande amigo.
Era um tipo fechado, de pouca conversa. Isso não me impediu de saber que torcia pelo América F.C., o que também era o meu caso. Casado com a simpática Nininha Nabuco, com quem teve cinco filhos, detestava holofotes. Mas era sensível a dificuldades, como a vivida pelo craque Garrincha, que espalhava todo o seu dinheiro por diversos cantos da casa. Não sabia o que tinha. A partir de um certo momento, Zé Luís passou a tomar conta da vida financeira do grande atacante do Botafogo, e assim as coisas melhoraram.
Lembro também que ele era amigo de dois outros grandes diretores de jornal: Nascimento Brito (“Jornal do Brasil”) e Chagas Freitas (“O Dia”). Fui testemunha de algumas conversas dele com esses jornalistas. Com essa intimidade, quando ele deixou o Banco Nacional, em 1972, foi presidente da Light e do Banerj, tornando-se depois conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Aposentou-se em 1999. Morreu na semana passada, aos 93 anos de idade.
Na biografia de Zé Luís deve-se registrar não apenas a sua proteção ao Cinema Novo, mas também a ajuda a escritores, pintores e peças de teatro. Ele se orgulhava de nunca ter levado calote dessa gente, que ele considerava “muito honesta”, como foi o caso da TV Globo, nos seus primeiros anos de vida. “Foi tudo tratado com tanta seriedade que acabei me tornando amigo da família Marinho.” – disse ele numa entrevista. E nesse estilo ele incluiu a Petite Galeria, em Ipanema, também por ele beneficiada.
_______________________________
Arnaldo Niskier – Imortal. Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras. Professor, escritor, filósofo, historiador e pedagogo. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras e secretário estadual de Ciência e Tecnologia e de Educação e Cultura do Rio de Janeiro.