Líderes, influenciadores digitais e jornalistas. Por Meraldo Zisman
1. LÍDER: indivíduo que exerce influência no comportamento e no modo de pensar de uma ou mais pessoas.
2. INFLUENCIADOR DIGITAL: pessoa que por meio da produção de conteúdo online, divulgado através das redes sociais e blogs, atrai uma quantidade massiva de seguidores.
3. JORNALISTA: pessoa que, por tradição ou profissão, exerce a função de divulgar notícias em órgão de imprensa (jornal, revista, rádio, televisão, etc.).
A ação dessas pessoas faz nascer o que há de ilusório naquilo que denomino de sentimentos humanos primários, e que normalmente surgem na infância. Tais sentimentos, induzidos, quando exacerbados pelo excesso de informação repetitiva, supostamente amparada por gráficos, códigos, instruções, fluxogramas ou procedimentos, realizam uma completa lavagem cerebral. Um exemplo recente é o ocorrido em Brasília em 8 de janeiro de 2023.
Deveríamos nos lembrar de que não é necessária tanta gente para perpetrar a invasão dos prédios dos Três Poderes. Para promover arruaças bastariam umas poucas dúzias de apenados, alguns polícias à paisana e outros desocupados, desempregados, sem teto, esmoleres para conturbar, depredar, invadir e quebrar bens públicos e privados para depois (com calculado retardo) chegarem as forças de segurança para darem vez às pós-verdades.
Está evidentemente usual culpar o governo anterior por tudo de ruim que aconteceu e esquecer os avanços tecnológicos e sua influência nos acontecimentos que sempre ocorreram. E aí surge o denominado “homem-massa”, aqui significando pessoas que sempre estão à procura de uma explanação para acalentar seus mitos e que se sentem menos angustiadas quando encontram ou são acolhidas por uma turba.
Estavam esses elementos, antes, à deriva e à falta de planos próprios, passando agora, como crianças, a obedecer aos formadores de opinião, sejam eles chefes tribais ou governantes com, ou sem verdadeira autoridade.
Aquilo que denominávamos de “instinto de rebanho”, histeria coletiva causada por um surto, um ideal ou o carisma de um líder, não pode ser explicado, pois pertencemos a um espécime animal considerado social. Somos, sim, animais de hordas, sinônimo de: bando, quadrilha, malta, súcia, turma, multidão e tantas outras que, porém, têm no reino animal um guia ao qual obedecem.
O fato é que o homem não é um animal de rebanho, mas sim um animal de horda. Encarar o chefe torna-se empreendimento arriscado, mesmo porque as pessoas têm ânsia de serem hipnotizadas, imaginando voltar a uma proteção mágica pela invocação de subjetividades, principalmente pátria, sangue, família, liberdade, democracia, comunismo ou fascismo. E isso é o mais preocupante.
Concluo com uma citação do jornalista, escritor e teatrólogo Millôr Fernandes (1923-2012):“A diferença fundamental entre Direita e Esquerda é que a Direita confia – ou acredita – cegamente em tudo que lhe ensinam, e a Esquerda acredita cegamente em tudo que ensina”.
Digo mais: instituir sobre a vontade de uma multidão é alienação; a vontade de um povo é como um relâmpago que dura menos de um segundo. De uma coisa, tenho certeza, o verdadeiro jornalista é independente dos algoritmos que a sua reportagem provoca, enquanto o influenciador digital atende aos números dos seus seguidores. Mentiras, fake news, não são Jornalismo. O influenciador digital é o antípoda do verdadeiro jornalista.
Basta desta nova pandemia midiática.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
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